MIRANDA SÁ
“Nossas vidas começam a terminar no dia em que permanecemos em silêncio sobre as coisas que importam” (Martin Luther King)
A fixação do presidente Jair Bolsonaro pela farda é comovente; foi de Brasília para o Rio assistir o funeral de um jovem paraquedista acidentado e morto em treinamento, mas se mostra indiferente diante dos mais de 50 mil óbitos por covid-19 no País. Dispensa humanidade para um e sequer uma palavra de conforto às famílias enlutadas…
O Presidente ignora e não tem um só assessor encorajado para lembrar-lhe, que todos os brasileiros, com exceção apenas de 30 ou 300, estão pesarosos pelas vidas ceifadas na pandemia, e se solidarizam com os infectados à espera do pior.
Recebe apoio, sem dúvida, pela fração que lhe cultua no melhor estilo do que fizeram os nazistas com “mein führer” Hitler e os bolcheviques russos com “camarada” Stálin. São agrupamentos que os sociólogos classificam como “massa”.
A massa representa desmiolados reunidos em grupos, sob a liderança de algum esperto carreirista político ou de um malandro ludibriador mercenário. Toma o partido do condutor que grita mais ou incita com ardor de uma palavra-de-ordem espalhafatosa.
A massa tem coletivamente a mentalidade de uma criança de nove, 10 anos, aberta às sugestões dos adultos que respeitam. Participando, então, da política, é capaz de tudo: criar mitos, coroar heróis, derrubar estátuas, injuriar personalidades e incendiar edifícios públicos. Até assaltar bancos…
O gênio de Shakespeare nos deu um retrato sem retoques disto, descrevendo o velório de César, diante da massa hostil vociferando contra o morto e aplaudindo seus assassinos. Repercute o discurso fúnebre de Marco Antônio, recordando os feitos de César, e apresentando o testamento dele deixando os bens para o povo romano.
Este drama shakespeariano tem como apoteose a notável inversão do comportamento da massa exortando a memória de César e se voltando contra os conspiradores que o mataram.
Não é preciso um aprofundamento sociológico para se ver que há uma diferença enorme entre massa, povo, povo organizado e povo fardado. A própria convivência mostra que o povo tem consciência cívica; quando organizado, participa de movimentos de acordo com os seus ideais; e o povo militarmente estruturado obedece a uma hierarquia e aos valores patrióticos.
É assim que se forma uma Nação esclarecida e culta. Nação, do latim natio, de natus (nascido), é uma comunidade estável, historicamente constituída voluntariamente por uma comunidade baseada num território comum, com a mesma língua, herdando a mesma cultura e tendo as aspirações materiais e espirituais comuns.
A farda é a vestimenta padronizada que distingue as pessoas, usada por estudantes, clérigos, guardas municipais, policiais militares, porteiros de hotel e até os trajes cerimoniais da seita Santo Daime, que os adeptos chamam de “farda”.
A Farda é o uniforme das forças militares, instituído desde o século 17 na França e posteriormente adotado por todos os países ocidentais, espelhando o “povo fardado”, constituído para defender a Nação.
O Brasil é uma Nação-Estado constituída federativamente por regiões subnacionais, estados-membros, que além da cultura comum apresentam também formações culturais próprias, costumes, tradição e linguística.
A tese de doutorado de Janote Pires Marques na Universidade Federal do Ceará sobre o ensino militar no Brasil, evoca o poeta nacional Castro Alves e o seu poema “Quem Dá aos Pobres, Empresta a Deus” – desenvolvendo a relação benéfica entre a Cultura – O Livro -, e o Militar – O Sabre; “As duas grandezas que se abraçam e se cruzam”.
Castro emociona com os versos: “Não cora o livro de ombrear co’o sabre…/ Nem cora o sabre de chamá-lo irmão…. “ E, como o Poeta, os brasileiros bem formados culturalmente esperam do povo fardado o sabre para garantir institucionalmente a manutenção do Estado de Direito, com respeito à Constituição e aos poderes republicanos.
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