por Valterlucio Bessa Campelo
Os autodenominados “salvadores da humanidade”, essa gente que vai da adolescente viking ao senil aposentado uspiano, passando por uma miríade de ongueiros, empresários, financistas e políticos oportunistas, estão sempre a apontar o dedo aos cientistas céticos como negacionistas, uma forma de, por indução, os assemelhar aos negadores do holocausto. Aviso que sempre que ler ou ouvir essa palavra (negacionista) fora de uma discussão sobre o nazismo ou no campo psicológico (negação da doença), você estará frente a uma desonestidade intelectual, pois há dezenas de palavras adequadas para designar qualquer discordância ou ceticismo.
Quero com isto dizer que não há negação alguma em relação às mudanças climáticas, nem nunca houve, aliás, nesta área, a única coisa permanente é a mudança, o que há é uma exigência de demonstração científica de que o alarmismo climático – este sim dominante no debate, tem razão de ser. Nenhuma das previsões de Al Gore, por exemplo, lá pelos idos e “esquecidos” anos 2005/2026, se confirmou. Aquele ursinho na geleira já deve ser trisavô e continua comendo peixinhos saudáveis em um frio de lascar.
De vez em quando o alarmismo climático sofre a deserção de cérebros honestos, enquanto são sucedidos por novos candidatos a salvar o mundo que nadam de braçadas em mar tranquilo sob aplauso da mídia engajada. É o caso de Michael Shellenberger, dado como “Herói do Meio Ambiente” em 2008 pela Revista Time, ano em que também ano ganhou o Green Book Award. O sujeito estava em tal escalada de prestígio que foi candidato a governador da Califórnia em 2018.
Até que “caiu a ficha” e o arrependimento e, e agora, em julho de 2020, ele escreveu “Apocalipse nunca – Por que o alarmismo ambientalista faz mal a todos” (“Apocalypse Never – Why environmental alarmism hurts us all”, Harper, New York, julho 2020), best-seller nos EUA, onde desmancha uma série de crendices que costumam se esconder sob aparência científica, mas não passam de propaganda ecoterrorista.
Em artigo publicado na Climate Changed Despatch (ver aqui), o renomado ambientalista inicia assim: “Em nome dos ambientalistas em todos os lugares, gostaria de pedir desculpas formalmente pelo medo climático que criamos nos últimos 30 anos. A mudança climática está acontecendo, mas não é o fim do mundo. Nem é o nosso problema ambiental mais sério”. Alguém viu na mídia brasileira alguma repercussão disto?
Confesso que ainda não li o livro, mas no artigo referido (imperdível) Michael Shellenberger praticamente se ajoelha e deslinda uma série de conclusões que sempre frequentaram as páginas dos céticos quanto ao alarmismo. Eis algumas:
a) Os humanos não estão causando uma "sexta extinção em massa";
b) A Amazônia não é “o pulmão do mundo”;
c) A mudança climática não está piorando os desastres naturais;
d) Os incêndios caíram 25% em todo o mundo desde 2003;
e) A quantidade de terra que usamos para carne - o maior uso da terra pela humanidade - diminuiu em uma área quase tão grande quanto o Alasca;
f) O acúmulo de lenha e mais casas perto das florestas, não as mudanças climáticas, explica por que há mais, e mais perigosos, incêndios na Austrália e na Califórnia;
g) As emissões de carbono vêm diminuindo nas nações ricas há décadas e atingiram o pico na Grã-Bretanha, Alemanha e França em meados dos anos 70;
h) A adaptação à vida abaixo do nível do mar tornou a Holanda rica, não pobre;
i) Produzimos 25% mais alimentos do que precisamos e os excedentes de alimentos continuarão a aumentar à medida que o mundo esquenta;
j) A perda de habitat e a morte direta de animais selvagens são ameaças maiores às espécies do que as mudanças climáticas;
k) O combustível de madeira é muito pior para as pessoas e a vida selvagem do que os combustíveis fósseis;
l) A prevenção de futuras pandemias requer mais e não menos agricultura "industrial".
E então, não parece um cientista cético falando? Parece, mas não é. Trata-se de um ambientalista de carteirinha carimbada há 30 anos, ex-extremista, que resolveu, conforme suas próprias palavras, falar a verdade. Nos termos do autor, convencido de que o alarmismo climático é fraudulento “...decidi que tinha que falar. Eu sabia que escrever alguns artigos não seria o suficiente. Eu precisava de um livro para expor adequadamente todas as evidências. E, assim, meu pedido formal de desculpas por nosso medo vem na forma de meu novo livro, Apocalypse Never: Why Environmental Alarmism Hurts Us All”. O livro, em mais de 400 páginas cobre questões como mudanças climáticas, desmatamento, resíduos plásticos, extinção de espécies, industrialização, carne, energia nuclear e renováveis.
Pois é. Há gente importante rompendo a bolha e questionando com firmeza e dados certas mentiras, slogans e dogmas climáticos, propagandeados à farta por gente que fatura alto em prestígio jornalístico, acadêmico e político, sem base verdadeira. Precisamos que mais pessoas como Shellemberg reconheçam que foram longe demais em sua estratégia de geração de pânico climático que, aliás, atinge psicologicamente um número enorme de crianças e jovens que se sentem sob ameaça de não envelhecerem, de não viverem, pois segundo a adolescente surtada na Suécia e mais uma embiricica de alarmistas, o mundo está às vésperas da extinção.
Infelizmente, a velha mídia foi inteiramente cooptada por esta manga podre chamada aquecimento global antropogênico e dificilmente dará voz a personagens antagonistas ao discurso politicamente correto, ainda que sejam cientistas do porte de Shelemberg, Richard Muller, Bjorn Lomborg e tantos outros como o próprio James Lovellock, criador da famosa hipótese Gaia, que nos últimos anos vem também reconhecendo os próprios erros.
Teremos, os não-alarmistas, que adotar na questão ambiental o mesmo tipo de estratégia que fazemos em relação à política, usando maximamente as mídias sociais até consolidarmos um anteparo à avalanche de sandices que deturpa o debate ambiental que, antes de tudo precisa ser honesto e verdadeiro.
* Valterlucio Bessa Campelo é Eng.° Agr.°. Mestre em Economia Rural.
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