por Ana Paula Henkel
Sob a nova economia estatal, tanto a produção industrial quanto a agrícola despencaram. Estima-se que 5 milhões de russos morreram de fome em 1921
Na edição da semana passada de Oeste, resolvi trazer para a nossa resenha o descalabro da apologia ao comunismo que testemunhamos no Carnaval no Brasil. Escolas de samba homenageando a nefasta ideologia, que matou mais de 110 milhões de pessoas no mundo, e figuras como Flávio Dino, atual ministro da Justiça, usando roupas e acessórios que brindam ditadores que sustentaram regimes totalitários através do comunismo. A pergunta que fazemos hoje é o que não estão ensinando nas escolas para que nossos filhos não questionem esse grotesco enaltecimento de homens abomináveis que assassinaram milhões de homens, mulheres e crianças?
Em 1987, em um discurso numa convenção dedicada a melhorar a vida de crianças pelo mundo, o então presidente norte-americano, Ronald Reagan, um dos homens que bravamente lutaram contra o comunismo durante toda a sua vida, disse: “A liberdade nunca está a mais de uma geração da extinção. Nós não passamos a liberdade para nossos filhos na corrente sanguínea. Devemos lutar por ela, protegê-la e entregá-la para que façam o mesmo”. Ou seja, a liberdade não será protegida se não protegermos a história daqueles que tentarão reescrever as páginas da humanidade manchadas pela maldade e pelo sangue de milhões de mortos. Como também disse Reagan, você difere um comunista de um anticomunista entre alguém que lê Marx e Lenin e alguém que entende Marx e Lenin.
Não podemos mais esperar as escolas. Temos de tomar as rédeas do que está ficando de fora de currículos e dos debates escolares. Já a Escola de Frankfurt fez o seu trabalho como planejado, infiltrou brilhantemente a revolução marxista e o pós-modernismo onde as sementes são germinadas. O meio acadêmico — dos pequenos aos grandes — está infestado de professores doutrinadores que empurram sem pestanejar o “manual da bondade” de Marx e seus discípulos. Nossos alunos não apenas sofrem com uma verdadeira lavagem cerebral, mas são privados do conhecimento dos fatos. Faça um teste: pergunte a um jovem o que aconteceu com o Muro de Berlim. Não se surpreenda se ele apenas responder que o “muro caiu, como um celeiro velho”, sem mencionar que, na verdade, ele foi derrubado.
Então, mãos à obra. Farei a minha parte aqui na companhia de vocês. É claro que seria impossível em poucos textos mostrar todas as nuances da covarde história do comunismo no mundo. Mas também não economizarei palavras e parágrafos neste artigo — e no que será publicado na próxima semana. Aqui em Oeste, jamais deixaremos que adoradores do regime mais bárbaro da humanidade apaguem o que fizeram. Honraremos o legado de líderes como Ronald Reagan, João Paulo II e Margaret Thatcher, que lutaram bravamente contra o “império do mal”, como o presidente norte-americano certa vez definiu a ideologia.
O comunismo se espalhou durante o século 20 e foi uma parte fundamental da Guerra Fria. Mas, exatamente, o que é comunismo? Embora o significado exato possa variar de acordo com o contexto, o comunismo é uma ideologia política e econômica que geralmente busca a criação de uma sociedade “sem classes”, por meio da intervenção do Estado e do controle sobre a economia e a sociedade. Os políticos comunistas procuram assim eliminar as hierarquias tradicionais e criar uma sociedade “livre da desigualdade de classes” e da “exploração dos trabalhadores”.
Uma parte importante do DNA da história comunista é a definição de partidos: as organizações políticas formadas por comunistas em vários países buscam obter poder sobre um Estado e transformá-lo de acordo com os ideais comunistas. Uma vez no poder, os partidos comunistas reorganizam completamente o aparato do Estado, para melhor perseguir seus objetivos de engenharia social. Historicamente, os governos comunistas, por definição, criaram Estados de partido único, impedindo que indivíduos não alinhados com seus objetivos chegassem ao poder, cerceando suas liberdades, ideias e vozes. Os países comunistas também criam economias planejadas, em que o governo dita a produção em vez das leis de oferta e demanda que determinam a produção nas economias capitalistas. Esse pode ser um resumo rápido da ideologia, mas como o comunismo se desenvolveu e quais as consequências para o mundo?
