#vamosmudarbrasilia
Olá. Meu
nome é Felipe Miranda.
Há quase
cinco anos, eu fundei, (...) a Empiricus Research, (...) casa de pesquisa
independente voltada a investimentos do Brasil. (...)
Aqui cito
apenas exemplos mais contundentes. Poderia perder um tempo enorme na lista de
acertos. Mas eu não escrevo este texto para isso. (...)Só por isso eu tenho
dedicado uma enormidade de tempo e dinheiro nos últimos meses preparando este
material.
Em
resumo, quero falar de um evento específico cuja ocorrência deve se dar num
futuro bastante próximo, com implicações pronunciadas sobre as finanças de cada
brasileiro e, até mesmo, sobre nosso modo de vida.
Esta
esperada crise encontra suas raízes no colapso do sistema financeiro de 2008,
cujo ápice é marcado pela quebra do centenário banco norte-americano Lehman
Brothers e pelo consequente caos em Wall Street. Para tentar neutralizar
impactos do tsunami externo por aqui, o Brasil abandonou os pilares
tradicionais de política econômica e seguiu uma série de medidas heterodoxas,
com implicações trágicas, conforme será visto um pouco à frente.
Para
nosso caso, os problemas a ser vistos nos próximos meses serão muito piores do
que os vivenciados em 2008. Se houve quem classificasse a crise de seis anos
atrás como uma marolinha para o Brasil, desta vez não existirá espaço para
qualquer metáfora parecida. Isso ficará claro em alguns minutos.
Adiantando
um pouco, (...) teremos disparada da inflação, aumento destacado do desemprego,
interrupção do crédito, maior endividamento da população e grande salto do
dólar.
Acredite:
o argumento aqui, conforme ficará evidente, é estritamente técnico. Não faço
uma projeção sequer sem o devido embasamento, tampouco tenho a pretensão de
assustar o leitor. (...)
Fiz toda
minha carreira profissional como analista de investimentos, para, então, fundar
a Empiricus. Jamais colocaria uma vida construída sob os pilares da ética, do
amor ao trabalho e da dedicação por conta de uma simples tese catastrofista.
Tudo que
faço aqui é levar meu esforço de pesquisa dos últimos meses a uma conclusão
lógica. (...)
Por conta
disso, antes de prosseguir com a leitura, faço um alerta a você:
As
palavras a serem ditas aqui gerarão polêmica. Elas podem ofender bastante
gente. Esquerdistas,
direitas, petistas, tucanos e qualquer outra classificação semelhante. Com
efeito, eu já recebi uma enxurrada de emails de ódio sobre minha tese.
Reconheço
que, a princípio, as ideias e soluções a serem apresentadas podem parecer
radicais. Talvez até mesmo antipatrióticas. (...)
Tenha um
pouco mais de paciência. Respondo com o pedido de que prossiga até o final da
argumentação. E lembre-se: (...)
Os exatos
mesmos problemas antes identificados para as empresas acima ou para nossa taxa
de câmbio agora ameaçam a economia brasileira como um todo. Vou explicar
exatamente como chegamos até aqui. Ficará claro como falamos de algo importante
e crítico para você e para cada brasileiro.
A próxima
fase desta crise vai afetar cada ponto de nosso modo de vida.
A poupança
de milhões de pessoas será dizimada. A mudança vai afetar seus negócios e seu
emprego. Veremos impactos dramáticos sobre as poupanças, os investimentos e as
aposentadorias. (...)
Economia
não admite experiências de laboratório. Erros cobram seu preço e as
consequências são grandes. (...)
Deixe-me
dar um passo atrás e mostrar, nos termos mais simples possíveis, o que está
acontecendo, o porquê de tamanha preocupação e qual é meu prognóstico para os
próximos 12 meses…
O Maior
Problema desde o Início do Plano Real
Eu
acredito que nós, como brasileiros, estamos prestes a observar um verdadeiro
colapso no nosso sistema econômico, com desdobramentos relevantes sobre o
cotidiano de cada cidadão.
