Jornalista Andrade Junior

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Secretário de Defesa dos EUA

Recebi, de um amigo e leitor do blog, algumas observações sobre uma palestra do secretário da Defesa dos EUA, Leon Panetta, proferida na Escola Superior de Guerra (ESG), no Rio de Janeiro, no dia 25 de abril de 2012. Ele destacou nessa palestra apenas 21 trechos, e gostaria de observar,  conjecturar e até perguntar de um em um sobre o que me parece ser um grande bolo binacional assando no forno neste exato
momento:

1) Esta palestra aparentemente buscava ser uma janela para o grande público
onde se transmitiria a mensagem americana de dias melhores e relações mais
igualitárias entre os EUA e o Brasil. >> Palestras na ESG jamais chegam ao
grande público, a não ser que fosse proferida pelo Obama em pessoa. Mas um
preparativo dirigido às elites pensantes pode ser bem válido aqui.

2) Ele falou que os dois países se encontram num ponto crítico da história
em comum. >> Estamos em uma época de grandes mudanças: a Europa cairá em
crise profunda e deverá arrastar países como os EUA e a China, a grande
exportadora que ficará sem mercado. Os EUA estão bastante endividados e são
uma potência econômica decadente. Já o Brasil tem sido bem mais fechado a
tudo e é uma potência econômica ascendente. Mas todos sofrerão a crise.

3) Está na hora de forçarmos o nascimento de um novo acordo, simultaneamente
forte e inovador, baseado nos interesses mútuos dos dois países, enquanto
potências ocidentais. >> Já que ele fala pela área de Defesa dos EUA, e em
nome do governo Obama, fica óbvio que os dois governos estão costurando uma
grande aliança na área, ou ele não perderia tempo falando sobre isso no
Brasil, como não perderia tempo falando a respeito no Chipre ou na Nova
Guiné. Essa aliança será forte e inovadora, mas ainda falta explicarem aos
dois povos como ela será de fato, se é que haverá alguma. >> Suspeito que a
coisa esteja bastante quente. Evidências como a recente e intensa ponte
aérea de autoridades do primeiro escalão entre as duas capitais não podem
ser negadas. O FX-2 seria mero detalhe, porém, seria ainda uma peça
fundamental na receita do grande bolo.

4) O Brasil se encontra prestes a tomar o seu justo lugar na comunidade das
nações. >> Na hora certa, poderá ser anunciado pelo presidente Obama o apoio
explícito ao Brasil pelo sonhado assento permanente no Conselho de Segurança
da ONU. Esta será a cereja do bolo. Provavelmente, haverá um grande anúncio
com Obama e Dilma juntos em rede (bi) nacional. Mas não será um presente sem
custos elevados para o Brasil.

5) Partimos agora para novos desafios como o extremismo violento, países
desestabilizadores como Irã e Coréia do Norte, potencias ascendentes no
Pacífico. >> A grande preocupação dos dois países passa a ser a atitude
aventureira da China, que já se entende como a grande potência mundial e
futura dona do planeta. É inevitável, por sua demografia e tendência
política, que ela tenderá a fazer conquistas territoriais a ponto de dominar
a Ásia, como primeiro passo. >> Em futuro não distante, poderá procurar
tomar toda a África, colonizando-a a ferro e fogo, e vindo para este
hemisfério quando tiver consolidado esses dois lados. Então, este será um
mundo chinês se nada for feito agora, desde já.

6) Todas estas ameaças são maiores do que as capacidades de qualquer país,
atuando individualmente. E se referiu ao grande déficit econômico que seu
país vem acumulando nos últimos anos. >> A crise europeia se juntará ao
problema do endividamento americano, causado pelos enormes déficits anuais,
e ainda sem qualquer enfrentamento de fato, dado que 2012 é ano de eleições.
>> Os irresponsáveis republicanos e democratas lavaram as mãos por causa
própria, acima mesmo da causa de seu país, que irá pagar caro por esse erro
mais à frente. Sendo assim, os EUA precisarão de novos aliados e se
esforçará por ajudar a fortalecer seus músculos militares.

