por Carlos Alberto Sardenberg
Dizem que o juiz Sergio Moro não deveria ter levantado o sigilo da
delação de Antonio Palocci neste momento, a apenas uma semana da
votação, porque isso foi uma interferência política indevida na disputa
eleitoral — interferência obviamente contra a candidatura do PT. Mas, se
levando isso em consideração, o juiz resolvesse adiar sua decisão para
depois da eleição, isso seria o quê? Interferência política na direção
contrária, para ajudar ou ao menos não atrapalhar a campanha do PT.
Guardadas as proporções, é mais ou menos como o jornalista que tem uma
notícia cuja publicação vai interferir na eleição. Se ele adiar a
veiculação por conta disso, estará tomando partido. Dirão: mas se
publicar também estará tomando partido.
Errado. Exatamente para evitar esse tipo de dilema, e esse tipo de
participação política indireta, nossa regra de bom jornalismo é muito
clara. A notícia está pronta? Publique já.
Do mesmo modo, se o juiz já firmou sua convicção e chegou a uma decisão, então que vá em frente.
Se não fosse assim, não haveria Lava-Jato, pois tudo de que trata ali —
da apuração até a sentença —tem óbvia e enorme interferência política.
Aliás, vai por aí a defesa de muita gente apanhada pela operação. Dizem
que houve uma destruição da política, absolutamente inoportuna, e que
isso compromete a democracia.
Para ser justo, o pessoal costumava fazer a ressalva: o problema estaria
nos exageros da Lava-Jato, dos policiais, promotores e juízes. Entre
esses exageros estaria a realização de operações em momentos
inadequados, digamos, como nas proximidades das eleições.
De uns tempos para cá, entretanto, esse movimento foi esquecendo as
ressalvas. Quer dizer, passou-se a dizer que toda a Lava-Jato foi um
exagero. Logo, deve ser barrada o quanto antes.
Faz parte dessa tática centrar as críticas na periferia das questões.
Por exemplo: em vez de se discutir o conteúdo da decisão de Moro,
critica-se o momento, a suposta precipitação. Chega-se a esquecer o teor
da delação para se discutir se deveria ou não ser tornada pública.
Não por acaso, é a mesma crítica, o mesmo ataque que muitos jornalistas e
veículos estão sofrendo. Os que são de algum modo atingidos pela
notícia não se defendem de seu teor, não tratam de apontar equívocos,
mas acusam supostos interesses ocultos, conspirações de secretos
sistemas.
Não é uma tática nova — desclassificar o emissor da informação. Por isso
mesmo, nós, jornalistas, sabemos identificá-la de longe. Dizem que a
gente só publica algo ou deixa de publicar porque tem um interesse
oculto. A resposta é: pois apontem onde está o erro da notícia, onde
está a fake news.
Deveriam todos saber que o maior temor dos jornalistas sérios é passar
uma informação errada. Até por razões econômicas. Os jornalistas e os
veículos vivem de prestar boa informação. Se falham nisso, vai-se a
credibilidade e, claro, o honesto ganha-pão.
Do mesmo modo com a Lava-Jato. Ela teria fracassado não por exageros,
mas por uma investigação malfeita e processos atropelados. Não foi o que
se passou. O exagero foi da corrupção. Os caras de Curitiba iniciaram
um processo que apanhou o maior escândalo corporativo e político do
mundo contemporâneo.
Assim como a imprensa séria e independente tornou-se cada vez mais atrevida com as autoridades.
Ainda bem.
Dólar Haddad
Pessoal surpreendido com a queda do dólar depois das pesquisas de segunda e terça-feira. Era previsível.
O dólar a R$ 4,15 refletia o temor com a forte ascensão de Haddad e a
possibilidade, por menor que fosse, que o PT e a nova matriz voltassem
ao governo.
Afastada essa possibilidade, o dólar cai, a bolsa sobe. Isso é para o
momento. E é uma simplificação no limite, pois para que o movimento
fizesse sentido a médio prazo seria preciso que o outro lado, Bolsonaro,
representasse um claro programa reformista. O que não é o caso.
Mas o do PT é declaradamente antirreformista. Para o mercado, serve. Por ora.
O Globo
extraídaderota2014blogspot
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