Basicamente,
há cerca de cinco anos, o Governo brasileiro mudou dramaticamente sua política
econômica. Passamos a desafiar décadas de um conhecimento acumulado e
consolidado em macroeconomia. Abandonamos o pilar ortodoxo para nos render à
maior intervenção do Estado na Economia, a uma economia pautada no
assistencialismo e ao estímulo excessivo ao consumo.
Qual o
resultado? Falência das contas públicas e impossibilidade das famílias
continuarem aumentando o consumo nesta velocidade. (...)
O Brasil
(...) tem queimado caixa de maneira sistemática. O total de suas despesas supera
suas receitas. Pior ainda, a diferença em desfavor das receitas tem aumentado.
O déficit nominal brasileiro, que mede esta relação, mira os 4% ao ano e as
contas públicas tiveram em maio seu pior resultado da história, mesmo com uma
contabilidade nacional bastante criativa e uma porção de receitas
extraordinárias.
A
sustentabilidade das contas do Estado brasileiro está em risco, como fruto de
uma política deliberada de aumento dos gastos públicos.
Os
empresários não confiam mais no Brasil e veem seu espaço ocupado pelo setor
público. Há, inclusive, um termo técnico para isso: crowding-out.
Sem
confiança, os empresários simplesmente não investem. É aquilo que se
convencionou chamar de “espírito animal dos empresários”. A relação
Investimento sobre PIB, que nunca foi uma maravilha, vem caindo de maneira
consistente: depois de atingir o ápice de 19,5% no fim de 2010, recuou para
apenas 18,1%.
Somente
essa variação impõe impacto negativo da ordem de 0,5% na capacidade de
crescimento do PIB.
Breve
pausa para reflexão: há certo consenso entre os mais competentes economistas de
que a variável-chave para o crescimento sustentável e de longo prazo, sem
inflação, é o investimento. Isso porque, ao investir, o empresário aumenta sua
capacidade produtiva à frente e pode responder a aumentos da demanda oferecendo
mais produtos. Caso contrário, ou seja, sem investimentos, só pode responder
com aumentos de preço.
Agora,
pasmem!
Perguntada
recentemente sobre as razões para o Brasil não crescer, a presidente Dilma respondeu
da seguinte forma: “Eu não sei”.
Se não
temos um diagnóstico, como poderemos sequer considerar um bom prognóstico?
Isso é
absolutamente inacreditável, não é mesmo? (...)
Talvez
você discorde sobre o quão ruim está a situação da economia brasileira. Eu
respeito sua opinião. Peço, porém, que considere os seguintes pontos – todos os
dez elementos estritamente factuais:
1 - O crescimento médio do PIB no
governo Dilma, se confirmadas as projeções de consenso para 2014, deve ser de
1,8% ao ano. Veja: esse é o pior resultado desde o governo Collor. Temos
a primeira evidência empírica e incontestável de que retornamos a
condições anteriores a 1994. O gráfico abaixo resume a evolução recente da
economia brasileira:
Há ainda
de se pontuar que minha projeção de 1,3% para crescimento da economia
brasileira em 2014 está entre as mais otimistas.
O Banco
Santander, por exemplo, já estima evolução de apenas 0,9% neste ano, enquanto o
brilhante economista Affonso Celso Pastore sugere pífio crescimento de 1% em
2014 – e de, acreditem, 0,8% em 2015.
“Mas este
crescimento mais baixo desde a Era Collor não é resultado de uma conjuntura
internacional desfavorável?”
A simples
observação da imagem abaixo comprova a resposta negativa. O gráfico compara a
evolução do PIB brasileiro nos governos Dilma, Lula, FHC, Itamar e Collor,
contextualizando com o resto do mundo, os países emergentes/pobres e nossos
vizinhos latino-americanos. Eis o resultado:
Até 2013,
mesmo sem considerar o resultado pífio previsto para este ano, observamos o
crescimento mais baixo desde a Era Collor.