7) Ele elencou a estratégia americana para o futuro. Uma nova visão baseada
em forças armadas norte americanas mais ‘magras’, mais flexíveis, mais ágeis
e mais rápidas e mobilizáveis globalmente com uma clara vantagem tecnológica
sobre seus oponentes. >> Qual será essa vantagem tecnológica e o que será
que o Brasil tem a ver com isso, até mesmo como novo parceiro? A mobilidade
é a solução que o Brasil também persegue. Já os EUA precisam eliminar e
realocar muitas de suas centenas de bases distribuídas pelo planeta. Quando
fizer isso, estará começando a resolver seus problemas e voltando a ser
forte.

8 ) Os EUA estão se redirecionando para a região da Ásia-Pacífico.
Panetta prega uma “retomada dos acordos de segurança entre os EUA e seus
parceiros, e a construção de novas alianças ao redor do mundo. >> O Brasil
se insere nessa construção de novas alianças e assim o Atlântico Sul deverá
ser sua área exclusiva de segurança para que os EUA possam se concentrar
mais na região da Ásia-Pacífico. Como isso será feito?

9) Apontou como “tecnologias do futuro”: o espaço, os UAVs, os sistemas de
coleta e a coleta e o processamento de inteligência assim como a mobilização
rápida dos meios militares. >> Podemos ligar o tema mobilização rápida com o
tema espaço? Será essa grande vantagem tecnológica que ele menciona
referente ao espaço? Algum esforço binacional estará inserido neste
contexto?

10) Complementando a declarada incapacidade das FFAA americanas de fazer
tudo sozinhas, o secretário disse que mais nações precisariam passar a
realizar uma contribuição crescente para manter a segurança global. Novas
parcerias como a que queremos ter com o Brasil são um exemplo disso. >> Ele
deve estar falando, no caso do Brasil, sobre a segurança do Atlântico Sul e
uma forte evolução em mobilização rápida de grande monta. Tem havido um
maior envolvimento entre Forças Especiais dos dois países. Não duvido que
multipliquemos esses efetivos aqui logo.

11) Um novo diálogo, dirigido por ambos os presidentes, transformará a
relação entre Brasil e Estados Unidos na área da Defesa”. >> Se isso não é
um pré-anúncio de algo grande vindo a caminho, não entendo mais nada. Um
novo diálogo transformando a relação de Defesa? O que será isso na prática?
Podemos passar horas conjecturando a respeito.

12) O Brasil é hoje um líder global e chegou nesta condição por merecimento.
Estamos felizes com o crescimento do Brasil e gostaríamos de ver um maior
envolvimento do Brasil nas questões militares internacionais. >> É o que
deve estar sendo costurado, ou assado no forno, pois nada é oferecido de
graça, tudo tem um preço. O Brasil não receberá um assento permanente no
Conselho de Segurança da ONU sem ter que se envolver diretamente nessas
questões. Mas quem lhe fornecerá os músculos iniciais? >> Pagará um preço
que também protegerá sua soberania. Precisará ter meios de combate muito
acima do que dispõe hoje. Isso explicaria a transformação da relação de
Defesa. Pode haver aí uma aliança na base industrial de Defesa. Embraer e
Boeing já estariam à frente do tempo neste processo.

13) A cooperação mais próxima já começou na resposta ao terrível terremoto
de janeiro de 2010 no Haiti nossas forças armadas trabalharam lado a lado.
Recentemente assinamos dois acordos de cooperação, uma para permitir a troca
de informação sensível e outro parta dinamizar o treinamento conjunto. Na
resposta aos desastres naturais, Brasil e EUA podem se aproximar mais um do
outro para cooperar e para aprender como responder de uma forma conjunta. >>
O termo “respostas conjuntas” parece ser uma das chaves da receita desse
grande bolo. Estamos desvendando o enigma?

14) Novos convites foram feitos para envio de brasileiros para cursar as
escolas militares nos EUA e para americanos cursarem escolas no Brasil como
o CIGS [Centro de Instrução de Guerra na Selva em Manaus].
>> Já existe essa rotina há décadas, mas há agora um intensificação
que pode ser uma aproximação de um novo patamar sem precedentes, uma quebra
de paradigma. Aí retorna o termo “conjunto”.

