Jornalista Andrade Junior

sábado, 27 de agosto de 2022

O novo ataque das terríveis ‘mudanças climáticas’,

 por Ricardo Felício Alarmistas da 'seca' na Europa esqueceram, propositalmente, de alguns pontos muito importantes


A região norte da Europa, como acompanhamos, passa pelo seu período de verão, já caminhando para o outono. Foi justamente nesta ocasião que observamos as tradicionais “ondas de calor”, em que as temperaturas do ar em superfície podem atingir marcas mais altas, justamente pela ausência de nuvens. Se não temos nuvens, também não teremos chuvas neste período, e isso vai refletir no fluxo da vazão dos seus principais rios, em especial, em que ponto nos encontrarmos em relação a sua nascente ou foz. De fato, os rios podem ser carregados por águas provenientes de chuvas, ou de degelo, ou de ambos, e toda essa carga será recebida dentro de uma estrutura morfológica denominada de bacia hidrográfica.

Recentemente, tivemos um novo ataque das terríveis “mudanças climáticas” no noroeste da Europa, onde algumas marcas seculares, elaboradas por antepassados nas margens rochosas dos rios Elba e Reno, as quais datam desde 1516, demonstraram níveis “alarmantes” de vazantes desses mesmos rios. Tais marcas são conhecidas pela alcunha de “Pedras de Fome”, pois fazem alusão dos baixos níveis de vazão dos rios aos períodos de pouca produtividade agrícola, tendo em vista as tecnologias da época e a maior dependência das condições naturais.

O Rio Elba tem 1,1 mil quilômetros (km) de extensão e drena uma bacia hidrográfica de cerca de 90 mil quilômetros quadrados (km2) de superfície (a bacia brasileira do Rio Iguaçu tem quase 70mil km2). Sua nascente se localiza na Cordilheira dos Sudetos, fronteira entre a Polônia e a República Tcheca, permeando a região da Boêmia, para o sudoeste e depois toma o sentido definitivo para noroeste, passando pela Saxônia e pela planície setentrional alemã, desembocando no Mar do Norte, próximo de Cuxhaven. Já o Rio Reno atravessa seis países europeus, percorrendo 1,3 mil km de extensão e drena uma bacia de 220 mil km2. O rio possui componentes tributários de lago e degelo, ambos dos Alpes suíços, sendo o Vorderrhein, do Lago Toma (maciço de São Gotardo, a 2,3 mil metros de altitude), e o Hinterrhein, das geleiras a oeste do passo de San Bernardino, com 2,3 mil metros de elevação. Bem no início, demarca fronteiras para Suíça, Áustria, Liechtenstein. Depois segue para o norte, dividindo a França e a Alemanha, onde verte para o noroeste, cruzando o território alemão até a Holanda, para finalmente desaguar no Mar do Norte, em meio aos deltas dos rios Mosa e Escalda.

Nos trajetos descritos aparecem diversos “sítios” que abrigam as “Pedras de Fome”, as quais possuem registros de algumas das maiores baixas desde pelo menos 1516. Os “sítios” se concentram na região de Constança e Bacharact (Reno) e Dresden e Magdeburgo (Elba). Tais registros são associados aos períodos de estiagens mais severas que, na época de sua história, refletiram na baixa produção agrícola, gerando escassez de alimentos e fome generalizada pela baixa disponibilidade de água.

Contudo, ao que parece, os alarmistas esqueceram, propositalmente, de alguns pontos muito importantes. O primeiro deles é definido como “Ano Hidrológico”. Cada região do planeta possui a sua assinatura de períodos de chuvas e estiagens, sendo este um fenômeno completamente cíclico, variando muito pouco de ano para ano, no seu início ou no seu final, mas sempre preservando sua estrutura básica. Para a região citada, o Ano Hidrológico apresenta um período de chuvas relativamente mais alto durante os meses de fevereiro a abril, além da neve precipitada entre dezembro e janeiro, as quais também contribuem para a carga das bacias. Em geral, a partir de junho, as chuvas diminuem, e a região entra no seu período de estiagem, que culmina nos meses de agosto e setembro. Este período normal de estiagem é confundido com seca, fenômeno climático completamente diferente, pois envolve outros conceitos, bem fundamentados em Nairóbi, nos anos de 1970, e que usam espaçamento temporal muito mais elevado (para além de dois anos) em área específica demarcada. Confusão alarmista semelhante foi difundida pela mídia, aqui no Brasil, no período de estiagem do Rio Iguaçu, em 2021. Em uma rápida observação nos dados, verificou-se facilmente que suas vazões estiveram bem mais abaixo em várias outras ocasiões (vide vídeo a partir de 1h03min neste link).

