Jornalista Andrade Junior

terça-feira, 5 de junho de 2012

R$ 545 milhões no caixa

Se vc ler os jornais vai notar que há varios recem nascidos esperando por um leito em UTI. Vai notar que as filas para atendimento continuam gigantes. Vai notar que há gente reclamando que o parente morreu por falta de atendimento médico. Vai notar que há falta de medicamentos, há falta de pessoal para o atendimento nos hospitais e centros de saúde. Mas vc sabia que a Secretaria de Saúde tem R$ 545 milhões em caixa? Leia a notícia do Jornal de Brasilia

Valor não se transformou em investimentos para a população. MPDFT investiga

Cada centavo bem gasto é um divisor de águas na saúde. Trata-se do limite entre o bom e o mau atendimento dos pacientes. Da mesma forma, representa a fronteira entre a recuperação dos enfermos e a perda de vidas. Segundo o Relatório Anual de Atividades da Secretaria de Saúde, referente a 2011, a máquina pública teve a dotação autorizada de R$ 2.823.002.444 para injetar na rede. Mas, apesar disso, o documento apontou que foram empenhados R$ 2.277.396.849. Desta forma, R$ 545.605.595 ficaram no caixa e não se transformaram em investimentos para a população.

Nas palavras do promotor de Justiça de Defesa dos Direitos da Saúde (Prosus), Jairo Bisol, do Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT), estes números revelam um problema de gestão com nome e sobrenome: inexecução orçamentária. “Estamos investigando isso. Temos informações de que em junho de 2011, havia R$ 460 milhões inexecutados”, disse. Para o promotor, este montante está parado, rendendo em investimentos financeiros, quando deveria ter sido transformado em recursos e contratação de pessoal na rede pública. ...

PRÁTICA COMUM
Ele diz que, via de regra, os gestores públicos não conseguem gastar de imediato os recursos, após o sinal verde. Por isso, é comum que se invista o dinheiro. No entanto, os montantes variam de R$ 70 milhões a R$ 90 milhões e ficam parados de um a três meses. Da forma como está no DF, Bisol considera o patamar “escandaloso”. Segundo ele, parte destes recursos tem origem federal. Em função da inexecução, este dinheiro poderá deixar o DF e voltar para a União. A reportagem procurou a Secretaria de Saúde para comentar a questão, mas não teve resposta.

Mortes à espera de UTI
O receio das famílias brasilienses ao ver parentes na fila de espera da rede pública encontra explicação no Relatório Anual de Atividades da Secretaria de Saúde. Conforme o documento, no ano passado foram registradas 13.429 solicitações de internação em Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs). Deste total, foram contabilizadas 1.034 mortes na fila de espera.

No cálculo mensal, tratam-se de 86 vidas perdidas por mês no aguardo pelo leito de UTI. “É uma vergonha”, resumiu o Jairo Bisol. Segundo o promotor da Prosus, um número tão alto na fila de espera da rede pública da capital brasileira é inaceitável. A páginas do relatório anual apontam outros pontos preocupantes na rede. No apoio administrativo, por exemplo, estavam previstos R$ 12.720.000 para manutenção e conservação da frota de veículos. Mas foram gastos apenas R$ 2.072.173.

O desempenho da assistência farmacêutica também chamou a atenção. Para a aquisição de medicamentos para assistência à saúde pública, havia a dotação inicial de R$ 205.900.000, no entanto só foram liquidados, efetivamente, R$ 91.528.417. Para o programa de medicamentos de alto custo, estavam destinados, a princípio, R$ 53.000.000. Valor distante do liquidado em remédios, que foi de R$ 33.218.875.

BAIXO ESTOQUE
O relatório também apresenta indicadores de desempenho, referentes à aquisição e distribuição de remédios, conforme o Plano Plurianual 2008/2011. A porcentagem “desejada” do orçamento público liquidado com aquisição de medicamentos era de 100% para 2011. Todavia, o texto denuncia que apenas 61,1% foram alcançados. A meta percentual de dias com estoque disponível de medicamentos, em relação ao número de dias do ano, era de 95%. Neste quesito, o percentual alcançado foi de 72%.

