escreve Paulo Polzzonof
Na manhã seguinte ao jantar com Lula e o restante da matilha, Dias Toffoli acordou nervoso. E empolgado. E audaz. Com uma canetada certeira, ele cancelou o acordo de leniência da J&F. Coisa pouca: dez bilhões de reais. Para piorar, a esposa de Toffoli advoga para a empresa dos irmãos Joesley & Wesley Batista. E há mais um detalhe nesse lamaçal bilionário aí: a J&F, mais conhecida pela marca Friboi, recentemente contratou Ricardo Lewandowski, ex-STF. Ou seria ex-MST?
Diante de mais esse escárnio (e algo me diz que não será o último do ano), é natural que se conclua melancolicamente que, no Brasil, o crime compensa. Compensa muito. Se você for ou se disser de esquerda, claro. Basta ter um pouco de paciência e os amigos no lugar certo que tudo se resolve. Tudo se acerta. Tudo se ajeita. Três tapinhas na cara. Missão dada é missão cumprida. Etc. Tudo se esquece em nome da conveniência política. Da permanência dessa elite jeca e malandra no poder. Da manutenção de uma caquistocracia de novos-ricos progressistas.
E talvez você que ainda se surpreende com essas coisas esteja se perguntando: por que Dias Toffoli faz uma coisa dessas? Por que ele cancela uma multa bilionária sabendo que a repercussão será negativa? Por que ele não tem medo de escancarar o repugnante capitalismo de compadrio que dá sustentação ao petismo? Por que ele não faz nenhum esforço para disfarçar a obtusidade do seu caráter?
Sim, senhora
A resposta imediata para isso talvez seja a mais cômica: porque na casa de Toffoli a última palavra é sempre dele: “Sim, senhora”. Mas a submissão de um ministro em tudo emasculado à vontade da patroa não é a única explicação para essa decisão. Há aí dois outros fatores importantes. O primeiro é a tentativa de Toffoli de fazer as pazes com o chefe. Ao que parece, o eterno estagiário está disposto a qualquer coisa para cair nas graças de Lula novamente.
E depois tem aquela que, para mim, é a explicação mais simples e mais grave para Toffoli e seus pares agirem como agem: eles podem. Eles sabem que podem. E que absolutamente nada nem ninguém jamais tomará qualquer atitude capaz de representar uma ameaça a seu poder absoluto. Nem o Senado. Nem as Forças Armadas. Muito menos a sociedade civil. Os ministros do STF só prestam esclarecimentos às suas consciências. E são consciências forjadas à base do materialismo ateu. Ou seja.
Este, portanto, é o recado que o STF dá e continuará dando ao país: no Brasil o crime compensa. Em todos os níveis. Deposite 70 mião para um líder de esquerda e nada lhe acontecerá. Roube um celular para beber uma cervejinha e está tudo certo. Pode pegar este ou aquele atalho para impor a sua vontade – você é dos nossos. Só não se esqueça de se dizer contra o fascismo e, se puder contribuir com a Causa, tanto melhor.
Gente honesta
Com tanta impunidade e tantos sinais de que o STF pretende fazer vistas grossas para qualquer indício de corrupção, de crime ou de “atentado à democracia”, desde que os envolvidos sejam de esquerda, é de se admirar que no país ainda haja gente honesta. Mas há. Gente que trabalha duro por um salário muitas vezes insuficiente ou injusto. Gente que ainda arrisca, empreende e emprega. Gente que, apesar do clima de permissividade ideologicamente orientada, não está disposta a ceder ao espírito de imoralidade que tomou conta do país.
Chega a ser até um milagre – para quem está disposto a ver as coisas assim.
Paulo Polzonoff, Gazeta do Povo
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