Jornalista Andrade Junior

segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

'De que lado você ficaria numa peleja entre Lula e Alexandre de Moraes?',

  indaga Paulo Polzonoff Jr.

FAZ O L....

Semana passada escrevi uma obra de ficção ou, se preferirem, uma notícia falsa (guilty as charged) baseada em fatos reais, na qual Alexandre de Moraes dava 48 horas para Lula explicar essa história de que o impeachment de Dilma Rousseff foi um golpe de Estado. Apesar do asterisco e dos elementos evidentemente caricaturais do texto, houve quem acreditasse. Mas não se apresse em condenar os leitores mais afoitos, distraídos ou escravos da indignação cotidiana. A confusão diz mais sobre o nosso tempo, facilmente confundível com uma caricatura.

Sobre a possibilidade de um atrito entre Moraes e Lula, e em meio a elogios discretos, xingamentos histéricos e um ou outro dedo-duro, houve quem falasse em jogo de cena e em teatro das tesouras. Mas duas teorias da conspiração atraíram meu olhar porque nesta encenação de caricaturas em que vivemos, você sabe, o que é mera especulação hoje pode se revelar uma realidade mal camuflada pela lama da política assim, ó, num estalar de dedos.

A primeira é tão tosca que provavelmente seja verdadeira: o vice Geraldo Alckmin, o ex Temer e o manda-chuva Alexandre de Moraes estariam envolvidos num complô para apear Lula do seu poder-pangaré. Assim Alckmin, traído pelo PSDB e pelos eleitores que insistem em vê-lo como uma leguminosa em forma de gente, finalmente se sentaria no Trono de Babaçu da política nacional.

A outra é mais complexa e envolve intrincadíssimas táticas do xadrez 4D. Mas, em resumo, ela diz que as falas de Lula na Argentina chamando Michel Temer de golpista são uma forma de criar, entre a militância esquerdista, o ambiente propício para o sacrifício de Alexandre de Moraes, até aqui um importante peão na volta do PT ao poder. Nesse conluio cheio de camadas, haveria espaço até para o senador Rodrigo Pacheco, que teria se comprometido em entregar a cabeça de Moraes (metaforicamente falando, ó amado ministro!) caso seja reeleito presidente do Senado.

Em comum, as duas teorias têm um coisa: ambas apostam na cisão dessa Frente Ampla, por assim dizer, que ajudou a eleger Lula por meio de interferências questionáveis do partido Todos Somos Esquerdistas (TSE). O quê? Não posso dizer que Lula foi eleito com um empurrãozinho dos amigos e seus indecorosos tapinhas na cara? Ah, desculpe. Não está mais aqui quem falou.


A luta do século!

Aconteça o que acontecer, o fato é que uma briga colocaria, no corner esquerdo, pesando, sei lá, uns 100kg, com 77 anos nas costas, 1,68m de altura e com um histórico de seis eleições, sendo três derrotas humilhantes, duas vitórias por nocaute técnico e uma por pontos calculados sabe-se lá como... Luiz Inácio Lula da Silva! No outro corner esquerdo (!), ele, o desafiante, o terror da direita, o grande protetor da democracia; com 54 anos, pesando quantos quilos quiser pesar, tendo a altura que quiser ter, e sem nem uma mísera eleição no currículo; o único, o inconfundível, o autoritário, a calva mais querida do Brasil... Alexandre de Moraes!

Essa disputa pelo poder total na ex-democracia chamada Brasil, contudo, obrigaria esse grupo que sempre me constrange resumir ao termo “direita”, mas paciência, a assumir um dos lados. O que seria no mínimo interessante. O pessoal que até ontem estava acampado em frente aos quartéis, por exemplo, ficaria ao lado de quem? O clã Bolsonaro, acredito que ficasse ao lado de Lula. Sérgio Moro ficaria ao lado de Moraes, assim com boa parte dos liberais que até ontem estavam fazendo o “L” pela democracia. Reinaldo Azevedo voltaria a ser o maior antipetista do mundo – tudo para garantir a vitória do PSDB, digo, Moraes. E a militância de extrema-esquerda, que hoje se regozija com as arbitrariedades do todo-poderoso do STF, talvez fosse protagonista de “atos terroristas antidemocráticos” em defesa do Painho.

Claro que, enquanto uns estivessem manifestando sua preferência por Lula ou Alexandre de Moraes, arcando com as consequências normais dessa escolha, haveria os advogados do deixa-disso. Do não-sujo-minhas-delicadas-mãos. De cima do muro de marfim, esse grupo sempre prudente & sofisticado ficaria grasnando chavões e gastando todo um estoque de aspas para, citando Fulano Obscuro e Cicrano Chato Paca, justificar o olhar distante, descomprometido e soberbo.

Mas agora o texto está terminando e, antes de mais nada, quero agradecer a você que chegou até aqui. Obrigado. Aposta quanto que a maioria das pessoas não se dará ao trabalho e reagirá instintivamente ao título? Tudo bem. Eu meio que já previa isso. De qualquer modo, quero aproveitar o fato de estar diante do distinto e raro Leitor Esclarecido para repetir a pergunta que fiz lá no alto: de que lado você ficaria numa peleja entre Lula e Alexandre de Moraes?

Ah, já ia me esquecendo! Acredito que, neste momento, para além de preocupações econômicas de curto e médio prazo, é preciso reconquistar a liberdade. Até porque só quando formos novamente livres para questionarmos coisas como a lisura das eleições (e talvez até negá-la!) é que poderemos contestar a legitimidade das autoridades "eleitas", antes de as botarmos porta afora. Portanto, se Lula comprasse mesmo essa briga (o que não acredito que vá acontecer) ele teria um tiquinho do meu respeito.


Gazeta do Povo














publicadaemhttp://rota2014.blogspot.com/2023/01/de-que-lado-voce-ficaria-numa-peleja.html


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