Quanto ao atendimento médico-hospitalar e ambulatorial, o relatório apontou que a dotação inicial para o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) era de R$ 16 milhões. Mas, mesmo com a necessidade constante e crescente da população pelo serviço acionado pelo telefone 192, o valor gasto foi de apenas R$ 6.842.059. No primeiro momento, a assistência às famílias em situação de violência tinha previstos R$ 515 mil. Apesar disso, só foram liquidados R$ 242.

Para prevenção e controle do câncer, bem como a assistência oncológica, a Secretaria de Saúde poderia gastar R$ 1.517.874. Mas, segundo as linhas do relatório, os gastos ficaram estacionados em irrisórios R$ 6.723. De programa a programa, de área a área, o relatório apontou diversas explicações para os gastos aquém do potencial, a exemplo de problemas com licitações.

Por Francisco Dutra
 
Ampliação dos leitos
Em resposta aos recentes casos de mortes envolvendo espera por UTIs no DF, a Secretaria de Saúde anunciou ontem o reforço de 90 novos leitos para emergência. Amanhã serão liberados 60 leitos, entre unidades para adultos e neonatais. E dentro de 15 dias serão mais 30, também nesta divisão.

Em relação aos leitos para adulttos liberados amanhã, serão dez no Hospital de Base (HBDF), dez Hospital Regional de Samambaia (HRSAM), 21 no Hospital Regional de Santa Maria (HRSM) e outros 17 em unidades particulares. Em duas semanas serão mais 20 no HBDF.

Quanto às unidades neonatais, amanhã serão abertos mais dois leitos em unidades particulares. E nos próximos 15 dias, outros dez no Hospital Materno Infantil de Brasília (HMIB). A pasta deve investir R$ 15 milhões para as novas UTIs.

Segundo o secretário de Saúde, Rafael Barbosa, os novos leitos estavam previstos no planejamento da pasta e tiveram o anúncio adiantado. Entre adultos e crianças, até a tarde de ontem, a fila de espera da rede pública tinha 63 pacientes. Os novos leitos poderão atender pacientes com diferentes perfis de atendimento.

ACIDENTES
“O grande problema nosso é uma pressão muito grande das vítimas de acidentes de trânsito e da violência. Nós temos claramente uma deficiência em leitos com suporte neurocirúrgico”, disse o secretário. Segundo ele, o número de casos deste tipo aumentou significativamente nos últimos 15 dias. Outro problema são as cirurgias pediátricas cardíacas, que até então só eram atendidas pelo Instituto de Cardiologia do DF (ICDF).

Na palavras no secretário, nos últimos anos nenhum investimento foi feito na criação de leitos por outros governos e até então o HBDF era a única unidade do DF, entre públicas e privadas, pronta para o tratamento. Quanto às cirurgias pediátricas, a pasta começou a fazer procedimentos de baixa complexidade no HBDF e está em conversas com ICDF para ampliar os leitos.

Com a abertura das novas UTIs, Barbosa não acredita que a fila será zerada, mas assegura que a situação ficará bem mais confortável. “A necessidade  de UTI é crescente em todo canto. A gente espera que se abrindo em torno de 60 leitos nós possamos ter uma tranquilidade. Até porque vamos ficar com um número considerável de leitos de terapia intensiva, próximo a 500 leitos na rede pública e conveniada”, comentou.

O secretário lembrou da população da Região Metropolitana que vem para Brasília em busca de atendimento. Por exemplo, dos 40 mil partos de 2011, 35% eram mães de fora do DF.

Via-crúcis pelos hospitais
A demora no atendimento, a falta de remédios e a estrutura sucateada dos hospitais são algumas das reclamações dos pacientes da rede pública. A reportagem do Jornal de Brasília esteve nas salas de espera lotadas do Hospital Regional de Ceilândia e também no Hospital Regional de Taguatinga (HRT). Ali, muitos pacientes saem frustrados após passar horas à espera de um médico. Ontem, alguns relataram que a demora passou de sete horas.

