Wesley Oliveira, Gazeta do Povo
Liderada pelo ex-presidente Michel Temer e pelo presidente nacional do MDB, Baleia Rossi, a ala do partido contrária a uma recomposição com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lançou nesta quarta-feira (25) um manifesto para tentar encampar o discurso da chamada terceira via nas eleições de 2022. Elaborado pela Fundação Ulysses Guimarães, o documento contém críticas ao autoritarismo, ao populismo e às ameaças democráticas de extremos.
Em um dos trechos, o texto destaca que a concepção do manifesto é “romper a falsa polarização entre a extrema direita e uma esquerda irresponsável que lançou o país em uma grave crise”. O lançamento do documento marcou a primeira visita a Brasília de Temer desde que ele deixou o Palácio do Planalto, em janeiro de 2019.
Durante seu discurso, que contou com a presença de ex-ministros de seu governo como Carlos Marun e Moreira Franco, Temer afirmou que o MDB sempre esteve presente nos momentos em que "se quis mudar o Brasil". "Volto a Brasília em um momento importante, no momento em que se quer mudar o Brasil. Quem quer mudar o Brasil mais uma vez é o MDB com esse documento apresentado. Nosso partido sempre soube o momento de dizer 'chega'. Foi assim na redemocratização e agora nesse momento de divisão do Brasil, de brasileiros contra brasileiros", disse o ex-presidente, que assumiu o Palácio do Planalto após o impeachment de Dilma Roussef (PT) em 2016.
Documento irá nortear composição com a terceira via
De acordo com emedebistas, a ideia é que esse documento norteie as negociações do chamado "centro democrático". Dirigentes do MDB articulam junto com partidos como PSDB, DEM, Cidadania, Novo, Podemos, Solidariedade, PSL e PV uma candidatura única para se contrapor à polarização entre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o ex-presidente Lula na disputa eleitoral do ano que vem.
Apesar de ventilarem a possibilidade de lançarem a candidatura à Presidência da senadora Simone Tebet (MS), os emedebistas afirmam que no momento não existe discussão de nomes. Para Temer, ainda não é o momento de apresentar "candidaturas, mas sim projetos".
"Ainda temos muito tempo para as eleições. Os candidatos serão lançados no final de agosto do ano que vem. Este ano não é para se fazer campanha eleitoral de candidato nenhum. Não basta ter a candidatura se não tiver projeto", argumentou Temer.
Já Baleia Rossi defendeu que os demais partidos da terceira via possam lançar nomes neste momento. No entanto, ele acredita que os candidatos não podem ter "vaidades".
"Todos eles podem lançar algum nome. Agora o mais importante é que nós não podemos, dentro desses partidos que defendem a democracia, ter vaidades que superem a racionalidade. Precisamos estar unidos para viabilizar uma candidatura de centro", disse o presidente do MDB.
Questionado sobre a viabilidade política desses partidos, Michel Temer defendeu que o eleitor tenha o direito da escolha. "Da polarização nasce a radicalização. Quanto mais polarizado estiver o país, mais se acende a ideia de ter uma via alternativa. Essa não é uma homenagem a uma candidatura, mas e uma homenagem ao eleitor. Ele tem o direito entre dois radicalismos ter uma opção. Ele pode até optar por um dos polarizados, e se eleito for, tudo bem", disse Temer.
MDB se divide entre terceira via, Bolsonaro e Lula
Apesar da cúpula do MDB negociar com partidos da terceira via, outros nomes da legenda compõem o governo do presidente Jair Bolsonaro, enquanto outra ala ensaia uma recomposição com Lula. Presentes no evento, os senadores e líderes do governo Bolsonaro, Fernando Bezerra (Senado) e Eduardo Gomes (Congresso), não discursaram. Outro nome que também esteve presente e compõe a base governista é o deputado Osmar Terra (RS).
"Reunimos a base do partido. Nós tivemos a maioria dos deputados federais, a maioria dos senadores, temos a representação dos núcleos, de vereadores e prefeitos. Há uma convergência muito grande dentro do MDB que é a busca de uma candidatura de terceira via como alternativa a essa polarização", afirmou Rossi.
A ofensiva desta ala do partido vem em meio às crescentes articulações e acenos de Lula a caciques do MDB, principalmente no Nordeste. Em visita ao Rio Grande do Norte, o líder petista externou o interesse de recompor com o partido. “Eu tive muitas relações com o PMDB. Pretendo continuar tendo”, respondeu Lula, ao ser questionado sobre a aliança. Além disso, o petista já tinha afirmado que pretende conversar com Baleia Rossi.
Antes disso, durante a passagem de Lula pelo Ceará, o ex-senador Eunício de Oliveira já havia afirmado que o petista seria seu candidato. Derrotado no projeto de reeleição ao Senado em 2018, Eunício pretende ser candidato em 2022 com apoio dos petistas no estado.
Para Michel Temer, Lula e Bolsonaro estão com discursos radicais e, por isso, é descartada uma aliança com ambos. "Acho difícil fazer uma aliança com o PT por conta da radicalização. O MDB é radicalmente contra o radicalismo. Ambos (Lula e Bolsonaro) são antagônicos e radicais. Dizem que não querem uma terceira via, pois interessam a eles", completou.
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