Jornalista Andrade Junior

sábado, 21 de janeiro de 2023

Deputado federal Cabo Junio Amaral: ‘O Brasil vive uma falsa democracia’

 Em entrevista a Revista Oeste, parlamentar mineiro alerta para a escalada autoritária do PT e do STF

Edilson SalgueiroRevista Oeste


O policial reformado da Polícia Militar (PM) Cabo Junio Amaral (PL), de 35 anos, elegeu-se deputado federal por Minas Gerais em 2018. Naquele ano, foi escolhido por quase 160 mil mineiros — a votação mais expressiva do Estado. Nas eleições de 2022, em virtude do alto número de candidatos mineiros concorrendo à Câmara, Junio Amaral obteve uma quantidade de votos inferior à verificada quatro anos antes: aproximadamente 60 mil. Isso, contudo, não impediu sua reeleição. “A avaliação dos eleitores sobre o meu trabalho tem sido ótima”, diz o parlamentar.

Em entrevista a Oeste, Junio Amaral condenou os atos de vandalismo registrados em Brasília, alertou para a escalada autoritária do Supremo Tribunal Federal e criticou o início do governo petista. A seguir, os principais trechos.

— Como o senhor avalia as recentes manifestações em Brasília, que resultaram em depredação e vandalismo?

Tenho certeza de que houve uma facilitação, uma emboscada. Não serei ingênuo de afirmar que não havia eleitores do Bolsonaro ali. Mas precisamos deixar claro que aquilo era uma minoria. Alguns realmente têm caráter de vandalismo, outros apenas se desesperaram e entraram em “parafuso” quando perceberam tudo que está ocorrendo. A grande maioria estava em Brasília para se manifestar pacificamente. Entendo que Lula e o STF enxergaram nesses protestos uma possibilidade de encontrar uma justificativa para conduzir com mão de ferro as investigações.

— As forças de segurança atuaram corretamente?

É muito difícil fazer um juízo desse caso. Só quem está atuando poderá explicar as dificuldades desse tipo de operação. Entendo que o GSI facilitou a escalada das manifestações, porque não disponibilizou o número de policiais necessários para lidar com uma possível revolta. A grande mídia acusa os policiais de omissão, mas nós, agentes de segurança, temos de seguir o princípio do uso diferenciado da força e da supremacia de força. Você não pode enviar dois ou três policiais para um confronto com um grupo significativamente maior, como o que ocorreu em Brasília.

— O GSI pode ser responsabilizado pelos desdobramentos das manifestações?

Por ser um órgão sob o comando do governo petista, o GSI está claramente sendo blindado. Estão “passando pano” para qualquer um que esteja sob a batuta do governo federal. As autoridades que foram punidas são vinculadas ao governo do Distrito Federal. Até agora, os funcionários sob o guarda-chuva do governo federal estão sendo poupados não apenas pela grande mídia, como também pelo Judiciário.

— Como o senhor observa a oposição no atual cenário, em que Lula é o presidente da República?

Não sei se as arbitrariedades do PT e do STF vão escalar. Estamos em um cenário difícil. Parlamentares já foram presos, ainda durante o governo Bolsonaro. Outros tantos sofreram mandados de busca e apreensão. Eu, por exemplo, tive o sigilo bancário quebrado. Isso ocorreu no âmbito do inquérito das “fake news” e dos “atos antidemocráticos”. Teremos de pagar uma multa de R$ 10 mil por dia, caso falemos das manifestações em frente aos quartéis-generais e desconfiemos do processo eleitoral. Estamos cerceados.

— O senhor acredita que pode haver uma escalada autoritária do STF, no sentido de criminalizar a oposição?

Já está havendo restrições. Os bloqueios das redes sociais estão aí. Se tivesse de apostar, diria que, com a liberdade irrestrita que os ministros estão tendo e com a falta de ação do Senado, haverá uma intensificação das ilegalidades — principalmente contra a oposição.

— O que o Senado poderia fazer para conter eventuais avanços do STF?

A Câmara julga pedidos de impeachment do presidente da República, enquanto o Senado fiscaliza e julga os ministros do STF. Não houve sequer uma convocação de ministros do Supremo. O presidente da Casa, Rodrigo Pacheco [PSD-MG], não permite que as convocações tramitem. Existem centenas de motivos para aceitar apenas um dos inúmeros pedidos de impeachment protocolados no Senado. A leniência e a cumplicidade de Pacheco são claras. Ele está protegendo, blindando o STF. Não adianta apenas um deputado querer resolver os problemas do Supremo. Por isso, a eleição para a presidência do Senado é importantíssima.