Às 17h, Valdino Geraldo Ferreira, de 51 anos, bateu à porta da sala de classificação de pacientes para tentar o primeiro passo de atendimento para o cunhado, deficiente auditivo que passa mal de problemas do coração. "Já fui a dois hospitais e não consegui atendimento. Fomos pela manhã no HRT e nada. Para a Copa do Mundo, todo o dinheiro do mundo, mas nós mesmos nem somos tratados como verdadeiros brasileiros no DF", desabafou Valdino, que não foi nem recebido na sala de triagem, trancada diante da sala cheia de pacientes no HRC.

TRANSFERÊNCIA
Assustada com o que pode acontecer à própria mãe, a estudante Ana Paula Pereira, 31 anos, aguardava em meio a centenas de pessoas amontoadas diante dos balcões do Hospital de Taguatinga, onde mais vigilantes do que médicos realmente atendem as pessoas, após horas de espera. A mãe Arlete Pereira, de 61 anos, sofre de hipertensão e veio transferida de Santo Antônio do Descoberto (GO), pela seriedade do quadro que apresentou desde as 8h de ontem. Às 13h chegaram ao local, e às 15h30, Ana Paula esperava a irmã com um carro para levar a mãe a outro hospital.

“Estou com medo. A pressão dela está oscilando demais, e caiu bastante mais cedo em Santo Antônio. Quando perceberam a gravidade, mandaram para cá. Estou aqui sem carro e a ambulância que veio já foi embora. Estou com medo do que pode acontecer”, desabafa a mulher.

Na Farmácia Ambulatorial Especializada, na Praça do Cidadão em Ceilândia, Luiz Ferreira do Vale, 49 anos, lembrava com tristeza um ano inteiro que viveu comprando remédios de alto custo que estavam em falta para diabetes. “O prejuízo é grande. Deixei até de pagar água e luz para não parar de tomar o medicamento”, diz.

Saindo do local, a reportagem encontrou Sidney Vila Nova, marceneiro de 30 anos, que buscava medicamentos para a mãe. “Ela conseguiu, depois de dois anos, o transplante do coração. Se não fosse o Instituto do Coração nos doar o medicamento, ela já tinha morrido por rejeição do órgão, pois aqui não tinha e ainda não tem”, disse.

Por Vinícius Borba


Médicos enumeram problemas
"A entrada do inferno". Assim o presidente do Sindicato dos Médicos do DF (Sindmédico) definiu o Hospital Regional de Ceilândia (HRC), depois de fiscalizar a unidade. Mesmo em casos urgentes, pacientes esperam até 20 dias por uma cirurgia. No fim de semana, segundo ele, um paciente chegou a ser entubado no chão, por falta de leito no box de emergência.

De acordo com informações do sindicato, apenas 16 clínicos atendem ao hospital durante toda a semana. Na tarde de ontem, apenas um clínico geral atendia a uma massa de pacientes que aguardava no ambiente pouco ventilado do HRC, onde dependentes de álcool dividem espaço com pacientes em estado lastimável à espera de atendimento. Outro clínico estava responsável pela emergência, ambos sobre forte carga de trabalho. Na pediatria, por volta das 16h, 89 crianças aguardavam por um médico com espera igual a dos adultos. Crianças dormiam até no chão enquanto aguardavam uma solução. Dos sete médicos chamados para o local no último concurso, seis já pediram demissão por estresse e outros problemas de saúde", afirmou Gutemberg Fialho.

Na sala de emergência, que conta com cinco leitos para atendimentos intensivos, quatro estão ocupados com pacientes em recuperação de cirurgias e outros casos. Ali, eles presenciam no único leito que sobra, reanimações e outras cenas dramáticas de emergência extrema. “Esperamos que o GDF acorde para a situação caótica em que o sistema se encontra”, disse Fialho.

AMBULÂNCIAS
Outra grave denúncia do Sindmédico é que ambulâncias de cidades da Região Metropolitana, como Águas Lindas, abandonam os pacientes na entrada de emergência do HRC, sem mínimo cuidado. “Os pacientes são abandonados ali, e a ambulância sai rapidamente. Inúmeros são os casos em que o HRC não tem capacidade para aquele atendimento, mas tem que dispor de uma ambulância para levar a vítima ao Hospital de Base, por exemplo. Essa demora pode ser fatal”, afirmou Gutemberg Fialho.

