ROBERTO RODRIGUES ESTADÃO
Frequentemente se diz que o governo federal não consegue se comunicar direito com a sociedade para convencê-la da importância da reforma previdenciária para reduzir o nosso assombroso e crescente déficit público. Pode ser verdade, ou pelo menos meia verdade. Mas também parece claro que os governos estaduais e municipais, além do federal, não se afinam na direção de uma reforma tributária que simplifique/reduza a carga de impostos e aumente a base pagante.
E por fim, a chamada (por alguns) de a “mãe de todas as reformas”, a política, não sai do lugar, salvo pedacinhos menores.
Mas nada avança nessas questões super relevantes por falta de comunicação do governo? É mesmo? Ou será que interesses imediatos – de alguns parlamentares e partidos – e questões ideológicas são os verdadeiros responsáveis pela surdez em relação a elas? E quais interesses seriam esses? Ora, a reeleição, evidentemente. Aquilo que representar perda de votos nas eleições de 2018 não será considerado prioridade para essa porção de “representantes” da população. Eis, infelizmente, a verdade. Claro que o governo, fragilizado por todo tipo de ataques (legítimos ou não) carece de liderança suficiente para conseguir o apoio da maioria do Congresso para fazer as reformas. E todos aqueles que só se preocupam com a reeleição se escondem nessa incapacidade do governo para não cuidar do que realmente interessa ao País. Felizmente, não é a maioria dos parlamentares, mas essa turma da Lei de Gerson é suficiente para impedir as reformas.
Como sair desse impasse? Parece mais ou menos consensual que a solução virá após as eleições de 2018. Mesmo com as notícias positivas – queda da inflação e das taxas de juros, aumento do consumo das famílias, teto de gastos públicos, redução do desemprego e a reforma trabalhista – obtidas pelo Executivo, e algumas com apoio do Legislativo, falta coragem e patriotismo para enfrentar gargalos históricos.
Pois bem, se as eleições serão o caminho para fazer as reformas, quem irá liderar isso?
Analistas entendidos em política dizem que o cenário está bastante “fragmentado”: teremos muitos candidatos à Presidência da República. E também dizem que a sociedade – esta mesma que não se sente representada adequadamente – preferiria candidatos novos, não identificados com a “velha política”. Mas quem seriam eles/elas?
Precisamos de um Macri? Ele restaurou a credibilidade nas estatísticas nacionais, eliminou controles e regras que freavam a capacidade produtiva interna, reduziu a carga tributária e as restrições à compra de dólares. Abriu mais a economia e optou por uma redução gradual do déficit fiscal e da inflação. Está mudando a cara da Argentina em busca de investidores, e cumprindo sua mensagem chave: “Cambiemos”.
Ou de um Macron, que está propondo reformas duras em um país acomodado por décadas? Prometeu tolerância zero contra o crime e o terrorismo, quer reduzir impostos sobre as empresas em busca de maior competitividade, vai diminuir as despesas públicas e já propôs uma impopular reforma trabalhista, tentando com isso flexibilizar o mercado de trabalho e diminuir o desemprego.
Ou de uma Angela Merkel, que com liderança baseada no equilíbrio vem mantendo a Alemanha à frente da economia europeia?
Certamente de nenhum dos três, até porque somos um País multicultural e com desigualdades sociais enormes oriundas de uma deficiente educação básica, entre outros fatores.
Talvez precisemos de um misto entre eles, com um tempero tupiniquim. Que tal um “Macrin”, misto de Macri e Macron? Ou ainda mais, um “Mercrin”, agregando o centrismo solidário de Merkel, que acaba de conseguir vitória apertada nas eleições alemãs?
Seja quem for, o fundamental é um projeto de país que incorpore as reformas citadas, e insira o Brasil com vigor no cenário internacional. Segurança alimentar global é uma ótima receita para essa inserção.
* EX-MINISTRO DA AGRICULTURA E COORDENADOR DO CENTRO DE AGRONEGÓCIOS DA FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS
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