por Deonísio da Silva A expressão designa problema de difícil solução
“O povo finge que manda, os governantes fingem que obedecem, orquestra na qual os músicos regem o maestro”. “Desconfio que nenhum de nós sabe sequer os nomes dos eleitos no último pleito”.
Estas frases abrem Democracia, um mito (Editora Ibis Juris), livro póstumo do juiz aposentado João Uchôa Cavalcanti Neto, criador da Universidade Estácio de Sá. Foi publicado em 2016 por iniciativa da professora Monique Uchôa Cavalcanti de Vasconcelos, sua filha. O autor se referia aos parlamentares: “São eles que ditam todas as leis em vigor”.
“Dr. João”, como era mais conhecido o fundador, costumava reiterar: “Ninguém é insubstituível; se fosse, ninguém morria”. O livro foi publicado em 2016, ano que não terminou como queria a então presidente Dilma Rousseff, deposta por processo de impeachment em 31 de agosto.
Essas lembranças me vieram à mente na posse do ministro Alexandre de Moraes, na terça-feira passada, dia 16. Nunca na história deste país houve tantos ex-presidentes da República ainda vivos e capazes de pôr cartas na mesa. Estavam no mesmo recinto o presidente Jair Bolsonaro e quatro ex-presidentes. Seriam seis, mas os dois Fernandos, Fernando Collor e Fernando Henrique Cardoso, não compareceram.
Deram o ar de sua graça José Sarney, Michel Temer, Lula e Dilma, que teria ido com a condição de não ter seu assento ao lado de seu outrora vice, cuja companhia certamente foi entretanto muito boa quando indispensável para obter os votos que a elegeram para o primeiro mandato, concluído, e para o segundo, que não concluiu.
Todos os ex-presidentes e o atual também tiveram que desatar nós górdios durante os respectivos mandatos.
A expressão” nó górdio” designa problema de difícil solução. É dos tempos de Alexandre, o Grande (Século IV a.C.), senhor de um império que incluía quase o mundo inteiro. De acordo com a lenda, quem desatasse o nó que atava a canga ao cabeçalho do carro feito por um camponês frígio chamado Górdio, dominaria o Oriente. O carro estava no templo de Zeus, na Frígia, região onde hoje está a Turquia. E Górdio pusera o carro ali para jamais esquecer seu passado humilde: ele tinha sido agricultor antes de tornar-se rei.
Do nó, feito com perfeição, não se viam as pontas. Alexandre tentou desamarrá-lo e, não conseguindo, cortou-o com a espada. Desde então este gesto tem servido de metáfora para designar ações corajosas com o fim de resolver problemas.
Qual é o nó górdio do presidente da República com a Constituição que temos desde 1988? É uma boa questão, não é? Respondam para a Oeste. Mas, diferentemente de votar, não é obrigatório.
Revista Oeste
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