Jornalista Andrade Junior

sábado, 28 de setembro de 2019

J.R. Guzzo e o "Mundo das coisas"

Veja

                         FOTO ANDRADE JUNIOR
Há uma porção de opções ao seu dispor para tomar uma posição sobre a questão da Amazônia e da sua floresta.

Numa ponta, há um mundo de gente convicta de que a Amazônia está sendo destruída pelo fogo neste exato momento e de que essa calamidade, entre outras coisas, vai impedir daqui a pouco a população mundial de respirar.

A solução sugerida, nessa confederação de ideias, fantasias e interesses que anuncia a breve transformação em deserto dos 4 milhões de quilômetros quadrados hoje cobertos pela mata amazônica no Brasil, é alguma modalidade até agora não esclarecida de “intervenção internacional” — afinal, dizem, a Amazônia é uma propriedade comum “da humanidade”.

Como?

Via ONU ou via outra força qualquer que também ainda não está definida com clareza.

Na ponta oposta, há o bloco dos que classificam todos os alertas sobre os riscos ambientais existentes na região de conspiração, estrangeira e interna, contra o Brasil, com propósitos políticos, econômicos e ideológicos.

Entre as duas, há cinquenta tons de cinza.
Vai aqui uma sugestão: que tal, em vez de indignar-se automaticamente de um lado ou de outro, ir ver o que está realmente acontecendo?

Não é assim tão complicado.

Basta tomar nota de quais são exatamente os fatos, primeiro — e só dar a sua opinião depois.

A Amazônia, afinal de contas, é uma realidade com existência física; não é uma causa.

Faz parte do mundo das coisas, e não do mundo das ideias, e tudo o que acontece dentro de seus limites pode ser atestado pela verificação objetiva dos fatos.

A região amazônica pode ser definida pelo seu bioma — ou seja, por um espaço geográfico que tem características específicas, estabelecidas de acordo com critérios científicos, e não por crenças, desejos ou atos administrativos.

Todos, naturalmente, têm direito às próprias opiniões — mas não aos próprios fatos, como dizia um antigo sábio político americano.

Eles são o que são.

Parece sensato, assim, tentar entender o problema a partir da razão.

Ou há alguma ideia melhor?
A razão mostra, com base na constatação material dos fatos, que o Brasil é o país que mais conserva as suas florestas, mesmo porque não há mais florestas na maioria dos países — e o que sobrou são desertos verdes cobertos quase totalmente pelo mesmo tipo de vegetação, com baixíssima diversidade e reduzido interesse para o equilíbrio ambiental.

É preciso, já de saída, fazer a diferença entre o bioma amazônico e uma coisa chamada Amazônia Legal.

O “Bioma Amazônia” é a Amazônia de verdade, onde existe floresta de verdade.

Tem 4,2 milhões de quilômetros quadrados e representa, muito simplesmente, a metade do território do Brasil.

A “Amazônia Legal”, com 1 milhão de quilômetros quadrados a mais, é apenas uma ficção burocrática, nascida de manobras tributárias — e engloba um espaço geográfico muito maior que o da mata verdadeira para permitir que as áreas ali localizadas ganhem vantagens no pagamento de impostos.
Nas contas que correm o mundo, essa Amazônia de papel, com mais de 5 milhões de quilômetros quadrados e onde entra até o Pantanal, é a que vale.

Obviamente, a “devastação” anotada ali é muito maior do que na floresta verdadeira.

Como poderia ser diferente se os cálculos de “desmatamento” incluem regiões já cultivadas e utilizadas pela pe­cuá­ria há mais de cinquenta anos?

O que interessa mesmo, em termos de mata com árvore, galho e folha, é o Bioma Amazônia.

Já estão preservados por lei 65% de toda a área ocupada por ele — não se pode mexer mais ali, nunca mais, mesmo porque boa parte disso são terras indígenas, parques nacionais, espaços do Exército.

Esse mundo de floresta pode até crescer; diminuir  não dá mais.

A verdade, em suma, é que a vegetação nativa na Amazônia ocupa mais de 350 milhões de hectares — uma área em que caberiam dezessete países da Europa, do extremo norte da Suécia ao extremo sul da Itália, de Portugal à Polônia.
O verdadeiro problema, na verdade, é o exato contrário da visão vendida mundo afora.

O Brasil tem floresta até demais — mas a sua capacidade de cuidar dela, e cumprir as leis que a protegem, é francamente miserável.

O Estado não tem nem aviões-­bombeiros para apagar incêndios.

Não consegue dar documentação aos mais de 500 000 pequenos proprietários de terras que vivem ali. Não é capaz de evitar o desmatamento ilegal.

Não atende às necessidades sanitárias básicas de seus 25 milhões de habitantes.

Eis aí o desastre real.

Não há nenhuma necessidade de inventar desastres que não existem.









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