Sob o comunismo de guerra, Lenin rapidamente nacionalizou toda a manufatura e a indústria em toda a Rússia soviética, até confiscando grãos excedentes de camponeses para alimentar seu Exército Vermelho
Desde seu início, há mais de um século, o comunismo, que diz clamar por uma sociedade sem classes, na qual tudo seja compartilhado igualmente, passou por uma série de mudanças nos métodos revolucionários para que os objetivos fossem alcançados, mesmo em 2023. O que começou em 1917, na Rússia, se tornou uma revolução global sinistra, criando raízes em países tão distantes quanto a China e a Coreia, o Quênia e o Sudão, Cuba e Nicarágua. Lançado a partir da Revolução de Outubro, de Lenin, a ideologia se espalhou para a China, com a ascensão de Mao Zedong ao poder, e para Cuba, com a chegada de Fidel Castro. O comunismo foi a ideologia por trás de um lado da Guerra Fria e teve um declínio simbólico com a queda do Muro de Berlim, embora atualmente ele venha ganhando adeptos e defensores exatamente pela falta de conhecimento histórico.
Karl Marx e a semente do comunismo
A linha do tempo do comunismo começa a ser delineada em 21 de fevereiro de 1848, quando o filósofo alemão Karl Marx e Friedrich Engels publicaram O Manifesto Comunista, convocando uma revolta da classe trabalhadora contra o capitalismo. Seu lema, “Trabalhadores do mundo, uni-vos!”, rapidamente se tornou um grito de guerra popular. Marx e Engels pensavam no proletariado como os indivíduos com força de trabalho, e na burguesia como aqueles que possuem os meios de produção numa sociedade capitalista. O Estado sonhado por Marx e Engels passaria por uma fase, muitas vezes considerada como um socialismo, para, finalmente, estabelecer-se em uma sociedade comunista pura. Nessa sociedade, toda propriedade privada seria abolida, e os meios de produção pertenceriam a todos. No movimento comunista, a espinha dorsal da ideologia sustenta que todos produzem de acordo com suas habilidades e recebem de acordo com suas necessidades (sim, a utopia é chocante!). Assim, as necessidades de uma sociedade seriam colocadas acima e além das necessidades específicas de um indivíduo. Não, não é o indivíduo que determina suas necessidades.
Embora o manifesto delineasse alguns requisitos básicos para uma sociedade comunista, o nefasto manual era amplamente analítico — do ponto de vista de Marx — dos eventos históricos que levaram à sua necessidade. Ali, eram sugeridos os objetivos finais do sistema, mas não fornecia instruções concretas para se estabelecer um governo comunista. Embora Marx tenha morrido bem antes de um governo testar suas teorias, sua obra, em conjunto com uma crescente classe trabalhadora descontente em toda a Europa, influenciou imediatamente os trabalhadores industriais revolucionários em todo o continente, no que acabou resultando em um movimento trabalhista internacional.
Conforme imaginado por Marx, o comunismo deveria ser um movimento global, inspirando e acelerando inevitáveis revoluções da classe trabalhadora em todo o mundo capitalista. Embora o livro ainda não tivesse sido publicado, essas revoluções já haviam começado, no início de 1848, na França. A nova classe trabalhadora urbana que vivia e trabalhava em condições terríveis por toda a Europa havia se cansado de sua vida de miséria ao ver os cidadãos de classe alta, os burgueses, como Marx os rotulou no Manifesto, vivendo uma vida de luxo. As ideias e os objetivos do comunismo atraíram fortemente os revolucionários, mesmo depois do colapso das revoluções de 1848. Nas décadas seguintes, trabalhadores e camponeses fartos da classe baixa mantiveram-se firmes no legado dos revolucionários de 1848 e na ideologia comunista, esperando o momento certo para capitalizar.
Para entendermos todo o macabro quebra-cabeça do comunismo, precisamos voltar um pouco no tempo e visitar alguns eventos e personagens que compõem os pilares da injusta ideologia defendida pelo atual ministro da Justiça no Brasil.
A queda do império russo
A Revolução Industrial ganhou uma posição na Rússia muito mais tarde do que na Europa Ocidental e nos Estados Unidos. Quando finalmente ela tomou corpo, por volta da virada do século 20, trouxe imensas mudanças sociais e políticas. Entre 1890 e 1910, por exemplo, a população das principais cidades russas, como São Petersburgo e Moscou, quase dobrou, resultando em superlotação e condições de vida miseráveis para uma nova classe de trabalhadores industriais russos.
