Jornalista Andrade Junior

domingo, 1 de janeiro de 2023

‘Existe risco de uma crise severa no Brasil’, diz Marcos Lisboa, que esteve no 1º governo Lula

 O economista afirma que o país enfrenta um cenário de descontrole de gastos públicos  Redação Oeste


Marcos Lisboa, um dos principais nomes da área econômica da primeira gestão de Lula, afirmou que “o Brasil está no caminho de uma nova crise severa se o governo eleito não adotar um freio de arrumação”. Lisboa analisa que o país lida com um cenário preocupante de gastos públicos desenfreados e enfraquecimento das regras fiscais.

“Eu temo que, talvez, a gente tenha que enfrentar uma nova grave crise para poder começar a superar os problemas que estão sendo construídos”, afirmou Lisboa em entrevista ao Estado de S.Paulo, neste sábado, 31.

O atual presidente do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper) ocupou o cargo de secretário de Política Econômica no ministério liderado por Antônio Palocci, entre 2003 e 2005. Ele descreveu a sua participação no governo petista da época mais como um “acidente do que uma intenção”.

O economista afirmou que a agenda de estimular o investimento com subsídios e direcionamentos adotada por Lula, antes de deixar a presidência da República, causou um baixo crescimento e uma crise fiscal que hoje é mais grave do que há 20 anos.

Marcos Lisboa ponderou que, mesmo com dois anos de pandemia, a economia reagiu melhor do que o esperado, mas explicou que as 42 medidas aprovadas no governo Bolsonaro, sendo 12 delas emendas constitucionais, como o auxílio-taxista, auxílio-caminhoneiro, proteção para etanol, distribuição de benefícios, “joga o dinheiro da sociedade no mar para beneficiar alguns”. “O aspecto trágico do Brasil é que quando as coisas começam a melhorar a gente anda para trás”, afirmou o economista.

Lisboa ressalta que o Brasil está submerso em um “descaminho institucional imenso” na última década e se referiu ao governo Dilma como “muito incompetente tecnicamente e na política”.

“Era uma agenda incrivelmente atrapalhada, ineficaz, de pouco diálogo e tecnicamente superficial”, disse o economista. “Na última eleição, foi impressionante como o Congresso se apropriou de verbas.”, sustenta. “Com o fundo eleitoral, por exemplo, tem de explicar para o estrangeiro que o Brasil dá US$ 1 bilhão para os partidos disputarem a eleição, fora o fundo partidário, fora o horário eleitoral gratuito.”

A crise de 2012 foi contida pelas reformas feitas pelo presidente interino Michel Temer, que sucedeu ao cargo com o impeachment de Dilma Rousseff. Marcos disse que bastou a crise ser contida para que os grupos “organizados, com apoio da esquerda e da direita, se realinhassem para voltar a captura do Estado”.

Com a eleição de Lula, o presidente do Insper acredita que estamos a caminho de outra crise econômica severa, de acordo com os resultados da Bolsa.

“Esse risco existe e ele se agravou nas últimas semanas. A continuar essa expansão do desequilíbrio das contas públicas, a dívida pode sair de controle no curto prazo, e o risco é de um aumento da inflação e das taxas de juros no médio prazo, com impactos recessivos sobre a economia.”











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O economista alega que tem esperança no “pragmatismo de uma parte da liderança da esquerda se as coisas começarem a desandar”. Ele alerta que se o governo eleito se manter na posição de que o mercado é vilão não terá bons resultados. “Essa falácia de que o mercado é um sindicato, alguém que a gente negocia… Não existe isso”, concluiu.

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