Jornalista Andrade Junior

sĂĄbado, 28 de janeiro de 2023

"O pacote da (anti)democracia do governo Lula"

Gazeta do Povo


 Usando como pretexto os abominĂĄveis atos de depredação contra as sedes dos TrĂȘs Poderes em BrasĂ­lia, em 8 de janeiro, o governo de Lula deve enviar ao Congresso um pacote com medidas supostamente para coibir novas açÔes de vandalismo contra as instituiçÔes. Encabeçado pelo MinistĂ©rio da Justiça e Segurança PĂșblica, as propostas foram apelidadas de “Pacote da Democracia”, mas contĂȘm medidas que nĂŁo condizem em nada com a defesa do Estado DemocrĂĄtico de Direito.

Embora o teor final do documento ainda não tenha sido revelado, o ministro da Justiça, Flåvio Dino, jå adiantou que o pacote deve priorizar quatro eixos: uma emenda constitucional para criar uma Guarda Nacional; uma medida provisória sobre internet; e dois projetos de lei, um para aumentar penas para crimes contra o Estado Democråtico de Direito, e outro para agilizar a perda de bens para quem participa de crimes contra o Estado.


O ideal seria que um pacote de medidas em reação aos atos de 8 de janeiro tivesse surgido por iniciativa do próprio Congresso Nacional.


Sobre a criação de uma Guarda Nacional, trata-se de uma medida desnecessĂĄria e perigosa, que pode criar um “ExĂ©rcito paralelo”, sob comando do Executivo. Regimes autoritĂĄrios Ă© que costumam criar forças de segurança especĂ­ficas para satisfazerem as ordens dos ditadores. Mesmo sendo compreensĂ­vel pensar formas de melhorar a estrutura de segurança da sede dos TrĂȘs Poderes em BrasĂ­lia, isso poderia ser feito sem envolver a criação de uma nova força de segurança. Lembre-se que o Congresso Nacional jĂĄ possui sua PolĂ­cia Legislativa.

AlĂ©m disso, a proposta de criação de uma Guarda Nacional nĂŁo foi motivada pelo 8 de janeiro, como alguns querem fazer crer. Em setembro do ano passado, o grupo que formulava as propostas para a ĂĄrea de segurança pĂșblica do entĂŁo candidato Lula jĂĄ previa a criação de uma Guarda Nacional. Outro agravante Ă© a possibilidade de que a Guarda possa ser mobilizada conforme a vontade do presidente da RepĂșblica. Em entrevista Ă  TV Brasil na quarta-feira (25), o ministro FlĂĄvio Dino disse que a Guarda "serĂĄ uma instituição dedicada Ă  segurança das ĂĄreas cĂ­vicas, mas poderĂĄ atuar em ĂĄreas de fronteira, territĂłrios indĂ­genas e unidades de conservação".


CaberĂĄ ao Congresso executar com rigor seu papel, evitando que medidas antidemocrĂĄticas avancem. Que eles nĂŁo nos desapontem


O pacotaço de Lula prevĂȘ tambĂ©m aumento de penas para crimes contra a democracia. Hoje, crimes contra as instituiçÔes democrĂĄticas tĂȘm pena de 4 a 8 anos para açÔes que “com emprego de violĂȘncia ou grave ameaça”, tentam “abolir o Estado DemocrĂĄtico de Direito, impedindo ou restringindo o exercĂ­cio dos poderes constitucionais”; ou de 4 a 12 anos nos casos de tentativa de “depor, por meio de violĂȘncia ou grave ameaça, o governo legitimamente constituĂ­do”. Levando-se em conta a grandeza e as implicaçÔes dos crimes mencionados, parece uma pena branda e a revisĂŁo do tema nĂŁo deixa de ser pertinente. Mas Ă© importante nĂŁo haver pressĂ”es que impeçam o Congresso Nacional de promover um amplo e robusto debate sobre o assunto.

JĂĄ a proposta de incluir no pacote uma medida provisĂłria – que nĂŁo depende da anĂĄlise do Congresso para entrar imediatamente em vigor – para obrigar as redes sociais a monitorar e remover conteĂșdos considerados “antidemocrĂĄticos” Ă© extremamente perigosa. A ideia Ă© que a remoção de conteĂșdos “antidemocrĂĄticos” das redes sociais seja imediata e nĂŁo dependa de anĂĄlise ou pedido Judicial – FlĂĄvio Dino chegou a defender que a remoção aconteça “em horas”.

Mesmo quando hĂĄ a anĂĄlise da Justiça, a falta de clareza sobre a distinção entre conteĂșdos factualmente errĂŽneos e opiniĂ”es jĂĄ levou a inĂșmeras decisĂ”es equivocadas. Na Gazeta do Povo noticiamos dezenas de casos de censura a opiniĂ”es taxadas indevidamente de fake news ou desinformação. Agora, Dino vai deixar – ou melhor – obrigar as big techs por lei a se tornaram uma ferramenta de censura, alinhadas aos outros ĂłrgĂŁos criados por Lula para criminalizar e perseguir aqueles que supostamente postarem e divulgarem “desinformação”.

O ideal seria que um pacote de medidas em reação aos atos de 8 de janeiro tivesse surgido por iniciativa do próprio Congresso Nacional. Melhor ainda se fosse em outro momento, diferente do atual, onde a lembrança dos acontecimentos ainda é viva e pode dificultar uma anålise mais equilibrada.

Mas uma vez que se trata de algo inevitĂĄvel – Lula jĂĄ disse que o pacotaço deve ser encaminhada nos primeiros dias de fevereiro ao Legislativo –, caberĂĄ ao Congresso executar com rigor seu papel, evitando que medidas antidemocrĂĄticas avancem. Que eles nĂŁo nos desapontem.












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