Jornalista Andrade Junior

domingo, 28 de agosto de 2022

Lula e suas 'mancadas do bem',

 por SĂ­lvio Navarro


Discursos do ex-presidente candidato viram dor de cabeça para a esquerda e forçam o consórcio de imprensa a maquiar manchetes


No Ășltimo sĂĄbado, 20, os organizadores da campanha de Lula Ă  PresidĂȘncia arriscaram mais uma vez um gesto que tem tirado o sono dos seus aliados: entregar um microfone nas mĂŁos do petista. O evento reuniu 4 mil pessoas no Vale do AnhangabaĂș, no centro de SĂŁo Paulo. É possĂ­vel notar a apreensĂŁo no semblante da plateia, como tem ocorrido quando ele pede para discursar. As falas, mais uma vez, caĂ­ram muito mal.

“Quer bater em mulher? VĂĄ bater em outro lugar, mas nĂŁo dentro da sua casa”, disse. “Quando quero conversar com Deus, nĂŁo preciso de padres ou de pastores. É assim que a gente tem que fazer para nĂŁo escutar mentiras.”

O palavrĂłrio do fim de semana se soma a uma verdadeira sucessĂŁo de barbeiragens que Lula tem cometido nos Ășltimos meses. A afirmação de que Jair Bolsonaro “nĂŁo gosta de gente, sĂł gosta de policial”, dita no fim de abril, ainda nĂŁo foi contornada com a categoria. A frase ainda azedou o clima da comemoração do 1° de Maio, preparada pela CUT (Central Única dos Trabalhadores), para o dia seguinte. Lula teve de abrir a festa pedindo desculpas.

No mesmo dia, atĂ© o escritor Paulo Coelho, um dos cabos eleitorais do petista na lista de famosos, se manifestou: “Se Lula continuar com essa incontinĂȘncia verbal. E se nĂŁo investir em comunidades sociais de maneira inteligente e profissional, vai permitir que o atual inquilino do Planalto tenha sĂ©rias chances de reeleição”, escreveu no Twitter.

Na Ășltima semana, foram publicadas dezenas de notas em colunas do consĂłrcio da imprensa sobre os “deslizes” do petista. A avaliação dos aliados Ă© que Lula “nĂŁo tem mais filtro”. Os comĂ­cios tĂȘm sido selecionados a dedo e sĂŁo cada vez mais raros. Oficialmente, a campanha informa que Lula tem poupado a voz.

A fala desastrosa sobre agressĂŁo Ă s mulheres que incendiou as redes sociais no fim de semana foi dita no mĂȘs em que hĂĄ uma campanha do governo Bolsonaro em curso sobre os 16 anos da Lei Maria da Penha. A ministra da Mulher, Cristiane Britto, tem participado de rodadas de entrevistas no rĂĄdio e na TV para falar sobre novas ferramentas para o registro de denĂșncias on-line criadas na atual gestĂŁo.

A bancada feminina tambĂ©m tem se queixado da frequĂȘncia com a qual ele se refere Ă  virilidade, aos 76 anos. “Estou com tesĂŁo de 20”, costuma dizer publicamente. A avaliação delas Ă© que a expressĂŁo soa como machista.

Outro ponto delicado Ă© a defesa do aborto. A mensagem inicial, que agradava Ă  militĂąncia, era assim: “Aqui no Brasil, a mulher nĂŁo faz o aborto porque Ă© proibido, quando na verdade deveria ser transformado numa questĂŁo de saĂșde pĂșblica e todo mundo ter direito e nĂŁo ter vergonha”.

A retĂłrica causou estrago no eleitorado evangĂ©lico. Precisou ser substituĂ­da Ă s pressas por essa versĂŁo na carta de intençÔes de governo: “O Estado deve coordenar uma polĂ­tica pĂșblica de cuidados e assegurar Ă s mulheres o exercĂ­cio de seus direitos sexuais e reprodutivos, polĂ­ticas essenciais para a construção de uma sociedade mais igual”.

As muitas formas de fechar uma Igreja

De todas as mancadas, o que mais preocupa o PT atualmente Ă© o vaivĂ©m com o eleitorado evangĂ©lico. As igrejas apoiam majoritariamente a reeleição de Bolsonaro. Nesse segmento do eleitorado, a principal figura Ă© a primeira-dama, Michelle, estrela da campanha deste ano. Pastores tambĂ©m estĂŁo bastante ativos nas redes sociais, o que irrita a esquerda. Mas, ao levar essa insatisfação para o palanque, Lula aumentou o incĂȘndio.

“Eu nĂŁo sou candidato de uma facção religiosa. Sou candidato do povo brasileiro” (Minas Gerais, 17 de agosto)

Os partidos que formam a coligação com o PT pediram à Justiça Eleitoral nesta semana a retirada de postagens em redes sociais que vinculem a esquerda ao fechamento de igrejas protestantes.

