nota J.R. Guzzo
Uma ministra do Planejamento, para fazer um mínimo de sentido, tem de planejar. Pode até planejar errado, mas tem de planejar alguma coisa; é por isso, pensando um pouco, que o público em geral é obrigado a lhe pagar mais de 41 mil reais por mês, além da frota de carros com chofer, o homem do cafezinho e todas aquelas pequenas espertezas que os gatos gordos de Brasília sabem inventar em seu próprio proveito.
O que uma ministra do Planejamento não pode fazer, nem no governo Lula, é dizer que o plano de orçamento depende de Deus. Se for para isso, é mais barato contar com o padre, ou com o leitor de tarô que anuncia seu negócio nos postes de rua.
A ministra é uma figura de anedota desde que se pendurou furiosamente no presidente da República para arrumar um cargo no governo; parece fazer questão, à medida que o tempo passa, de se tornar uma piada cada vez mais completa. Ao terceirizar o orçamento para Deus, como acaba de fazer, ela não pensou, como de costume, no que estava dizendo.
Ela achou que tinha de informar ao Brasil que está tudo bem, mas que pode rolar um “imponderável” aí.
Teria, pelo menos, de fingir que acredita no orçamento do ministro Fernando Haddad, que prevê “déficit zero” para o futuro – se entrarem, é claro, as receitas que o governo não tem, mas aposta que vai ter. Ela achou que tinha de informar ao Brasil que está tudo bem, mas que pode rolar um “imponderável” aí. “O futuro a Deus pertence”, avisou a ministra. Quer dizer: seja o que Deus quiser.
Não melhora as coisas em nada, é claro, a maneira como conjuga o verbo “receber” e atribui a si predicados que não tem, nem poderia ter. “Eu recebi receitas suficientes para zerar o déficit fiscal”, disse a ministra, antes de pedir a intervenção de Deus nas contas de Lula. Como assim, “eu recebi?”.
Ela não recebeu nada, nem vai receber; quem recebe é a Receita Federal, e a possibilidade de que a ministra seja convidada a dar algum palpite no uso esse dinheiro está entre o zero e zero absoluto.
É o vício de sempre dos barões da alta burocracia brasileira, sobretudo dos que ganharam seus empregos no governo pela sua capacidade, em modo extremo, de bajular o chefe – e não pela competência para fazer qualquer tipo de trabalho útil. É assim que este país funciona.
J.R. Guzzo, Gazeta do Povo
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