Murillo de Aragão
O debate ideológico no mundo contemporâneo tem certas características que às vezes não são percebidas. Uma delas é o fato de que, a partir dos anos 1980, iniciou-se um movimento de convergência política para uma espécie de centro alargado que abarca soluções de direita e de esquerda.
No Brasil, os governos de Itamar Franco, FHC e Lula são exemplos — tempos em que as posições e os escritos do sociólogo Anthony Giddens eram exaltados.
Outra característica de nossos dias é que, além do surgimento do centro alargado — ou terceira via, como identificado por alguns —, pouco aconteceu. Ao menos no mundo ocidental.
Vivemos limitados pelos antolhos da direita e da esquerda e suas subdivisões propostos ainda no século XIX. Apenas o fortalecimento das teocracias ameaçou o debate ideológico binário.
A terceira característica é a permanência do populismo como processo de embalagem desse debate. De modo geral, o populismo propõe uma narrativa na qual o interesse do povo, do cidadão comum, deve ser imposto sobre o interesse das elites. Mas a questão não é simples, já que muitas elites se apropriam de discursos também populistas.
O populismo tende a fazer com que os governos orientem suas decisões pela sensação térmica positiva que provoca na população. O pragmatismo é orientado pela capacidade de agradar a maioria.
Tudo destinado à perpetuação do núcleo político que comanda o show. Assim, o controle do processo político tem no uso intensivo do populismo um recurso primordial. E o populismo vem se revelando mais importante do que as próprias ideias que o movem, independentemente da matriz ideológica.
A sua explosão se relaciona com a banalização da cultura, a decadência da imprensa e a emergência da civilização do espetáculo. Mas sobretudo com uma política que não se baseia em princípios éticos e morais.
A relação do populismo com as ideologias gera narrativas autoalimentadoras de regimes autoritários, tanto de esquerda quanto de direita, bem como nas teocracias. E esse mecanismo abastece o fluxo de informações superficiais, espetaculosas e efêmeras, que apelam mais para os efeitos especiais do que para a racionalidade.
O lulismo é um exemplo do elitismo de esquerda que se propôs popular e extrapolou no populismo. Recolheu milhões de reais em doações partidárias e eleitorais e naufragou na corrupção para defender os privilégios de uma elite e se perpetuar no poder.
Os lulistas jamais farão autocrítica sobre o seu populismo. Aliás, populismo e privilégios andam muito mais próximos do que se pensa. E são um disfarce magistral para fascistas de todos os matizes ideológicos.
IstoE
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