— Qual é o motivo para Pacheco agir desta forma?

Ele é um integrante do sistema. Pacheco tem inúmeros interesses em comum com outros agentes políticos. Muitas vezes, esses interesses estão nas mãos do STF. O sistema republicano, em especial o brasileiro, é o “infinito da impunidade”. Senadores que cometem crimes e estão cheios de processos julgam os ministros do Supremo, que, por sua vez, cometem inúmeras ilegalidades e julgam os senadores. Eles se protegem.

— Como a oposição está se organizando para eleger um novo presidente do Senado?

O nome da oposição é Rogério Marinho [PL-RN]. Não tenho informação de como ele está trabalhando para se eleger. Sei apenas que Marinho tem o apoio de 18 senadores. Ainda é necessário conversar com muitos outros.

— Que tipo de mudança ocorrerá, caso Marinho seja eleito?

O STF deveria reiniciar o diálogo com o Senado. Hoje, existe apenas uma proteção mútua. Não conheço a fundo Rogério Marinho. Dizem que é uma pessoa íntegra. É melhor elegê-lo do escolher alguém que provou não ter capacidade para exercer seu papel com dignidade, como Pacheco. Marinho é a esperança que os brasileiros têm de ver um presidente do Senado agindo corretamente.

— E a Câmara, como trabalhará diante do governo petista?

É cedo para dizer que a Câmara se entregará ao PT. Fato é que o PT tentará cooptar vários que a oposição julga estar do “nosso lado”. A cooptação deve ocorrer por vias legais e ilegais. Não sabemos quantos deputados vão se entregar. Nesse caso, o fator decisivo será a atenção da população com os deputados eleitos, para que não se deixem levar. Até mesmo no Partido Liberal [PL] pode haver uma debandada para o lado do PT. Isso já ocorreu na PEC do Rombo [proposta que autorizou o furo do teto de gastos em quase R$ 200 bilhões].

— Quais fatores contribuíram para a derrota de Bolsonaro?

O primeiro motivo não posso dizer, exatamente porque estou sob pena de multa. Mas também faço um mea-culpa sobre a comunicação do governo. Faltou explorar as realizações da administração federal, mostrar a diferença gritante da condução do país por um homem como Bolsonaro.

— O senhor vê potenciais nomes na “direita”, capazes de disputar as próximas eleições presidenciais?

O primeiro nome é Bolsonaro. O segundo nome é Bolsonaro. O terceiro nome é Bolsonaro. Não vejo nenhum outro, neste momento, para representar a direita e tirar o governo que está aí. Se houver alguma impossibilidade, penso que Romeu Zema [Novo-MG] e Tarcísio Gomes de Freitas [Republicanos-SP] podem disputar a ocupação desse espaço mais à direita.

— Por que Bolsonaro seria o nome “certo” para disputar as eleições de 2026?

Tenho convicção de que, se não fosse Bolsonaro, não teríamos minimamente uma direita organizada no Brasil. Ele enfrentou o sistema inteiro, que há muitos anos é revestido com o manto da esquerda. Se não fosse a existência de Bolsonaro, talvez eu tivesse disputado um cargo eletivo. Assim como eu, outras centenas de pessoas inseridas na política não teriam a motivação para participar desse processo. Bolsonaro é a personificação da direita que surgiu no Brasil.

— O desgaste de Bolsonaro com a imprensa e com o STF não poderia afetar sua popularidade nas próximas eleições?

Já afetou na eleição mais recente. Mas tenho certeza de que a população perceberá a incompetência do governo petista. Os cidadãos que votaram em Lula vão reconhecer que eram felizes anteriormente e não sabiam. Apesar do desgaste com setores da imprensa e com o alto escalão do Judiciário, acredito que o ex-presidente é um nome forte.

— O que o senhor espera do governo petista?

Vão tentar conduzir o país com mão de ferro. Querem atropelar o Parlamento o tempo inteiro. Querem relação promíscua com o alto escalão do Judiciário. Espero uma tentativa de se fortalecer no poder, mesmo por vias ilegais. Ao mesmo tempo, os petistas tentarão fazer políticas sociais. Querem encantar os mais pobres, mas, na hora em que a inflação bater, o governo não conseguirá se sustentar. Estamos em uma falsa democracia. O PT tentará estender esse tipo de governo “democrático”, para evitar a reação de outros países. Não sei se o PT conseguirá conduzir o país por meio de uma ditadura mais escancarada.











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