Jornalista Andrade Junior

segunda-feira, 27 de setembro de 2021

COVEIROS DA LIBERDADE

 Percival Puggina

 JĂĄ vivi perĂ­odos de democracia. JĂĄ provei tempos de esperança, desesperança, autoritarismo, ditadura. Cruzei por crises e bolhas. Nunca, porĂ©m, exceto quando viajo a Cuba, me senti sob tensĂ”es inerentes a um regime totalitĂĄrio.

É importante perceber as diferenças. Nos governos autoritĂĄrios e nas ditaduras, a opressĂŁo Ă© atributo do presidente, do lĂ­der mĂĄximo, daquele que enfeixa a autoridade ou o poder absoluto. As demais instituiçÔes do Estado o seguem ou servem. A imprensa Ă© objeto de censura, inibida ou proibida de criticar o governo.

O que estamos vivendo Ă© diferente. Acusado de ser um “ditador”, o presidente legĂ­timo da RepĂșblica sofre severa e majoritĂĄria oposição do Congresso e a ela se submete. Recebe antagonismo frontal, cumpre ordens mesmo se esdrĂșxulas e acumula interferĂȘncias do STF em seu governo. É cotidianamente atacado, vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana, pela quase totalidade dos grandes meios de comunicação do paĂ­s. Expressa sua indignação, muitas vezes de modo grosseiro, mas jamais prendeu um jornalista, censurou um veĂ­culo ou recolheu uma edição seja lĂĄ do que for.

Como se vĂȘ, fica difĂ­cil diante desse quadro reconhecer a narrativa lançada ao mundo pela mĂ­dia e pelos partidos de esquerda a respeito dos momentos opressivos que estamos a enfrentar em nosso paĂ­s. Nesse concurso de narrativas, em cuja plateia sentamos como cidadĂŁos consumidores de informação, resulta impossĂ­vel desconhecer a falta de sintonia entre as mentiras contadas e a realidade vivida.

Sim, hĂĄ opressĂŁo. Sim hĂĄ medo no ar. Sim, a democracia, constrangida, estĂĄ em licença. Sim, as idĂ©ias consagradas nas urnas de 2018 sĂŁo recusadas por instituiçÔes da RepĂșblica. Sim, a vontade popular Ă© objeto de desprezo, a voz das ruas renegada e quando se expressa nĂŁo Ă© ouvida. Sim, a Constituição Ă© ruim, mas muito pior Ă© o que fazem com ela! Sim, hĂĄ censura, mas por açÔes concretas do STF. Sim, temos jornalistas presos, nĂŁo pelo governo, mas pelo Supremo. Sim, hĂĄ tambĂ©m uma censura privada, nas plataformas das redes sociais, em parte por conta prĂłpria, em parte por ordens judiciais. Como em Cuba, hĂĄ jornalistas presos, um deles em greve de fome, como em Cuba. Mas aqui, presos e censurados sĂŁo apoiadores do presidente...

A tudo, o Congresso Nacional consente, incapaz de cumprir seu papel, por temor e ciĂȘncia das vergonhas de tantos de seus membros. AliĂĄs, a maioria se vale das condiçÔes inerentes ao totalitarismo em curso para aprovar qualquer coisa em benefĂ­cio prĂłprio e em favor da impunidade dos corruptos e dos Ă­mprobos. NĂŁo Ă© assim nos totalitarismos?

Selando a trama sinistra, cai sobre tais malefĂ­cios o silĂȘncio da mĂ­dia militante, que sĂł tem um assunto, um alvo e um objetivo: descarregar os males de uma democracia irreconhecĂ­vel e o absoluto descrĂ©dito em que mergulharam as instituiçÔes sobre a pessoa do presidente da RepĂșblica.

Com quanto pesar escrevo este pequeno diagnĂłstico, pedindo a Deus que suste as mĂŁos das quais saem os golpes contra a liberdade de seus filhos!









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