2 - A inflação tem sido
persistentemente alta e acima do centro da meta, de 4,5% ao ano.
Simplesmente, temos ignorado esses 4,5% e observado, de maneira sistemática,
uma inflação beirando o teto da meta.
A imagem
abaixo ilustra bem o argumento:
Mas isso
não é o pior.
As
estimativas para a inflação oficial de 2014, conforme levantamento do próprio
Banco Central junto a agentes de mercado, rondam exatamente os 6,50%, teto da
meta. E até mesmo o Relatório Trimestral de Inflação, do nosso BC, projeta
6,40% para este ano, colado nos 6,50%.
Isso é
particularmente problemático porque corremos um risco grande de estourar o
intervalo da meta, ferindo a credibilidade do Banco Central e impondo um custo
alto à sociedade.
A rigor,
em 12 meses, já estamos acima da meta. No intervalo encerrado em junho, a
inflação foi de 6,52%.
Para
2015, a situação não é muito diferente. A mediana das projeções dos economistas
também aponta inflação próxima a 6,50%.
Não custa
lembrar: o trabalhador é quem mais sente os efeitos negativos da inflação, ao
ter o poder de compra de seu salário corroído pela escalada dos preços.
Sim, há
coisas ainda mais desagradáveis a respeito da inflação. Já teríamos estourado o
teto da meta não fosse pelo controle de preços. Ou seja, estamos
artificialmente maquiando a inflação, ao represar alguns preços, com exemplos
mais claros nos setores de energia e combustíveis.
Sem
desonerações, a inflação ronda 8,50% ao ano.
O próprio
governo admite controlar preços, sem nenhum tipo de constrangimento. Em
entrevista à Folha de S. Paulo em 14 de maio, o ministro Mercadante reconheceu
que o governo controla preços de combustíveis e energia elétrica.
O
represamento de preços tem consequências conhecidas e desastrosas, como sugestão
de maior inflação futura, desalinhamento de preços relativos e destruição de
determinados setores. (...)
Quando
todos achávamos que havíamos consolidado a política de combate à inflação, passamos
a cometer erros triviais, com impactos gigantescos sobre a sociedade. Nem
sequer estamos sendo criativos. Tivemos a proeza de resgatar erros antigos e
com consequências conhecidas.
Esses
dois primeiros pontos já seriam suficientes para provarmos o argumento do quão
grave é o problema atual. Combinamos simplesmente baixíssimo crescimento
econômico e inflação alta.
Temos,
portanto, o mais negativo dos mundos, a chamada estagflação.
Mas,
calma. Há coisas graves ainda pela frente, capazes de reforçar o prognóstico de
algo simplesmente catastrófico para os próximos 12 meses. Falamos de inflação
que pode chegar a 15% ao ano, forte redução do poder de compra, aumento do
desemprego para 10% e interrupção súbita do crédito, com consequente
dificuldade das famílias em arcar com suas obrigações financeiras.
Estamos
prestes a observar concreta mudança em nosso cotidiano. Precisamos nos blindar.
(...)
3 - As contas públicas estão
completamente desajustadas, de tal sorte que o Governo brasileiro vai, em
breve, encontrar grandes dificuldades para se financiar. Ou seja, as taxas de
juro devem subir com vigor, impactando fortemente o orçamento das famílias e a
capacidade de crédito.
Não há
como brigar contra os fatos. Vemos uma clara deterioração das contas públicas brasileiras.
Nossa
economia para pagar dívida e juros, o chamado superávit primário, foi, na
média, de 3,1% do PIB no intervalo de 2001 a 2008, sem considerar aqui receita
de dividendos e concessões.
Considerando
agora o intervalo de 2009 a 2013, esse percentual caiu para 1,5% do PIB. Para
2014, devemos terminar com menos de 1% do PIB, algo que é, obviamente,
insuficiente para estabilizar dívida bruta ou líquida.
