MIRANDA SÁ
“Por que se ensoberba aquele que é terra e cinza, e ainda em vida expele as próprias entranhas? (Eclo 10,9)
Passou, e pouco se comentou sobre a Quarta-feira de Cinzas, uma data no calendário gregoriano que, para a Igreja Católica, representa o primeiro dia da Quaresma. É o dia seguinte à terça-feira de Carnaval e o primeiro dos 40 dias que precedem a festa da ressurreição de Jesus Cristo.
A origem deste nome é puramente religiosa. Neste dia ocorre a tradicional Missa das Cinzas em que o celebrante lembra aos crentes a passagem bíblica do Gênesis 18:27, “Lembra-te, homem, que és pó e em pó te tornarás”, desenhando uma cruz de cinza na testa dos fiéis. As cinzas utilizadas no ritual provêm da queima dos ramalhetes abençoados no Domingo de Ramos do ano anterior.
Vê-se que em termos religiosos, as cinzas representam um símbolo do dever de conversão e mudança de vida, lembrando que a vida humana é passageira e frágil, sujeita à morte. A imposição das cinzas na cristandade europeia remonta ao século 10.
A cor cinza ou cinzenta, combinação do branco com o preto, simboliza maturidade, mas também tristeza, incerteza ou neutralidade.
Na Missa das Cinzas do dia 5 de março, o Papa Francisco alertou para o início da penitência cristã da Quaresma, dizendo que sucesso, poder e posses materiais são fugazes e que desaparecerão “como poeira ao vento”.
A Quaresma é o período compreendido entre a Quarta-Feira de Cinzas e o Domingo de Páscoa. Dicionarizado, o verbete Quaresma é um substantivo feminino de origem latina, quadragesima dies, o quadragésimo dia. Tem também o verbo intransitivo quaresmar – isto é, cumprir os preceitos religiosos próprios desse tempo.
Durante os 40 dias, os cristãos são convidados a se aproximarem mais de Deus e a endireitar suas vidas através da reflexão, da oração, do jejum e da ajuda a outras pessoas.
Entretanto, não há nada na Bíblia que obrigue, nem proíba, celebrar a Quaresma. Essa manifestação religiosa é uma questão de consciência individual; entretanto, para algumas denominações evangélicas, a celebração não tem o significado de pagar pelos pecados cometidos, como ocorre com os católicos.
Muitos centros de Umbanda, religião que sincretiza o culto africano dos orixás com o catolicismo, fecham, ou tem o atendimento limitado no período do carnaval e da Quaresma.
No meu tempo de menino as pessoas iam à missa da quarta-feira e encontravam todas as imagens cobertas de roxo, saindo de lá com a testa marcada com um certo orgulho; em casa se jejuava e as emissoras de rádio programavam músicas sacras e clássicas.
Mesmo assim, alguns carnavalescos audaciosos ainda insistiam em levar blocos à rua na quarta-feira, como o Chave de Ouro, no Rio, e o Bacalhau com Batatas em Recife, mas a adesão era pequena. Hoje, o Carnaval só acaba no sábado seguinte à Quarta-Feira de Cinzas, enfrentando a contrição religiosa…
A ousadia dos foliões é comparável, mas perde para a insolência dos políticos quê, com ou sem carnaval, usam máscaras, inclusive religiosas, fantasiando o comportamento incompatível com os mandatos que assumem ou cargos que exercem.
Assistimos na quaresma patriótica, congressistas e magistrados reduzirem a cinzas as suas carreiras. E o fazem no antigo costume dos jornalistas amigos deletarem as suas falcatruas. Esquecem-se que hoje, sem bandidos de estimação, as redes sociais fazem o autêntico jornalismo, e há juízes como Moro, que os levam à cadeia.
Quanto àqueles que entre os atores da vida pública que usam a Internet, lembremos que “sucesso, poder e posses materiais são fugazes e desaparecerão como cinzas ao vento”.
EXTRAÍDADEBLOGDOMIRANDA
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