LAÍS ZANIN
Nos últimos anos, as redes sociais popularizaram a romantização da obesidade, sugerindo que pessoas obesas são felizes, saudáveis e empoderadas. Influencers frequentemente promovem um estilo de vida de excessos, criticam espaços públicos projetados para pessoas com peso normal e desaprovam hábitos saudáveis e exercícios regulares. Essa defesa da aceitação ilimitada do próprio corpo ignora os impactos negativos na saúde física e mental.
O progressismo, aliado da cultura woke, é uma ideologia política que advoga pela constante evolução e necessidade de mudanças na sociedade. Atualmente, esse movimento é frequentemente associado à pós-modernidade, que promove a relativização de diversos aspectos, incluindo conceitos como beleza e saúde. Um dos aspectos mais polêmicos dessa abordagem é a relativização e, ocasionalmente, a romantização da obesidade, sob o pretexto do discurso de autoaceitação. Existe uma tendência em defender que o corpo gordo deve ser aceito e, em alguns casos, até celebrado como um padrão na nossa sociedade.
O movimento “woke” é visto como uma expressão radical de ativismo que promove uma agenda de identidade e justiça social excessivamente progressista e politicamente correta. A preocupação central reside na percepção de que o movimento woke contribui significativamente para a polarização da sociedade ao enfatizar diferenças de identidade em detrimento da unidade nacional e dos valores compartilhados.
Um dos principais pontos de crítica é a prática de “cancelamento”, onde figuras públicas ou ideias que não se alinham com as visões do movimento são frequentemente censuradas ou excluídas do discurso público. Isso fragiliza a liberdade de expressão e promove uma cultura de conformidade ideológica.
A cultura woke promove uma sensibilidade excessiva em relação a questões de identidade, interpretando críticas ou discordâncias como formas de opressão ou discriminação, o que, por sua vez, pode levar à criação de políticas e práticas que enfraquecem a meritocracia e desvalorizam valores tradicionais como a família nuclear e a moralidade religiosa.
Além disso, há uma preocupação significativa com o impacto do movimento woke nas instituições educacionais, culturais e governamentais. A prevalência de ideologias progressistas nessas instituições pode distorcer a objetividade e promover uma correção política que compromete a qualidade e a imparcialidade.
A obesidade é um problema global sério. Segundo a OMS em 2022, mais de 2,5 bilhões de adultos estavam com excesso de peso, incluindo mais de 890 milhões de obesos. Essa condição é um importante fator de risco para doenças crônicas graves como diabetes tipo 2, doenças cardíacas, AVC, câncer e osteoartrite. A romantização da obesidade pode levar as pessoas a minimizarem esses riscos e adiarem a busca por cuidados médicos, aumentando os problemas de saúde.
O diabetes tipo 2 surge devido à resistência à insulina, relacionada ao sobrepeso, sedentarismo, altos triglicerídeos, hipertensão e hábitos alimentares inadequados. É crucial o acompanhamento médico regular para tratar o diabetes e essas condições. No Brasil, aproximadamente 90% dos diabéticos têm diabetes tipo 2. O Diabetes Latente Autoimune do Adulto (LADA), mais comum em adultos, é uma forma avançada desse tipo de diabetes.
O diabetes tipo 2 envolve um processo autoimune que ataca as células do pâncreas. Em pessoas obesas, há resistência à insulina, onde a eficiência da insulina nos receptores celulares é comprometida. Isso faz com que seja necessário mais insulina para transportar glicose para dentro das células, dificultando o uso de açúcar para energia e levando ao armazenamento de açúcar não utilizado como gordura.
A hipertensão arterial é uma condição crônica em que os níveis de pressão sanguínea nas artérias estão elevados, geralmente acima de 140/90 mmHg (ou 14 por 9). Esse aumento de pressão faz com que o coração trabalhe mais para distribuir o sangue pelo corpo de maneira adequada. A pressão alta é um dos principais fatores de risco para doenças graves como acidente vascular cerebral, infarto, aneurisma arterial, além de contribuir para a insuficiência renal e cardíaca.