Um crescimento populacional sem precedentes no fim do século 19 (devido ao clima do norte da Rússia e a uma série de guerras caras, como a Guerra da Crimeia) criou severa escassez de alimentos em todo o vasto império. Além disso, estima-se que uma grande fome, em 1891-1892, tenha matado até 400 mil russos. A devastadora Guerra Russo-Japonesa, de 1904-1905, enfraqueceu ainda mais a Rússia e a posição do governante Czar Nicolau II. O país sofreu pesadas perdas de soldados, navios, dinheiro e prestígio internacional na guerra que acabou perdendo.
Muitos russos instruídos e estudiosos, observando o progresso social e o avanço científico na Europa Ocidental e na América do Norte, defendiam a ideia de que o crescimento na Rússia estava sendo prejudicado pelo governo monárquico dos czares e pelos apoiadores do czar na classe aristocrática. Logo, grandes protestos de trabalhadores russos contra a monarquia levaram ao massacre do Domingo Sangrento de 1905. Centenas de manifestantes desarmados foram mortos ou feridos pelas tropas do czar, e o massacre desencadeou a Revolução Russa de 1905, durante a qual trabalhadores furiosos responderam com uma série de greves em todo o país. Trabalhadores agrícolas e soldados se juntaram à causa, levando à criação de conselhos dominados pelos trabalhadores: os “soviets”.
Após o derramamento de sangue de 1905 e a derrota humilhante da Rússia na Guerra Russo-Japonesa, o Czar Nicolau II prometeu maior liberdade de expressão e a formação de uma assembleia representativa para trabalhar em prol de uma reforma. Veio então a Primeira Guerra Mundial, em agosto de 1914, e a Rússia entrou no conflito para apoiar os sérvios e seus aliados franceses e britânicos. No entanto, o envolvimento na guerra logo seria desastroso para o Império Russo. Militarmente, a Rússia imperial não era páreo para a Alemanha industrializada, e as baixas foram maiores do que as sofridas por qualquer nação em qualquer guerra anterior. A escassez de alimentos e combustível atormentava a Rússia, enquanto a inflação explodia. A economia, já enfraquecida, foi irremediavelmente chacoalhada pelo dispendioso esforço de guerra.
Diante de imensa instabilidade política, econômica e social, os moderados logo se juntaram aos elementos radicais russos para pedir a derrubada do czar. O caldeirão, prestes a explodir, borbulhava agora sem controle.
Vladimir Lenin
O revolucionário mais adorado pela esquerda no Brasil foi o fundador do Partido Comunista Russo (os Bolcheviques) e líder da Revolução de 1917. Ele também foi o arquiteto, construtor e primeiro chefe do Estado Soviético (1917-1924), além de fundador da organização conhecida como Comintern — a Internacional Comunista —, fonte póstuma do “leninismo”, a doutrina codificada e conjugada com as obras de Karl Marx pelos sucessores de Lenin para formar o marxismo-leninismo, que se tornou a cosmovisão comunista.
Até 1917, todos os socialistas revolucionários acreditavam corretamente, escreveu Lenin, que uma república parlamentar poderia servir tanto a um sistema socialista quanto a um sistema capitalista. Mas a Revolução Russa trouxe algo novo, os soviéticos. Uma vez que Parlamentos pelo mundo excluíam trabalhadores e camponeses, os soviéticos ultrapassaram todas as fronteiras de um real Parlamento democrático e criaram seu próprio sistema, apenas com operários, soldados e camponeses — excluindo as classes com propriedades e empregadoras. A escolha diante da Rússia no início de setembro de 1917, na visão de Lenin, estava entre uma república soviética — uma ditadura da maioria sem propriedade — ou uma república parlamentar, como ele a via — uma ditadura da minoria proprietária.
A Revolução Russa de 1917 foi um dos eventos políticos mais dramáticos e violentos do século 20, que marcou o fim da dinastia Romanov e séculos de domínio imperial russo. Vladimir Lenin não apenas tomou o poder, mas destruiu a tradição do regime czarista. Os bolcheviques mais tarde se tornariam o Partido Comunista da União Soviética, levantando o grito de ordem: “Todo o poder aos soviéticos!”.
1917 e os Bolcheviques
A tensão com a fome nacional e a perda de vidas humanas como resultado da Primeira Guerra Mundial foram exacerbadas. Manifestantes clamando por comida foram às ruas de Petrogrado (nome da cidade de São Petersburgo, de 1914 a 1924) e, apoiados por grandes multidões de trabalhadores industriais em greve, eles entraram em confronto com a polícia. Mesmo assim, se recusaram a deixar as ruas. Tropas da guarnição do Exército de Petrogrado foram convocadas para reprimir o levante. Bastaram poucos confrontos para que regimentos abrissem fogo, matando muitos manifestantes. Vários soldados, no entanto, não seguiram as ordens do czar e decidiram desertar, para protestar em solidariedade aos trabalhadores.