Isso sem
nenhum incremento significativo do investimento público. O que tem aumentado é
o consumo do governo – esta métrica bateu 22% do PIB, o nível mais alto da
série histórica iniciada em 1995.
Mais uma
proeza notável ao Brasil: somos um dos poucos países do mundo em que essa
variável supera o investimento.
4 - O resultado de nossas relações
com o resto do mundo, que já era péssimo, fica cada vez pior. O chamado
déficit em transações correntes, medida do saldo de nossas contas com o
exterior sem considerar as movimentações de capital, vem crescendo
sistematicamente e atinge níveis preocupantes.
Em maio,
o déficit brasileiro em conta corrente montou a US$ 6,635 bilhões, o mais alto
para um mês de maio em toda a série histórica.
O
desempenho é inclusive pior do que projetado pelo próprio BC, em US$ 6 bilhões.
Soma-se ao já delicado resultado apresentado até abril, conforme demonstrado
por gráfico abaixo:
Qual o
problema disso?
Para que
não haja saída líquida de dólares do Brasil e perda de reservas internacionais,
precisamos da entrada de moeda estrangeira por meio da conta de capital.
Por sua
vez, a conta de capital possui, grosso modo, duas subdivisões: i) Investimento
Estrangeiro Direto (IED); e ii) Investimentos de portfólio.
O ponto
nevrálgico aqui é que o IED está inferior ao déficit em conta corrente.
Portanto, para fechar nosso balanço com o resto do mundo, estamos dependendo do
investimento em portfólio, que é muito volátil e sensível à menor das mudanças
das condições da economia mundial.
Por
enquanto, com o Brasil oferecendo um juro estratosférico e os Bancos Centrais
mundiais mantendo juro zero, parece não haver grande problema.
Mas a
situação está próxima de mudar. O Banco Central norte-americano deve começar a
subir sua taxa de juro em 2015, voltando a atrair recursos para os títulos dos
EUA hoje presentes nos mercados emergentes.
Neste
momento, vai faltar dólar no Brasil. Teremos uma disparada da taxa de
câmbio, com impactos diretos sobre a inflação, sobre os importadores e sobre as
empresas com dívida em dólar.
Peço a
devida atenção a este ponto. Em resposta à crise, o Banco Central dos EUA
injetou uma quantidade cavalar de dólares no mercado. Conforme mostra o gráfico
abaixo, os ativos totais do Fed saíram de US$ 869 bilhões em agosto de 2007
para US$ 4,3 trilhões em junho de 2014.
Ou seja,
para voltar à normalidade histórica, o Banco Central norte-americano precisa
retirar cerca de US$ 3,5 trilhões do sistema. As condições de liquidez vão
mudar dramaticamente a partir de 2015.
5 - O mercado de trabalho se
enfraquece em ritmo assustador.
A criação
líquida de postos de trabalho em maio foi de 58.836, segundo dados do Caged.
Trata-se do pior mês de maio desde 1992. Estamos com novo argumento de situação
sem precedentes desde o Plano Real.
Isso não
é coincidência.
Por que o
desemprego, então, ainda não aumentou?
Simplesmente,
por uma questão de forma de se medir. Só é considerado desempregado quem está
procurando emprego, mas não encontra.
O
desemprego não aumenta simplesmente porque as pessoas têm desistido de procurar
emprego.
Tomo a
liberdade de emprestar argumento do excepcional economista Alexandre
Schwartsman para o fechamento do primeiro trimestre: a População em Idade Ativa
cresce entre 1% e 1,5% ao ano (1,3% no trimestre em questão), enquanto a
geração líquida de empregos foi próxima a zero.
Trocando
em miúdos, só há redução da taxa de desemprego porque parcela da população
simplesmente desistiu do mercado de trabalho, e não se pode atribuir o pleno
emprego à competência da gestão pública.
6 - Estamos à beira do apagão.
