por Miranda Sá
“Acho que contamos histórias para não ficarmos sós” (Do filme “Passageiros”)
Não vou falar dos que viajam num veículo, por necessidade, a convite ou de carona… vejo aquele que passa rápido ou aquilo de pouca duração, o transitório, o efêmero. Aliás, a palavra Efêmero significa curiosamente “o que dura um só dia”.
Designa também uns pequenos insetos que voam e amerissam em águas estagnadas, cuja vida é limitada a 24 horas, e nos leva a considerar a relatividade do tempo nas nossas vidas.
O cálculo mais interessante sobre a passagem dos anos tiramos do genial escritor Liev Nikoláievich Tolstói, pai do realismo na literatura russa. Tolstoi explica a relatividade do tempo dizendo que “Para o menino de cinco anos, um ano é a quinta parte da vida; enquanto para um homem de 80 anos, é a octogésima parte”.
O que tranquiliza os octogenários, como eu, é lisonja do filósofo Platão refletindo que “devemos aprender durante toda a vida, sem imaginar que a sabedoria vem com a velhice”… No meu caso, guardo dúvidas; continuo estudando como um adolescente.
E sempre volto a lembrança aos bancos escolares como agora, recordando uma anedota sobre o tema que corria na Faculdade Nacional de Direito em torno do professor Hermes Lima, de quem recordo com muito carinho.
Casado com a senhora Maria Moreira Dias Lima, com quem mantinha um afetuoso relacionamento, Hermes atendeu-a prontificando-se a fazer uma palestra sobre a vida na Terra. Como a esposa era ligada à uma das famílias mais ricas do Brasil, os Larragoiti, donos na época da maior empresa de seguros da América Latina, a Sul América S.A., a audiência feminina era deste patamar.
O Professor discorreu didaticamente sobre o tema sugerido, terminando por enfatizar a perspectiva cosmológica de que mais ou menos a 50 milhões de anos o nosso sol e seu sistema planetário desaparecerão.
Passados alguns dias, dona Maria relatou ao marido que suas amigas ficaram apavoradas com a expectativa do fim do mundo; o marido pediu-lhe que as reunisse de novo para uma conversa com elas. Assim se deu, e Hermes detalhou o que representa os milhões de anos na história planetária, e para amainar o medo, concluiu que o sol viveria 100 milhões de anos. Para agradar o círculo social da sua mulher, adiou por 50 milhões de anos o fim do mundo…
A verdade é que mesmo sofrendo catástrofes, pandemias e guerras. acontecimentos passageiros, o planeta Terra e seus habitantes ainda terão muito tempo de vida. A humanidade se desenvolve científica e tecnologicamente a passos largos e supera todos os malefícios.
Houvesse mais aplicação dos governos para a educação, as novas gerações viriam com melhor formação, física e mental. Pena que estejamos vivendo – não só no Brasil, mas pelo mundo afora -, um período histórico de retorno às ideias totalitárias e tendência ao autoritarismo.
Leva-nos a pensar os alertas da filosofia proudhoniana e ao ‘1984’ de George Orwell, conscientizando-nos de que “ser governado significa ser observado, inspecionado, admoestado, avaliado, censurado, cercado, comandado, controlado, dirigido, doutrinado, espionado, explorado, filmado, fotografado, legislado, regulamentado”.
Isto, porém, em vez de revoltar, leva a cidadania a se acomodar e esperar que venha dos governantes as iniciativas no campo da educação, saúde e segurança, quando coletivamente poder-se-ia criar condições objetivas para que isto fosse feito.
Agora mesmo, no caso do covid-19, em vez de uma ação coletiva e unitária contra a pandemia infecciosa, tudo vem de cima para baixo, envolvido em divisões ideológicas e grupais. E o mais triste é que vem divulgado numa mídia que está exagerando no noticiário criando o pânico entre os desinformados.
Isto nos leva a Proudhon, quando escreveu: – “Os jornais são os cemitérios das ideias.“
extraídadeblogdomiranda
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