Durante os períodos de estiagem, a vazão do rio é mais baixa conforme nos dirigimos à montante, ou seja, em sentido a sua nascente, pois se trata da área onde o rio depende muito mais das águas da própria nascente do que das contribuições da sua bacia hidrográfica como um todo. Dessa forma, se quiséssemos verificar a “severidade” dos registros nas “Pedras de Fome”, seria muito interessante observar os “sítios” mais próximos da nascente. Assim sendo, podemos analisar os dados coletados das “Pedras de Fome” em Decin, na República Tcheca. O pesquisador Elleder e outros, em 2019, levantaram as informações de baixas de 1616 até 2015, no Rio Elba, no referido “sítio”. Os dados que puderam ser auferidos chegaram até cem  anos antes, em 1516, em que o rio registrou cerca de 120 centímetros (cm) de altura em relação ao ponto zero, na cidade de Decin, mas a concentração maior de registros fidedignos parte de 1706, em que podemos observar uma média de oito registros de baixas por século, ou seja, com cerca de um quarto do século 21 percorrido, temos somente duas ocorrências, o que indica que está tudo dentro da normalidade. Dos registros realizados, de 1516 até 2015, temos a marca recorde em 1947, com apenas 68 cm, seguido por 1934, com 73 cm, e 2015, com 86 cm. Isto não descarta quaisquer baixas maiores anteriores e indica que alarmismos climáticos propagados atualmente não têm nenhum embasamento científico.

Um segundo ponto interessante é que, segundo as informações da EEA (Europe Environment Agency), agraciada pelo IPCC, a duração das estiagens diminuiu de quatro para cerca de dois meses na referida região, desde 1950 até 1977, havendo anos com algumas particularidades, como o atual, mas estabilizando-se ao redor mesmo de dois meses. A curiosidade é que o IPCC, além de reconhecer o fato de que as estiagens ficaram menores, faz os seus cenários apocalípticos mais conservadores mostrarem apenas a continuidade do status atual e em seus cenários mais “perturbadores”, uma elevação para cerca de três meses de estiagem. Em outras palavras, a própria ação natural já demonstrou, recentemente, ser maior que a suposta e fantasiosa ação do homem sobre o clima, indicando claramente que “medidas de contenção climática”, dentro desta hipótese, de nada resultariam para o caso.

Para terminar, um terceiro ponto que temos de ressaltar é que as tecnologias e os conhecimentos contemporâneos nos livraram de muitas das ações agonizantes provocadas pelas intempéries do passado. Represas, irrigação, obtenção de água subterrânea, gestão de recursos hídricos, entre outros, nos propiciam passar por situações semelhantes com certa eficiência e quando os casos mais sinistros ocorrem, em geral, estão relacionados à falta de inteligência em um desses pontos, atribuídos à má administração, à politicagem, a discursos, corrupção e a uma gama enorme de outras condutas deploráveis, centenas dessas vistas no nosso próprio país. Dessa forma, as mesmas mensagens de alerta dos anos de 1600, por exemplo, servem mais para nos referenciar historicamente dos eventos ocorridos do que de fato ajudar-nos em prevenções, pelo menos, esta seria a teoria, tendo em vista que, hoje em dia, tais fenômenos servem de bode expiatório para que medidas sejam adotadas, ou não, conforme o caso. Como resultado, observamos que, em vez de ajudarem as pessoas a prosperar, preferem difundir medo e terror, ou impor algum novo procedimento, sempre apoiado por leis sem sentido que visam a trazer mais problemas do que resolvê-los.

Para quem quiser entender mais sobre as questões da hipótese da “mudança de clima”, aproveite a promoção para os leitores da Revista Oeste e assista ao material com mais de seis horas no link


*Ricardo Felício é professor de geografia da Universidade de São Paulo e climatologista.

Revista Oeste
















publicadaemhttp://rota2014.blogspot.com/2022/08/o-novo-ataque-das-terriveis-mudancas.html

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