Os
analistas do banco Brasil Plural escreveram relatório recentemente apontando
uma pequena chance de 100% de racionamento de energia ainda em 2014. De acordo
com eles, o nível dos reservatórios chegará a 10% em novembro, a se manter o
atual ritmo.
Isso é
extremamente preocupante.
Para usar
as palavras dos próprios analistas, “há um elefante político que não pode ser
ignorado.”
Sejamos
justos aqui. Há um único culpado para o nível tão baixo dos atuais
reservatórios: São Pedro. Realmente, choveu muito pouco e ninguém detém
controle sobre isso. Ponto final.
Agora, a
falta de planejamento, a concentração da matriz energética e o impedimento ao
aumento da capacidade de oferta de energia é culpa total e irrestrita do
Governo.
Em setembro
de 2012, foi anunciada a famosa MP 579, que alterou as regras para concessões
de energia, com o objetivo de reduzir as tarifas de eletricidade – de novo, o
tal controle de preços.
A medida
destruiu a rentabilidade de empresas de energia, adicionou incerteza jurídica
ao marco regulatório do setor e, portanto, afastou iniciativas em prol de
novos investimentos.
Além
disso, desrespeitou contratos existentes.
O exemplo
de Cemig é emblemático. A companhia tinha concessões vencendo em 2015, com
renovação automática prevista para mais 20 anos, conforme definido em contrato
inicial.
Quando se
fala em renovação automática de qualquer contrato, supõe-se, obviamente,
preservação das mesmas condições iniciais.
Então,
veio a MP 579 propondo condições completamente diferentes para a renovação das
concessões, ferindo com clareza o pressuposto de “automática”.
O
resultado foi a devolução, pela Cemig, das usinas de São Simão, Jaguara e
Miranda, por não aceitar a aplicação das novas regras.
Ou há uma
nova definição para o conceito de renovação automática ou houve quebra de
contrato.
7 - A
Petrobras foi simplesmente destruída.
O gráfico
abaixo apresenta a evolução das ações da Petrobras nos últimos cinco anos. Ele
fala por si só:
De uma
máxima de R$ 40,00, as ações chegaram à mínima de R$ 12,57.
O
patrimônio nacional sendo simplesmente reduzido a 1/3 de seu valor. Quem tinha
R$ 40 mil em ações da Petrobras chegou à mínima de R$ 12.570.
Além de
ser historicamente motivo de orgulho, Petrobras tem em sua base de acionistas
milhares de brasileiros, de forma direta ou através da aplicação de seu FGTS.
Estamos
mexendo com a poupança do cidadão comum.
Chegamos
a essa situação simplesmente porque a empresa tem o preço de seus produtos
controlado pelo Governo. Quando impede-se o reajuste de preço da gasolina,
Petrobras se vê obrigada a comprar produtos por um preço superior a seu preço
de venda.
O
resultado? Queimas sucessivas de caixa, num momento em que a companhia tem um
ambicioso plano de investimento para tocar, e explosão de sua dívida líquida.
Mais uma
conquista para o Brasil: Petrobras hoje apresenta a maior dívida corporativa de
todo o mundo. A evolução abaixo resume a questão.
8. Com
inveja da Petrobras, a Eletrobras, outra estatal relevante, também foi
destruída.
Eletrobras
nunca foi exemplo de eficiência. A empresa é historicamente reduto do PMDB, possui
rentabilidade sobre o patrimônio baixa e entra em projetos ruins, para atender
anseios políticos.
Sempre
foi assim. E a empresa, de uma forma ou de outra, se virava. Mas a situação
degringolou a partir da MP 579 – a mesma que falei acima.
O gráfico
abaixo traz a trajetória das ações de Eletrobras nos últimos cinco anos. Não é
muito diferente de Petrobras:
A
situação de Eletrobras é ainda mais complicado do que aquela apresentada acima
para Cemig. A empresa também foi exposta a condições piores (e de baixíssima
rentabilidade) para renovar concessões.
Mas,
diferentemente de Cemig e de outros participantes de mercado, Eletrobras
aceitou termos que implicavam retornos negativos para determinados projetos.
