Jornalista Andrade Junior

sábado, 21 de março de 2020

"Passageiros",

por Miranda Sá

“Acho que contamos histórias para não ficarmos sós” (Do filme “Passageiros”)
Não vou falar dos que viajam num veículo, por necessidade, a convite ou de carona… vejo aquele que passa rápido ou aquilo de pouca duração, o transitório, o efêmero. Aliás, a palavra Efêmero significa curiosamente “o que dura um só dia”.
Designa também uns pequenos insetos que voam e amerissam em águas estagnadas, cuja vida é limitada a 24 horas, e nos leva a considerar a relatividade do tempo nas nossas vidas.
O cálculo mais interessante sobre a passagem dos anos tiramos do genial escritor Liev Nikoláievich Tolstói, pai do realismo na literatura russa.  Tolstoi explica a relatividade do tempo dizendo que “Para o menino de cinco anos, um ano é a quinta parte da vida; enquanto para um homem de 80 anos, é a octogésima parte”.
O que tranquiliza os octogenários, como eu, é lisonja do filósofo Platão refletindo que “devemos aprender durante toda a vida, sem imaginar que a sabedoria vem com a velhice”… No meu caso, guardo dúvidas; continuo estudando como um adolescente.
E sempre volto a lembrança aos bancos escolares como agora, recordando uma anedota sobre o tema que corria na Faculdade Nacional de Direito em torno do professor Hermes Lima, de quem recordo com muito carinho.
Casado com a senhora Maria Moreira Dias Lima, com quem mantinha um afetuoso relacionamento, Hermes atendeu-a prontificando-se a fazer uma palestra sobre a vida na Terra. Como a esposa era ligada à uma das famílias mais ricas do Brasil, os Larragoiti, donos na época da maior empresa de seguros da América Latina, a Sul América S.A., a audiência feminina era deste patamar.
O Professor discorreu didaticamente sobre o tema sugerido, terminando por enfatizar a perspectiva cosmológica de que mais ou menos a 50 milhões de anos o nosso sol e seu sistema planetário desaparecerão.
Passados alguns dias, dona Maria relatou ao marido que suas amigas ficaram apavoradas com a expectativa do fim do mundo; o marido pediu-lhe que as reunisse de novo para uma conversa com elas. Assim se deu, e Hermes detalhou o que representa os milhões de anos na história planetária, e para amainar o medo, concluiu que o sol viveria 100 milhões de anos. Para agradar o círculo social da sua mulher, adiou por 50 milhões de anos o fim do mundo…
A verdade é que mesmo sofrendo catástrofes, pandemias e guerras. acontecimentos passageiros, o planeta Terra e seus habitantes ainda terão muito tempo de vida. A humanidade se desenvolve científica e tecnologicamente a passos largos e supera todos os malefícios.
Houvesse mais aplicação dos governos para a educação, as novas gerações viriam com melhor formação, física e mental. Pena que estejamos vivendo – não só no Brasil, mas pelo mundo afora -, um período histórico de retorno às ideias totalitárias e tendência ao autoritarismo.
Leva-nos a pensar os alertas da filosofia proudhoniana e ao ‘1984’ de George Orwell, conscientizando-nos de que “ser governado significa ser observado, inspecionado, admoestado, avaliado, censurado, cercado, comandado, controlado, dirigido, doutrinado, espionado, explorado, filmado, fotografado, legislado, regulamentado”.
Isto, porém, em vez de revoltar, leva a cidadania a se acomodar e esperar que venha dos governantes as iniciativas no campo da educação, saúde e segurança, quando coletivamente poder-se-ia criar condições objetivas para que isto fosse feito.
Agora mesmo, no caso do covid-19, em vez de uma ação coletiva e unitária contra a pandemia infecciosa, tudo vem de cima para baixo, envolvido em divisões ideológicas e grupais. E o mais triste é que vem divulgado numa mídia que está exagerando no noticiário criando o pânico entre os desinformados.
Isto nos leva a Proudhon, quando escreveu: – “Os jornais são os cemitérios das ideias.“














extraídadeblogdomiranda

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