Jornalista Andrade Junior

sexta-feira, 26 de julho de 2024

Complexidade política: o Brasil não é um país para amadores

 Luan Sperandio 


Em qualquer lugar do mundo, a política é conhecida por sua complexidade e imprevisibilidade. No entanto, quando se trata da política brasileira, essa complexidade parece ser elevada ao cubo. O Brasil, com sua vasta diversidade cultural e geográfica, enfrenta uma realidade política intrincada que tem raízes profundas em sua história e molda o ambiente de negócios e a vida cotidiana de seus cidadãos. Nesse contexto, a frase do músico Tom Jobim de que “o Brasil não é um país para amadores” revela-se mais do que uma frase de efeito e retórica, mas uma análise que reflete a realidade enfrentada por quem busca entender e prosperar em terras tupiniquins.

A política brasileira é caracterizada por uma série de elementos complexos que a distinguem das demais. O autoritarismo histórico, embora já tenha sido confrontado, ainda deixa marcas nas estruturas políticas e sociais do país. Afinal, a sucessão de golpes de Estado trouxe graves consequências para o amadurecimento da democracia no Brasil, país que fica atrás somente de Haiti, Venezuela e da Bolívia nesse quesito.

A predominância do Estado sobre a sociedade, em muitos aspectos, gera um ambiente em que as decisões políticas influenciam diretamente a vida das pessoas e a condução dos negócios. Além disso, a alta fragmentação partidária complica a construção de maiorias consistentes e a execução de políticas públicas eficazes.

Historicamente, a limitação às fontes de informação resultava em confusão e incertezas devido à falta de referências disponíveis. Eles estiveram presentes, de forma decisiva, nos diversos planos econômicos que o país teve entre 1967 e 1993, com seis moedas diferentes: o cruzeiro novo (1967), cruzeiro (1970), cruzado (1986), cruzado novo (1989), cruzeiro (1990) e cruzeiro real (1993), com os famigerados planos Cruzado (1986), Bresser (1987), Verão (1989) e Collor (1990). Cada momento que precedia um anúncio era cercado de ruídos do que poderia acontecer e receios de corridas aos bancos por parte da população e desconfianças, e houve ainda pessoas que se beneficiavam de vazamentos e acabavam enriquecendo às custas dos demais brasileiros.

No entanto, o cenário atual é marcado por um excesso de informações provenientes de diversas fontes, o que torna desafiador para o público encontrar dados relevantes e confiáveis. O equívoco da crença de que “informação nunca é demais” se torna evidente, especialmente no contexto político. Como bem observou Marcello Bax, especialista em Gestão Informacional, o excesso de informações pode levar à perda de controle e à inabilidade em utilizar esses dados de maneira efetiva. A disseminação de conhecimento de qualidade duvidosa pode influenciar decisões catastróficas, levando à ruína de empresas e segmentos econômicos e eleitores apaixonados por uma fuga da realidade.

Se boa parte da academia brasileira é ideologicamente enviesada de forma predominante à esquerda, o mesmo ocorre com a imprensa – em parte, por um ressentimento que as contaminou em virtude da repressão na “Ditadura à Brasileira”, para utilizar as palavras do historiador Marco Antonio Villa. Esse viés prejudicou a qualidade do debate público, que precisa ser alicerçado em dados e evidências e não em ideologia, bem como criou assimetrias de informação que dificultam a tomada de decisão de agentes do mercado.

Nas redes sociais, boa parte do que se publica sobre política é veiculado por “influenciadores” que se autointitulam como “gurus”, sem a expertise técnica ou metodológica inerentes à análise política. Esses indivíduos, muitas vezes, carecem do compromisso de assumir responsabilidade por suas previsões, mesmo quando estas se mostram equivocadas. A busca por likes e compartilhamentos acaba suplantando o rigor analítico, prejudicando a compreensão adequada dos acontecimentos políticos, e a ausência de skin the game (o termo popularizado por Nassim Taleb que remete a necessidade de acreditar somente em quem “arrisca a própria pele” em trazer previsões analíticas).

A ascensão do ambiente digital também conferiu maior dinamicidade aos políticos, que agora possuem canais diretos de comunicação com seus eleitorados. No entanto, a necessidade de tomar posicionamentos quase instantâneos sobre uma variedade de assuntos, muitos dos quais vão além das esferas políticas tradicionais, compromete a qualidade do debate público. A agilidade pode resultar em superficialidade, prejudicando a profundidade e a substância das discussões. Mais do que isso, narrativas são criadas para influenciar ou justificar determinados acontecimentos ou sinalizar visões de mundo específicas a seus seguidores que compõem o grupo ideológico que aquela figura política representa, distribuídas por algoritmos somente para seus nichos ideológicos, o que, por sua vez, tende a reforçar o clima de polarização e radicalização política do país.

Embora o centro financeiro do Brasil esteja concentrado em cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, o que também reflete a desigualdade econômica e financeira do país, é inegável que as decisões políticas tomadas em Brasília exercem um impacto significativo sobre o fluxo de capital e o ambiente de negócios, mesmo quando meros ruídos. A sinalização política proveniente da capital do país direciona os rumos do mercado e da economia em geral. Isso ressalta a interconexão entre a política e os aspectos econômicos do Brasil, tornando ainda mais evidente que a complexidade política não é algo que se possa ignorar, mesmo por parte dos empresários mais experientes.

O Brasil não é um país para amadores, e, para os profissionais que querem compreendê-lo, não se deveria confiar em amadores.






























PUBLICADAEMhttps://www.institutoliberal.org.br/blog/historia/complexidade-politica-o-brasil-nao-um-pais-para-amadores/

















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