As constantes greves e tumultos por causa da escassez de alimentos, em março de 1917, forçaram a abdicação do inepto Czar Nicolau II, encerrando séculos de governo imperial. A Rússia ficou sob o comando de um Governo Provisório, que se opôs à reforma social violenta e continuou o envolvimento russo na Primeira Guerra Mundial. Mas Lenin tinha outros planos e começou a desenhar a derrubada do Governo Provisório. Para ele, aquele Estado de governo era apenas uma “ditadura da burguesia” e, em vez disso, defendeu o governo direto dos trabalhadores e camponeses, em uma “ditadura do proletariado”.
No outono de 1917, os russos, ainda mais cansados da guerra, exigiam mudanças imediatas no que ficou conhecido como a Revolução de Outubro. Lenin, ciente do vácuo de liderança que assolava a Rússia, decidiu tomar o poder e secretamente organizou trabalhadores de fábricas, camponeses, soldados e marinheiros em uma força paramilitar voluntária. Em 7 e 8 de novembro de 1917, os Guardas Vermelhos capturaram os prédios do Governo Provisório num golpe de Estado sem derramamento de sangue.
Os bolcheviques tomaram o poder, ocuparam prédios do governo e outros locais estratégicos em Petrogrado e logo formaram um novo governo, com Lenin como chefe, proclamando assim o domínio soviético. Lenin se tornou o líder do primeiro Estado comunista do mundo e estabeleceu que um governo soviético seria conduzido diretamente por conselhos de soldados, camponeses e trabalhadores. Os líderes bolcheviques se nomearam para muitos altos cargos e começaram a implementar as práticas comunistas baseadas na ideologia de Karl Marx. Assim, o comunismo foi adotado — e adorado — em toda a sua vil totalidade na Rússia, estabelecendo o início do que se tornaria o “império do mal”, de acordo com Ronald Reagan.
A Revolução Bolchevique mergulhou a Rússia em uma guerra civil de três anos. O Exército Vermelho — apoiado pelo recém-formado Partido Comunista Russo, de Lenin — lutou contra o Exército Branco, uma coalizão frouxa de monarquistas, capitalistas e apoiadores do socialismo democrático. Durante esse tempo, Lenin promulgou uma série de políticas econômicas, apelidadas de “comunismo de guerra”. Estas foram medidas temporárias para ajudar Lenin a consolidar o poder e derrotar o Exército Branco. Sob o comunismo de guerra, Lenin rapidamente nacionalizou toda a manufatura e a indústria em toda a Rússia soviética, até confiscando grãos excedentes de camponeses para alimentar seu Exército Vermelho.
Não demorou muito para que essas medidas, claro, se mostrassem desastrosas. Sob a nova economia estatal, tanto a produção industrial quanto a agrícola despencaram, e o ciclo virtuoso de trabalho livre e produção foi destruído. Estima-se que 5 milhões de russos morreram de fome em 1921, e os padrões de vida em todo o país mergulharam em uma pobreza histórica, trazendo agitações sociais em massa que balançaram o governo soviético. Como resultado, Lenin instituiu sua Nova Política Econômica, um recuo temporário da nacionalização completa do “comunismo de guerra”. A Nova Política Econômica criou um sistema econômico mais orientado para o mercado, “um livre mercado e capitalismo”, mas onde tudo era 100% sujeito ao controle do Estado.
Para os Romanovs, a família imperial que governou a Rússia por 300 anos, o destino foi selado de maneira trágica. Os bolcheviques esconderam toda a família em uma casa na cidade de Yekaterinburg, nas encostas dos Montes Urais, durante meses, enquanto ainda lutavam contra alguns dissidentes da revolução. A família esperava que os bolcheviques os mandassem mais tarde para outro país, ou que Exército Branco, que ainda lutava contra as garras de Lenin nas encostas, tomasse conta da cidade e os libertasse. Temendo que o Exército Branco libertasse o czar, o comando bolchevique local, com a aprovação de Lenin, decidiu matar o czar e toda a sua família. Nas primeiras horas da manhã de 17 de julho de 1918, o czar deposto, sua esposa, Alexandra, e seus filhos, Olga, Tatiana, Maria, Anastasia e Alexei, foram executados pelos bolcheviques.
(Há uma série espetacular na Netflix chamada Os Últimos Czares – The Last Czars, 2019.)
Revista Oeste
PUBLICADAEMhttp://rota2014.blogspot.com/2023/03/o-nascimento-do-imperio-do-mal-primeira.html
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