Visitando Miriam Leitão
Marco Antonio Esteves Balbi
Eu também era menino em cidade do interior quando ouvi no rádio a notícia sobre a fuga de Jango do Brasil. Fiquei muito satisfeito. Meu pai vivia assombrado pelo fantasma do desemprego e todos da família nos revezávamos nas filas para comprar os produtos da cesta básica de alimentos. Tudo isto virou passado.
Estava se iniciando um tempo muito bom para mim. Estudei, concluí o ensino fundamental e me graduei na faculdade, mesmo que para isso, assim como provavelmente com você, tivesse que ir morar na cidade grande. Do mesmo modo como não me envolvi com a federação de estudantes secundaristas na minha cidade, deixei de lado a turma do diretório da faculdade. Afinal, só queriam era fazer política, não é verdade? Com você parece que foi diferente você chegou a pertencer a um daqueles grupos que pregavam o que mesmo? Vocês queriam mudar o que mesmo?
Mal me formei fui trabalhar, conheci minha mulher, nos casamos, tivemos nossos filhos e batalhamos por construir uma família. Éramos felizes, Míriam! Nossos amigos eram felizes! Nenhum jovem ou adulto jovem estava encurralado, Míriam! Só aqueles que procuraram organizações fora da lei, ou por ardor da própria juventude, ou catequizados por adultos espertos, aproveitadores, que se valeram da impulsividade e entusiasmo característicos desta fase da vida.
Não há porque deixar de comemorar o que aconteceu há 49 anos, Míriam! Criaram uma comissão espúria que só vai ouvir um dos contendores! Sim, Míriam, contendores, porque os jovens retratados no parágrafo anterior partiram para uma guerra e quem tinha o poder do Estado foi para a luta. Nem tinham a experiência para fazê-lo, assim a adquiriram combatendo. A luta armada deflagrada pelos jovens orientados por marmanjos desajuizados não deixou outra opção. A não ser que entregassem o país, transformando-a numa grande Cuba!
Posso anexar aqui uma lista semelhante a sua de pessoas vitimadas pelos atos terroristas desencadeados pelos jovens encurralados. E não me venha dizer que já foram processados e julgados, que não é verdade. Você sabe muito bem disto. Exemplo, o assassino de Edson Luiz, flanelinha no Calabouço, convenientemente transformado em estudante. Atribuíram a morte dele às forças policiais, quando na verdade o assassino dele veio a falecer no ano passado sem nunca ter sido sequer processado. Isto sem contar as pessoas que morreram apenas pelo fato de estarem no lugar errado na hora errada, vítimas do terrorismo indiscriminado. Ou os justiçamentos. Há farta literatura a respeito.
Aliás, você que tanto elogia o gênero, agora não é mais politicamente correto falar sexo, sei lá, prefiro continuar chamando de sexo feminino, disse que discutiram o assunto numa reunião da Comissão da Verdade. Julgaram Prestes, quando ele condenou Elza à morte? Você sabia que ela era menor de idade quando foi executada, não sabia? Bom, o partido do Prestes não mudou muito, não é mesmo, afinal abriga um espancador de mulheres em seus quadros!
Enquanto a Panair pagou todas as dívidas trabalhistas depois que faliu por perseguição política(?), sorte dos seus funcionários, a ditadura obrigou a massa falida a fazê-lo(?), os defenestrados da VARIG amargam até hoje na espera dos seus direitos. Bom, mas esta história você conhece bem e sabe que foi a ditadura petista companheira que beneficiou outra empresa, não é verdade? Dona Rosa está preocupada?
Miriam! Você venceu, apesar da ditadura pelo que eu entendi, que só teria lhe prejudicado, foi isso? Surpreendente, não é verdade? Depreendo que com muitas outras pessoas, em situação semelhante à sua, aconteceu o mesmo! Eu também venci, mas não me envolvi em nada e como sempre fui do bem, não tenho rancor algum. Posso contar tudo para os meus netos, também sou avô, sem problemas! Acho que você deve fazer o mesmo! E curar o seu amargor! Afinal, o Brasil não se transformou no que você pretendia! Pelo contrário, ficou um país muito melhor, ainda com problemas, mas muito melhor. Nossos netos vão viver num país melhor ainda!
Como última sugestão: deixem os cadáveres de JK e Jango em paz!
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Sobre o mesmo assunto
Mirian Leitão é sábia, ponderada, e vai, sempre com ímpeto, em busca da verdade, que escancara para todos. Se o assunto, entretanto, é a Revolução de 64, Mirian mostra-se rancorosa, ácida e vingativa. Supondo que algum parente próximo de Mírian tenha sofrido injustiças e constrangimentos durante o governo militar, vou ao google e surpreendo-me. Surge, inicialmente, o nome de outra repórter, Mirian Macedo, que declara em seu blog que as duas Mírians, ambas repórteres, foram presas, e sem terem sofrido qualquer agressão física, declararam, após libertadas, que foram barbaramente torturadas. A blogueira só agora reviu a sua história; a Mirian Leitão, partícipe da AP, tendo apoiado os guerrilheiros do Araguaia, além de não ter feito a sua revisão pública, omite estes fatos passados, muito importantes para que avaliemos o valor dos seus escritos. É com estes atributos que quer pôr os militares no banco dos réus, quando tem uma história pessoal a expôr, mas não quer fazê-lo porque será desmascarada. Colegas consentem em protegê-la, por omissão, mas não serão publicamente solidários se revelados estes fatos. De algum artigo recente ficou-me na memória que ética é o que se faz quando todos estão vendo e caráter o que fazemos quando estamos sós. Hoje, na Folha de São Paulo, Ferreira Gullar, revela cruamente os seus erros de avaliação do passado, embora continue crítico do regime militar. Meus respeitos ao poeta.
Ricardo M. Santos
Rua Mal Floriano 53/201 Canela, Salvador-BA 071-33369910
P.S. Sei que não há qualquer chance de publicação, ainda que a Mirian não seja sua articulista, mas talvez sirva para reflexão de todos da redação.
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