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Nenhum empreiteiro desfrutou a intimidade do ex-presidente Lula como José Adelmário Pinheiro Filho, ex-presidente da construtora OAS.
A camaradagem entre os dois começou na década de 80 e se estreitou quando o ex-sindicalista chegou ao Palácio do Planalto.
Nesse período, eles se transformaram em bons companheiros, relação que atravessou os dois mandatos presidenciais e continuou firme depois que o petista deixou o Planalto.
A dupla se encontrava com frequência, viajava junta em jatinhos, degustava cachaças especiais e se tornou parceira em grandes, pequenos e lucrativos negócios.
Para o ex-presidente, o empreiteiro era simplesmente o “Léo”.
Para o empreiteiro, Lula era o “Brahma” — uma referência à marca de cerveja.
A Operação Lava-Jato abalou a amizade, especialmente depois que Pinheiro confirmou em juízo que pagava propina ao ex-presidente e ao PT em troca de contratos na Petrobras. Ambos acabaram na cadeia.
Agora, para sepultar de vez a relação, Pinheiro, em delação premiada, está contando tudo o que essa simbiose produziu.
VEJA teve acesso a trechos inéditos da colaboração.
Em um deles, Léo Pinheiro revela os detalhes de uma grande ajuda que recebeu do ex-presidente, retribuída na mesma proporção.
Em 2014, a presidente Dilma Rousseff anunciou que o Brasil faria investimentos bilionários na área de defesa.
De olho no filão, a empresa criou a OAS Defesa.
O objetivo era disputar as principais licitações.
Mas havia um problema: a nova companhia não tinha o selo que a credenciaria como empresa estratégica de defesa (EED), uma exigência que a impediria de celebrar contratos com o governo.
"Diante das dificuldades que a OAS Defesa estava enfrentando para se habilitar, procurei o ex-presidente Lula pedindo sua intervenção junto ao ministro Celso Amorim”, contou Léo Pinheiro. Prestativo, o ex-presidente, segundo ele, ligou imediatamente para o ministro.
Pouco tempo depois, o empreiteiro se encontrou com Amorim no Ministério da Defesa.
Na audiência, o ministro foi extremamente cordial, segundo Léo Pinheiro, e deixou claro que, “em função do pedido de ajuda feito pelo ex-presidente Lula”, iria convocar uma reunião com seus assessores e “determinar o credenciamento da empresa”, o que realmente aconteceu na sequência.
“Sem a interferência de Lula, a OAS não obteria a certificação necessária”, afirmou. E o que o ex-presidente recebeu em troca da ajuda?
“A remuneração de Lula estava no bojo do pacote de diversas outras vantagens”, disse o delator em sua colaboração.
Parte desse “pacote de vantagens”, como se sabe, já resultou na condenação de Lula a 25 anos de prisão, dos quais ele cumpriu até agora apenas 580 dias.
Em troca dos contratos que ganhava no governo e nas estatais, como na Petrobras, a OAS recompensou o ex-presidente com um apartamento tríplex no Guarujá e reformas no sítio que Lula frequentava em Atibaia.
Além disso, a empreiteira “remunerou” o petista em alguns milhões por “palestras”.
Essas vantagens eram depositadas numa conta clandestina abastecida pela empreiteira e administrada pelo PT, cujo saldo chegou a 80 milhões de reais.
Pinheiro confirmou que os acertos financeiros que favoreceram o ex-presidente eram tratados com João Vaccari, ex-tesoureiro do partido, que também foi condenado e preso na Operação Lava-Jato.
Em outro capítulo de sua delação, o empreiteiro envolveu ainda nas tramoias a ex-presidente Dilma Rousseff.
Pinheiro relata que, certa vez, procurou o ex-presidente para propor medidas que o governo poderia implementar que “beneficiariam diretamente a OAS e as principais empresas do setor”.
Na época, Lula solicitou um estudo sobre o tema e disse que “conversaria com a então presidente Dilma” — e ainda sugeriu um ardil: para esconder que as empreiteiras estavam por trás do projeto, uma entidade de classe se apresentaria como autora da ideia.
Pinheiro acatou o conselho e destacou o presidente de um sindicato do setor para a missão, exatamente como havia sido combinado.
O apoio do Brahma, de acordo com Léo, foi “determinante” para aprovar mudanças que engordaram o caixa das construtoras.
“Léo Pinheiro se tornou um braço da Lava-Jato para perseguir Lula”, acusa Cristiano Zanin, advogado do ex-presidente. Celso Amorim disse que não se recorda do suposto pedido de Lula, e Dilma considerou que as acusações contra ela são “infundadas e descabidas”.
A amizade, de fato, acabou.
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