Jornalista Andrade Junior

quinta-feira, 3 de agosto de 2023

Mal e porcamente adquirida

  Dartagnan da Silva Zanela


  Muitos são os erros que, juntos e misturados (ou isolados e apartados), acabam por dar forma a essa estrovenga que atualmente convencionamos chamar de sistema educacional, que está muito longe de parecer com um sistema e, mais longe ainda, de ser educacional.

Se fôssemos enumerar todos os equívocos, gastaríamos um bom tanto de linhas e, bem provavelmente, não sairíamos do lugar na tentativa de descrever essa encrenca sem par.

De todos os erros que integram e dão forma ao "trambolho de ensinação" vigente em nossa triste nação, provavelmente o maior de todos, o campeão de bilheteria, seria o fato de não pararmos de querer avançar, progredir, modernizar; quando deveríamos estar recuando, sem pestanejar. E já deveríamos a muito tempo ter começado a retroceder.

Tal afirmação pode parecer um tanto esquisita, mas não é não. Se refletirmos um cadinho veremos que essa seria a atitude mais sensata que poderíamos tomar diante do cenário educacional em que nos encontramos.

Sim, eu sei, todo mundo sabe que as autoridades incumbidas de reger a educação, com seus maçudos braços burocráticos, jamais irão fazer algo assim porque, para recuarmos em uma empreitada é imprescindível que admitamos que cometemos um erro e, neste caso, uma série de erros e isso, como todos nós muito bem sabemos, não é algo que políticos, burocratas perdulários e doutos em letras apagadas costumam fazer.

Ah! Os Doutos e especialistas em nulidades mil. Como ignorar esses caboclos que, do conforto de suas cátedras, não são capazes de ver o quanto suas estropiadas ideias revolucionárias estragaram a educação nessa terra de desterrados.

E mesmo que esses figurões vissem e reconhecessem o estrago que foi realizado a partir das suas teorias e idealizações, com toda certeza eles dariam mil e uma piruetas linguísticas, junto com trocentas voltas retóricas, para se esquivarem da cota de responsabilidade que lhes cabe neste latifúndio sem fundo.

Pois é. Isso é triste. É uma baita barbaridade. Mas, infelizmente, essa é a nossa realidade que muitos procuram ocultar com boleiras de piruetas estatísticas sem fim, junto com exigências burocráticas sem sentido.

Mesmo tendo diante de nossas vistas um quadro tétrico como esse, nada impede que nós, pessoas comuns, sem lenço, nem documento, procuremos levar a urgente necessidade de regressar bem a sério, porque, na real, além da educação, estar sendo cinicamente negada para as tenras gerações atuais, ao que tudo indica, continuará a ser recusada para as jovens gerações que estão por vir e, por isso mesmo, regressar é preciso, para corrigir tudo o que não foi corrigido no devido tempo em nós, para que possamos legar algo para nossos filhos e netos.

Quer dizer, nada impede que tomemos outro curso em nossa vida, a não ser a nossa intratável falta de amor sincero pelo conhecimento.

Dito de outra forma, e sem rodeios: no fundo, infelizmente, nós não estamos nem aí para a formação da nossa personalidade, para a edificação do nosso caráter e muito menos para a ampliação do nosso horizonte de compreensão e de ação, tendo em vista que praticamente nunca paramos para refletir seriamente sobre isso, não é mesmo? É ou não é? Entendo.

Sim, eu sei, todo mundo sabe, uma jornada de regresso, a tudo aquilo que foi mal aprendido por nós, é longa. As batalhas são silentes, inglórias, solitárias e isso, realmente, desanima qualquer um, logo no início, mas se não dermos o primeiro passo, se não procurarmos regressar, isso não irá remediar a situação em que se encontra a nossa educação mal e porcamente adquirida e irá legar, de forma cínica, para as futuras gerações, a mesmíssima sina que hoje nos flagela.

*        O autor é professor, escrevinhador e bebedor de café. Mestre em Ciências Sociais Aplicadas. Autor de "A Bacia de Pilatos", entre outros livros.














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