RENATO RIELA
O debate da Band durou três horas (terminou perto da meia-noite) e tem hoje ampla repercussão, mas precisa ser interpretado.
O candidato Lula, cercado por amplo complô dos que manipulam a opinião pública, consegue impor narrativas duvidosas – como sempre.
Ele carimba, em monólogo e sob aplausos, que o Brasil vive situação social dramática (pior do que a Ucrânia).
O velho petista reafirma a versão de que existem 33,1 milhões de brasileiros com fome. Afirma isso sem fonte oficial que confirme este dado.
Nem IBGE, nem Ipea, nem qualquer instituto isento chega a esta conclusão.
Lula afirmou também, sem contestação, que foi absolvido nas esferas mais poderosas da Justiça – e até na ONU. Absolvido!
Não houve, da parte dos cinco concorrentes, contestação, mas na verdade não aconteceu absolvição, nem julgamento de mérito. Ocorreu a injustificável suspensão dos processos pelo Supremo, numa ação de parceiros políticos antigos.
O candidato Presidente Bolsonaro, acuado por cinco rivais, optou por discursar para o seu próprio público cativo, que lhe garante posição na eleição.
Buscou demonstrar que a economia está reagindo, em diversos aspectos, como PIB, desemprego, agro etc.
Bolsonaro acabou sendo massacrado, quando se irritou com pergunta da jornalista de oposição Vera Magalhães (TV Cultura). Sem novidade, diagnosticou ela como sendo tendenciosa.
Essa questão despertou revolta esperta da dupla Simone e Soraya (nada a ver com a linda Simaria). Elas denunciaram Bolsonaro como misógino, nas suas participações, e deram mote para a manchete de hoje do Correio Braziliense.
Misogenia virou termo popular.
Ciro Gomes, por sua vez, reafirma a velha proposta de resgatar 66 milhões de brasileiros endividados. Bla-bla-bla!
A candidata Soraya afirmou que se elegeu senadora sem usar o Fundo Eleitoral em 2018. Milagre! Diz que gastou apenas R$ 80 mil na campanha.
Minutos depois, as redes sociais estavam repletas de peças de propaganda em que Soraya se apresentava como “a candidata do Bolsonaro”. Ela aparece, feliz, em fotos abraçada com o então candidato capitão.
Assim, fica fácil se eleger sem gastar. Parece aquela outra: a Joyce. Na verdade, lembra até o BolsoDória!
Soraya passou o debate inteiro defendendo sua proposta de imposto único, que pretende unificar 11 impostos brasileiros.
Há 30 anos se discute isso – e ninguém sabe se a ideia presta ou não.
Simone Tebet fez forte contraponto contra Bolsonaro. Acabou usada por Lula para falar sobre a CPI da Covid. Com veemência, disse que houve corrupção na compra de vacinas.
Nesse ponto, Bolsonaro pôde contestar. Lembrou que nenhuma das vacinas apuradas pela CPI foi comprada – nem paga.
Seria o primeiro caso de corrupção sem grana.
Lula apresentou muitos números sobre o seu antigo governo, que seriam maravilhosos e inesquecíveis.
Citou tantas conquistas, em tal quantidade, que ninguém tinha dados para contestar.
Certamente, nos próximos dias, essas questões lulistas serão apuradas, mostrando a situação real, mas não na extrema imprensa, claro.
O discurso do Lula é sempre dirigido aos pobres – e impressiona. Deu o tom no debate.
Vale lembrar, no entanto, o que ocorreu na posse do seu primeiro governo, em 2003. Eu estava lá, como diretor do Senado.
Naquela ocasião, fiquei entusiasmado ao ver Lula afirmar que a prioridade nos seus quatro anos de mandato (depois oito) seria o programa Fome Zero.
Meses depois, nada aconteceu, e os petistas explicavam, com certo cinismo : “O Brasil tem mais obesos do que famintos”.
A assustadora fome volta agora. É conveniente! Será que teremos o Fome Zero Dois?
Enquanto isso, no encerramento do debate, Bolsonaro demonstrou otimismo. Na verdade, fez discurso se dirigindo a quem tem melhor entendimento sobre administração e economia.
Ele vai se poupar para o segundo turno, onde estará cara-a-cara com Lula.
Terá amplo tempo de respostas, para apontar possíveis e impossíveis mentiras do ex-presidiário.
PUBLICADAEMhttps://doplenario.com.br/leitura-aguda-do-debate/
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