Percival Puggina
Em 1883, Sir Francis Galton criou o termo eugenia para definir “o estudo dos agentes sob o controle social que podem melhorar ou empobrecer as qualidades raciais das futuras gerações seja física ou mentalmente". Nas décadas seguintes, com o desenvolvimento dos estudos sobre genética e sua aplicação ao aprimoramento de plantas e animais, cresceu a literatura científica e romanceada envolvendo a ideia de uma sociedade de super-homens geneticamente construídos. Malgrado a resistência, não demorou muito para Hitler promover o confisco de bens, o trabalho escravo e o holocausto do povo judeu com o alegado intuito de promover a “pureza racial” do Terceiro Reich.
Ao ler estas linhas, tenha em mente o que acontece no ambiente político e social brasileiro a partir da difusão dos escritos de Gramsci nos Cadernos do Cárcere e de seus estudos sobre hegemonia e conquista do poder na “longa marcha através das instituições”. Some a isso o que sabe a respeito de Goebbels, a importância política da repetição obsessiva do que se quer impor às mentes e o uso de todos os meios culturais para esse fim.
Veja agora aonde nos leva isso se, em vez de nazismo raiz com suástica e tudo, pensarmos no esquerdismo militante convencendo seus agentes de que tal condição acresce importantes polegadas à sua estatura moral, induzindo-os a olhar a divergência de cima para baixo. Cada um deles se vê como o novo Adão progressista. Em recente artigo, escrevi que esse personagem distópico, “nas suas ocupações e atividades profissionais, coloca a missão acima da função. Seja ele professor, jornalista, padre, pastor, artista, militar, burocrata, empresário – o que for – antes de tudo é um esquerdista empenhado no papel transformador e revolucionário que lhe cabe na construção da nova humanidade, bem ali, no lado esquerdo do palco das ideias”.
A composição das ideias de Gramsci com a técnica do “publicitário” Goebbels proporciona ignição espontânea ao crescimento explosivo dessa eugenia ideológica. Dê uma olhada nas postagens e comentários de esquerdistas nas redes sociais e verá como fazem lembrar as imagens que retratam a turba apreciando execuções na Revolução Francesa. Eis o motivo que fez sumir do discurso político da esquerda e dos comentários da Globo e congêneres qualquer menção à “direita”. No vocabulário do esquerdismo militante (ou governista por amor ao caixa) só existe extrema direita antidemocrática e fascista, objeto de repressão, perseguição e punição sem muito lero-lero.
Nossos novos Goebbels de extrema esquerda, então, já andam por aí em intensa atividade. Atacam a oposição com o peito inflado de uma superioridade moral fajuta que os autoriza a impor rótulos, restrições e sanções àqueles a quem atribuem a condição de extrema direita por serem conservadores, liberais ou antiesquerdistas.
“É uma estratégia política, qual o problema?”, talvez diga o leitor. O problema está nas já nítidas consequências da suposta superioridade moral. É visível que dela deriva um desconhecimento de direitos fundamentais à opinião divergente. Instala-se uma desigualdade de direitos, torna-se comum silenciar e perseguir cruelmente os desafetos; a injustiça deixa de ser percebida e se torna-se socialmente tolerada ou, mesmo, aplaudida; uma mesma lei não vale para todos.
Conhecer o adversário, entender o que o mobiliza e sua consequente estratégia são condições indispensáveis para vencê-lo dentro das regras do jogo, que é como deve ser no tablado da política.
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