Não distante, o Hospital Regional de Taguatinga (HRT) absorve outra parte de uma das regiões mais populosas do DF, que agrega cidades como Taguatinga, Ceilândia, Samambaia, Recanto das Emas e adjacências. (VB).
 
Lentidão no socorro

Mulher dá à luz em casa após esperar mais de uma hora pelo Samu
Uma mulher deu à luz dentro do banheiro de casa por demora de socorro de ambulância no momento do trabalho de parto. Uma vizinha socorreu e concluiu o procedimento, salvando a vida da criança, que tinha o cordão umbilical enrolado no pescoço.

A “parteira” que prestou o socorro foi vítima do mesmo sistema de saúde quando teve sua primeira filha, há 19 anos, nos corredores do Hospital Regional de Taguatinga. O secretário de Saúde, Rafael Barbosa, confirma a situação precária do Serviço de Atendimento Médico de Urgência (Samu), sufocado pela necessidade de fazer transferências de pacientes entre hospitais, responsabilidade das ambulâncias dos próprios centros de saúde.

Por volta das 4h do último sábado, a mãe Zélia Dias de Souza, 42 anos, teria começado a sentir as dores do parto. Porém, só às 8h ela sentiu as contrações mais fortes e teria pedido que a filha Rita Cristina, de apenas 13 anos, buscasse ajuda. A menina pediu então socorro aos vizinhos do prédio onde vivem, na rua 4 de Vicente Pires, para amparar o nascimento. Por volta das 8h30, a menina teria telefonado ao Samu para pedir socorro, mas ouviu que teria de esperar.

AJUDA DE VIZINHA
Por volta de 9h, a vizinha Sofia Nunes Bezerra, 40 anos, foi chamada às pressas. “Fui até lá e vi a mulher de joelhos no chão pedindo socorro. Aí vi as perninhas da bebê já fora da mãe e percebi que teria de fazer eu mesma”, lembra. Ela amparou a criança e terminou de puxar o bebê, que já estava sem ar devido ao cordão umbilical envolto no pescoço. “Puxei e dei uns tapas para a neném respirar. Foi um desespero”, conta.

A filha de Sofia, Natasha Nunes, 19 anos, tentou ligar novamente para o Samu. “Quando o médico me atendeu, informei a situação e ele me disse que ainda teríamos de esperar. Perguntei então o que fazer com o cordão umbilical, se cortava ou o que fazia. Aí ele me mandou aguardar a chegada dos médicos”, disse. Só às 9h50 a ambulância chegou, depois que uma viatura da Polícia Militar já estava no local há 40 minutos. Para a irmã da criança recém-nascida, a situação demonstra o descaso do governo: “A gente se sente desamparado. Liguei, fiz o que era preciso, mas nem assim eles atenderam”.

Para Sofia Bezerra, que fez o parto, a situação traumática lembra seu primeiro parto, há 19 anos. “Fui negada em quatro hospitais, durante uma greve da Saúde naquele ano. Tive o parto no corredor do HRT, graças ao diretor do hospital que, por sorte, estava lá. Fiquei com depressão pós-parto. Foram meses de terapia até que eu entendesse que a culpa não era da minha filha. Agora, até a Zélia (mãe do bebê) está traumatizada”, disse Sofia.

SISTEMA SOBRECARREGADO
Segundo o secretário de Saúde do DF, Rafael Barbosa, o Samu está sofrendo sérias dificuldades pelo serviço estar executando funções que não são de sua alçada. “O Samu tem uma demanda imensa e hoje está fazendo inclusive transferência de pacientes de hospital para hospital. Está sobrecarregado, mas estamos com concurso aprovado para aumentar os quadros e realizar contratação de médicos, enfermeiros e técnicos”, diz o secretário.

Das 37 ambulâncias existentes, sete estão quebradas. “Vamos colocar as sete paradas em uso e vamos direcionar esforços para que o atendimento pré-hospitalar esteja direcionado para estes socorros mais urgentes, e não transportando pacientes como hoje”, afirmou.

Fonte: Jornal de Brasília - 05/06/2012

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