por Guilherme Fiuza
“Ok. Tudo bem. Que bom que o sr. não está à venda. É um ótimo começo. Parabéns”
— Bom dia, sr. candidato.
— Bom dia.
— Sr. candidato, qual é o principal ponto do seu programa de governo?
— Prezado, não estou à venda.
— Hein?!
— Isso mesmo que você ouviu. E não adianta insistir.
— Mas eu não insinuei nada. Perguntei sobre programa de governo.
— Você pergunta o que você quiser. E eu respondo o que eu quiser.
— Ok. Bom saber que posso perguntar sobre qualquer assunto.
— Fique à vontade.
— Obrigado. Continuando, então: qual será a sua estratégia para combater a corrupção?
— Prezado, não estou à venda.
— Espera aí, sr. candidato. Estou perguntando sobre combate à corrupção. Não sobre participar de corrupção.
— Eu ouvi muito bem a sua pergunta.
— Então não estou entendendo.
— Nem eu. Tudo aqui é um pouco complicado para mim.
— Como assim?
— Está vendo como é complicado? Você também não entende.
— É… Bem, continuando a entrevista: quem será o seu ministro da Economia?
— Prezado, não estou à venda.
— Olha, assim o sr. já está me ofendendo. Eu não o acusei de nada. Eu não perguntei para qual ladrão o sr. vai entregar o dinheiro do contribuinte. Só quis saber o nome de um ministro do seu governo, se é que o sr. já tem esse nome.
— Pois é. Não estou à venda.
— Ok. Tudo bem. Que bom que o sr. não está à venda. É um ótimo começo. Parabéns.
— Obrigado.
“— Acho que o sr. está confundindo Ômicron com o Macron”
— Vamos passar então para perguntas mais gerais. Depois se quiser o sr. fala do seu plano de governo.
— Ok.
— O sr. teme Ômicron?
— De jeito nenhum. Acho um ótimo presidente.
— Hein?
— Sim, tem feito uma boa gestão na França. Inclusive é contra o desmatamento na Amazônia, o que aliás eu também sou. Me identifico com ele. Nós somos também contra o preconceito e contra a infelicidade geral.
— Acho que o sr. está confundindo Ômicron com o Macron.
— Prezado, não estou à venda.
— Eu já entendi essa parte. É que a minha pergunta foi sobre a nova variante.
— Não sei o que vocês têm contra a variante. Pra mim é tudo igual: variante, chevette, fusca, brasília. Se bem que atualmente estou preferindo brasília.
— Entendi. Cada um com as suas preferências, né?
— Claro! Eu defendo a liberdade de expressão.
— E a Lava Jato?
— Fundamental. Carro tem que estar sempre limpo.
— Que carro?
— Você é confuso, hein? Não estamos falando sobre carros? Então estou dizendo que pra mim tanto faz a marca, desde que o carro esteja limpo.
— Certo. Faz sentido. Posso fazer uma última pergunta?
— Lógico. Já falei que você é livre para perguntar quanto quiser.
— Obrigado. A pergunta é a seguinte: se te prometessem poder, meios, facilidades, bajulação da imprensa, enfim, uma vida mais doce, você toparia esquecer quem você era?
— Prezado, isso é muito relativo.
Revista Oeste
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