RECEBI ESTE EDITORIAL DO "ESTADÃO" ,PUBLICADO NO SÁBADO, POR E-MAIL E COMPARTILHO COM OS AMIGOS PARA UMA LEITURA E REFLEXÃO..
Faria
sucesso num concurso de miss o discurso da presidente Dilma Rousseff na 9.ª
Conferência dos Direitos da Criança e do Adolescente, em Brasília. Sua
declaração mais notável, destacada pelos jornais e reapresentada
exaustivamente nas tevês e rádios, foi digna de uma devota leitora d'O
Pequeno Príncipe: "Uma grande nação deve ser medida por aquilo que faz
para suas crianças e para seus adolescentes. Não é o Produto Interno Bruto
(PIB). É a capacidade do país, do governo e da sociedade, de proteger o que é
o seu presente e o seu futuro, que são suas crianças e seus
adolescentes". Na interpretação mais benevolente, essa peroração é
apenas uma banalidade. Na menos caridosa, é uma grande tolice apresentada na
embalagem rosa da mais pobre filosofice.
Não
há como discutir seriamente o bem-estar e o futuro das novas gerações sem
levar em conta os meios necessários para educá-las, capacitá-las para viver
com independência e dignidade e proporcionar-lhes oportunidades de ocupação
produtiva e decente. Mas, também no sentido inverso, a relação é verdadeira:
só se pode criar uma economia dinâmica, moderna e capaz de competir
globalmente por meio da formação de pessoas qualificadas para tarefas cada
vez mais complexas. Examinado de qualquer dos dois ângulos, o desempenho do
governo brasileiro tem sido miseravelmente falho e nenhuma retórica pode
obscurecer esse dado.
Ao
contrário, no entanto, das graciosas candidatas a um título de miss, a
presidente Dilma Rousseff recitou sua mensagem num tom furioso, como se
reagisse a uma ofensa ou, talvez, a um imerecido golpe da Fortuna. Há uma
explicação óbvia tanto para sua visível irritação quanto para a
desqualificação do econômico. Horas antes o Banco Central (BC) havia
divulgado seu indicador de nível de atividade, considerado uma prévia mensal
do PIB. Esse indicador havia recuado 0,02% de abril para maio, confirmando
vários outros sinais de estagnação da economia e reforçando as previsões de
um crescimento, em 2012, menor que o de 2011.
Há
um vínculo evidente entre os resultados pífios da política educacional e o
emperramento da produção. No último exame do Programa Internacional de
Avaliação de Estudantes (Pisa), o Brasil ficou em 53.º lugar em leitura e em
57.º em matemática, numa lista de 65 países. O teste é realizado pela
Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Quase
todas as crianças estão na escola, graças a um esforço de universalização do
ensino iniciado há longo tempo, mas a formação continua péssima. Cerca de 20%
dos brasileiros com idade igual ou superior a 15 anos são analfabetos
funcionais, incapazes de ler e entender instruções simples. Empresas têm
dificuldade para contratar, por falta de mão de obra em condições até de ser
treinada no trabalho. Há um evidente funil no ensino médio, mas o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva preferiu facilitar o ingresso nas faculdades, numa
escolha errada e demagógica.
O
erro na escolha das prioridades tem permeado toda a política econômica. O
consumo, apesar da queda observada recentemente, continua, segundo o IBGE,
maior que o observado há um ano, mas a indústria brasileira tem tido
dificuldade para suprir o mercado interno, por falta de competitividade.
Fabricantes estrangeiros têm ocupado uma fatia crescente desse mercado, como
já mostrou a Confederação Nacional da Indústria.
Incapaz
de reconhecer os erros e de impor novos rumos à política econômica, a
presidente Dilma Rousseff, como seu antecessor, prefere insistir na retórica
e nas bravatas. "Vamos enfrentar os desafios para garantir à população
emprego de qualidade", disse a presidente no batismo de uma plataforma
da Petrobrás, na sexta-feira. A plataforma foi construída, recordou, pela
"teimosia de um brasileiro chamado Lula".
Seria
mais justo e mais realista lembrar a enorme e custosa lista de erros
cometidos na Petrobrás a partir de 2003 e apontados pela nova presidente da
empresa, Graça Foster, no dia de sua posse. Foram erros de uma gestão guiada
por objetivos político-eleitorais e centralizada no Palácio do Planalto -
erros essencialmente idênticos àqueles cometidos na política educacional.





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