O ganho de peso está associado ao aumento da insulina plasmática, um hormônio que facilita a absorção de sódio pelos rins, o que resulta em maior volume sanguíneo circulante e aumento da atividade vascular. Isso pode intensificar a ativação do sistema nervoso simpático, aumentando a liberação de noradrenalina e interferindo na regulação da pressão arterial. Por outro lado, a perda de peso frequentemente leva à redução da pressão arterial em muitas pessoas.
A osteoartrite é a forma mais comum de doença reumática, sendo a principal causa de incapacidade física e redução da qualidade de vida em pessoas com mais de 65 anos. Afeta principalmente articulações que suportam peso, como joelhos e quadris, mas sua prevalência tem aumentado em outras áreas, como as mãos, especialmente em casos de obesidade. Sugere-se que a influência da obesidade no desenvolvimento da osteoartrite vai além da simples sobrecarga mecânica.
O aumento da massa adiposa está associado ao consumo elevado de ácidos graxos saturados, que promovem inflamação de baixo grau e resistência à insulina e leptina. Em níveis elevados, a leptina assume características inflamatórias, afetando a cartilagem articular e desencadeando processos inflamatórios que levam à degeneração do tecido.
Conclui-se que a obesidade aumenta a carga mecânica sobre as articulações, acelerando o desgaste da cartilagem e dos tecidos articulares. Também provoca um estado inflamatório crônico de baixo grau, onde o tecido adiposo produz substâncias pró-inflamatórias que promovem a inflamação articular e podem acelerar a progressão da osteoartrite. Praticar atividade física regularmente e ajustar a dieta pode reduzir essa inflamação e a resistência à leptina, potencialmente retardando ou prevenindo o desenvolvimento da doença.
Segundo o médico Lucas Gelatti, formado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS):
“As pessoas têm que ter ciência do quão perigosa é a obesidade para poder fazer essa escolha entre querer permanecer obeso ou mudar isso e se tornar uma pessoa mais saudável. Volto a repetir, é preciso entender que não é uma questão de beleza ou de aceitação, é uma questão de saúde e precisa ser levada a sério como ela definitivamente é, sem preconceito, sem romantismo, é simplesmente o tratamento de uma doença que pode levar a morte”.
Recentemente, tem sido evidente o crescimento da cultura woke e o avanço acelerado do progressismo. Esses movimentos têm difundido ideias que idealizam uma vida sem limites, conforto extremo e aceitação incondicional, moldando uma população cada vez mais complacente e dedicada a causas militantes.
Influenciadores das mídias sociais desempenham um papel crucial ao conduzir uma parte da população, muitas vezes desinformada ou suscetível, por discursos sedutores que promovem a ideia de autoaceitação incondicional, minimizando a importância de hábitos de vida saudáveis.
Entretanto os médicos e profissionais alertam que esse discurso pode ser perigoso. A obesidade é uma doença perigosa e traz altos fatores de risco para a vida. É fundamental seguir boas práticas, como uma alimentação equilibrada e a prática regular de exercícios físicos.
Referências Bibliográficas:
BRASIL. Ministério da Saúde. Diabetes. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/d/diabetes. Acesso em: 26 jun. 2024.
BRASIL. Ministério da Saúde. Hipertensão arterial. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/h/hipertensao. Acesso em: 26 jun. 2024.
EINSTEIN (São Paulo). Obesidade versus osteoartrite: muito além da sobrecarga mecânica. São Paulo, 2024. Disponível em: https://journal.einstein.br/pt-br/article/obesidade-versus-osteoartrite-muito-alem-da-sobrecarga-mecanica/. Acesso em: 26 jun. 2024.
WORLD HEALTH ORGANIZATION. Obesity and overweight. Disponível em: https://www.who.int/es/news-room/fact-sheets/detail/obesity-and-overweight. Acesso em: 26 jun. 2024.
*Laís Silva Zanin, graduanda em biomedicina pela Universidade Paulista (UNIP), integrante do grupo de Bioquímica Estrutural. Email para contato: lais.zanin07@gmail.com
PUBLICADAEMhttps://www.institutoliberal.org.br/blog/politica/romantizacao-da-obesidade-nas-redes-sociais-impactos-na-saude-e-desafios-medicos/
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