15) Além disso estamos convidando a Marinha do Brasil para participar de
exercícios desde a costa do Rio até a da África. A Força Aérea dos Estados
Unidos já participou pela primeira vez do último Exercício Cruzex e no ano
que vem a FAB aceitou participar novamente do exercício Red Flag [em
Nevada]. >> Cruzex e Red Flag são interessantes aprendizados e nos trazem
evoluções táticas e operacionais. Já uma operação da MB na costa da África é
um outro departamento que demandará novos e grandes meios navais. A ajuda
inicial americana será fundamental nesse processo de musculação.

16) Nossa relação atualmente é o mais forte que já foi desde 1945. >> Será
isso mais uma pista de toda essa intensificação ou será uma mera palavra
política?

17) A partir de agora desenvolveremos uma profunda cooperação científica
entre os Estados Unidos e o Brasil, aproximando as instituições de pesquisa
militar para a realização de projetos em comum. >> Por que usar a palavra
“profunda” se não for algo realmente inovador e conjunto? Já existem alguns
projetos muito inovadores em comum da USAF no Brasil, tanto no emprego do
laser como no advento do voo hipersônico. Mais ainda, que tipo de projeto
ligará as duas agências espaciais?

18) No plano geográfico, apontou o continente africano como sendo um foco
possível para a cooperação dos dois países uma vez que ambos compartilham
interesses estratégicos por lá. “A realização de exercícios conjuntos
naquela área é um bom caminho adiante. >> Novamente, a preocupação com a
África, de onde ambas as nações trazem raízes que moldam responsabilidades
comuns. Haverá a construção de bases no continente para a defesa desses
interesses estratégicos, inclusive uma brasileira? Elas poderão ser
conjuntas também? >> Nossos interesses comuns lá estão concentrados na
defesa da costa oeste, que possui uma extensa província petrolífera de norte
a sul, como a do Pré-Sal no Brasil.

19) O Brasil é uma ‘Potencia Econômica’ e a cooperação em alta tecnologia
binacional que precisa fluir em ambas as direções parece estar sendo
limitada pelos controles de exportação existentes atualmente. Respondendo a
isto, tomamos a decisão de liberar 4.000 licenças de exportação diferentes
para o Brasil, um patamar semelhante ao que temos com nossos melhores
parceiros globais. >> Isso não tem sido divulgado, mas o Brasil vem
processando uma mudança política no câmbio para poder voltar a ser um
exportador e enfrentar essa parceria da melhor forma. A exploração do
petróleo do Pré-Sal está em jogo e poderá se dar de forma conjunta,
principalmente no difícil processo de sua extensa agregação de valor. De que
modo se dará essa cooperação em alta tecnologia binacional?

20) Sobre as chances do caça F-18 Super Hornet no F-X2, ele “garantiu”
o pleno apoio tanto do executivo quanto do legislativo americanos a esta
exportação para o Brasil. Ligado a esta venda existe o potencial de se
transformar a relação entre as indústrias de defesa dos dois países
radicalmente. >> Segue destacado “o FX-2 e a transformação da relação entre
as indústrias de defesa dos dois países”. Até que ponto se dará isso?

21) No fundo, Brasil e EUA são dois países que têm muitos interesses e
valores em comum e esta oportunidade de trabalharmos juntos agora é
finalmente algo tangível. >> Afinal, o que será que já existe de tangível? O
secretário Leon Panetta não viria ao Brasil fazer uma palestra desse nível
apenas para reforçar os esforços de venda da Boeing. Algo já está pronto e a
ponto de ser anunciado. >> Em suma, existe mesmo esse grande bolo binacional
assando no forno ou apenas um apelo político pelo Super Hornet? >> Tal
palestra parece ser rica e detalhada demais para ser ser somente uma
fantasia de um secretário da Defesa dos EUA, que tem bem mais o que fazer.
topo

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“Sobreviver irá exigir da raça humana uma maneira substancialmente nova de
pensar”.
Albert Einstein

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