Os alvos são deputados ligados a igrejas, especialmente Marco Feliciano (PL-SP), que é pastor da Assembleia de Deus Ministério Catedral do Avivamento.

“O deputado vem proferindo publicamente falas desinformadoras a respeito das consequĂȘncias para os fiĂ©is da religiĂŁo evangĂ©lica caso o Partido dos Trabalhadores vença a eleição presidencial (…) ao propagar as falas, sem apresentar qualquer embasamento ou fundamento, trazendo ainda dados que nĂŁo conferem com os oficiais, fere a imagem e a honra do partido.”

Feliciano respondeu em entrevistas. “Reitero firmemente que tenho muito receio que um governo encabeçado por Lula persiga os evangĂ©licos. A base sĂŁo inĂșmeras declaraçÔes pĂșblicas do ex-presidiĂĄrio”, disse. “Existem muitas formas de fechar uma Igreja. Uma delas Ă© calando os pastores ou obrigando religiosos a terem condutas antibĂ­blicas. A igreja fisicamente estarĂĄ aberta, mas na prĂĄtica estarĂĄ fechada.”

Uma das cartadas usadas pelos adversĂĄrios de Lula Ă© mostrar que Ă© aliado do ditador Daniel Ortega, que fechou templos na NicarĂĄgua. “O amigo de Lula anda prendendo padres e fechando igrejas”, disse o senador FlĂĄvio Bolsonaro (PL-RJ), filho do presidente. NicarĂĄgua, aliĂĄs, era um dos nomes que Bolsonaro escreveu na palma da mĂŁo durante a entrevista ao Jornal Nacional, da Rede Globo.

Uns bons drinques

Na segunda-feira 22, Lula novamente provocou ruídos, dessa vez com as Forças Armadas e com diplomatas. Ele participava do lançamento do livro do seu fotógrafo particular, Ricardo Stuckert, que o acompanha hå duas décadas.

“O Itamaraty serĂĄ aquilo que o governo decidir o que ele seja”, afirmou. “Como as Forças Armadas serĂŁo, como todas as instituiçÔes do Estado serĂŁo, aquilo que o governo quiser que sejam”

Na sequĂȘncia, esticou mais a corda em relação ao Itamaraty. “Quem define Ă© o Estado e Ă© atravĂ©s de polĂ­ticas do governo que o Itamaraty pode agir mais ou agir menos”, disse, ao afirmar que hĂĄ excesso de conservadorismo na chancelaria. “Se vocĂȘ tem um governo que nĂŁo define que polĂ­tica vocĂȘ quer, que nĂŁo te dĂĄ orientação, Ă© muito mais fĂĄcil ficar na embaixada servindo de drinque ou ir Ă  embaixada dos outros tomar drinque”.

NĂŁo bastasse a sucessĂŁo de frases problemĂĄticas, o petista ainda tem de conviver com a patrulha da cartilha politicamente correta da esquerda. Uma reportagem da Folha de S.Paulo publicada nesta semana lista o que Ă© tratado como “escorregĂ”es”. O jornal cita mençÔes Ă  criação do “MinistĂ©rio do Índio e da Índia” — diz que o correto seria “dos povos indĂ­genas” — e do termo “escravo” quando se tratar de causa racial — deveria ser substituĂ­do por “escravizado”.

Bater em mulher

HĂĄ ainda pressĂ”es que beiram o ridĂ­culo, como a que tenta convencer o petista a ceder Ă  linguagem neutra — “todes” — e parar de contar piadas sobre nordestinos. Pernambucano, Lula usa essas piadas em referĂȘncia prĂłpria. AtĂ© o consumo de carne, como a tradicional frase que ele repete — “Os pobres vĂŁo poder comer picanha” —, virou problema com os vegetarianos.

Paralelamente, cabe ao consĂłrcio de imprensa tentar minimizar o estrago. Se de um lado as frases de Jair Bolsonaro sĂŁo consideradas “mĂĄs intençÔes”, as de Lula sĂŁo tratadas como “deslizes”, “gafes” e “escorregĂ”es”. É possĂ­vel prever, por exemplo, como a fala sobre “bater em mulher” seria publicada se partisse de Bolsonaro. O site do PT mantĂ©m um arquivo com uma cronologia do que diz configurarem atitudes misĂłginas e homofĂłbicas do presidente. Sobre a recente fala de Lula, contudo, nĂŁo publicou uma linha.

Fato Ă© que restam pouco mais de 30 dias para o primeiro turno das eleiçÔes. É uma corrida curta. Se Lula continuar falando de improviso, atĂ© os institutos de pesquisa vĂŁo acabar desistindo dele atĂ© outubro.

Foto: Reprodução/Folha de S.Paulo
Foto: Reprodução/Metrópoles
Foto: Reprodução/Globo
Foto: Reprodução/Site Oficial PT
Foto: Reprodução/Universa/UOL
Foto: Reprodução/UOL


Revista Oeste














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