Isso
porque era do interesse da União (principal acionista e que votou
proporcionalmente às suas ações em Assembleia) manter as concessões pouco
rentáveis.
A
resposta foi imediata. Suas ações simplesmente derreteram em Bolsa.
Ultrajados
com a questão, acionistas minoritários recorreram à CVM (regulador do mercado
de capitais), basicamente dizendo que a União não poderia votar na Assembleia
sobre o tema, por uma questão de conflito de interesse – o que me parece óbvio,
não é mesmo? A União propõe novos termos, que só servem a ela mesma, e vota
sobre a questão?
Assim diz
o artigo 115, parágrafo 1 da Lei das S.A.s: o acionista deve exercer o direito
de voto no interesse da companhia e será considerado voto abusivo aquele
exercido com o fim de causar dano à companhia, aos seus acionistas ou a obter
vantagem ou que possa resultar em prejuízos.
A adesão
à renovação das concessões sob os termos previstos pela MP 579 trouxe benefício
exclusivo ao controlador (o Governo) e prejuízo aos demais.
A União
reagiu ao pedido dos minoritários.
Fez uma
oferta bastante justa para compensar os danos bilionários: um evento sobre
mercado de capitais, com a presença do ministro Guido Mantega.
E o pior:
a CVM flerta com o aceite da proposta.
Pode
parecer engraçado, mas somente para quem não é acionista de Eletrobras.
A prática
inibe não somente investimentos nas ações de Eletrobras, mas também de outras
ações do setor elétrico, além de inibir a confiança de empresários no segmento.
9. A
indústria brasileira fica menor, a cada dia.
De novo,
imagens valem mais do que mil palavras:
A
produção industrial brasileira está simplesmente atônita. Isso num Governo que
supostamente tinha uma política industrial explícita.
O tal
Plano Brasil Maior, lançado em 2011, tinha objetivos muito bem definidos para
2014. Eram eles:
-
aumentar a taxa de investimento dos 18,4% vistos em 2010 para 22,4% do PIB;
- elevar
dispêndio empresarial de Pesquisa e Desenvolvimento como percentual do PIB de
0,59% para 0,90%; e
-
diversificar a pauta de exportações, aumentando a participação brasileira no
comércio internacional de 1,36% para 1,60%.
Pronto.
Chegamos em 2014, o que nos dá a prerrogativa de analisar se atingimos os
resultados.
A
conclusão é assustadora. Não cumprimos nenhum dos três objetivos.
A relação
Investimento sobre PIB não somente descumpriu a meta de 22,4%, como inclusive
caiu frente ao ponto inicial. Dos 18,4%, batemos vergonhosos 18,1%.
Sobre o
investimento em P&D, ainda não há dados muito atualizados. Mas pesquisas
feitas para 2011 apontaram uma enorme subida da razão gastos em P&D sobre
PIB de 0,49% para 0,50%. Alguém, em sã consciência, admitiria um crescimento
dessa relação para 0,90% em três anos?
A
respeito das exportações, a coisa fica ainda mais pitoresca. Não diversificamos
nossa pauta, tampouco aumentamos nossa representatividade na corrente de
comércio mundial. A participação dos produtos manufaturados nas
exportações era de 39,4% em 2010. Passou a 38,7% em 2013. Tínhamos 1,35% da
exportação mundial em 2010. Encerramos o ano passado em 1,29%.
A
política industrial é um fracasso retumbante.
O Medo é
Político Também
Os pontos
acima resumem o tamanho de nosso problema econômico. Mas ainda preciso de, ao
menos, uma menção honrosa à questão política.
Em
entrevista recente ao Valor Econômico, Armínio Fraga, ex-presidente do Banco
Central, falou assim:
“O
brasileiro gosta do seu país, gosta de morar aqui, de investir aqui. Mas o grau
de incerteza hoje é tal que as pessoas estão pensando em investir fora do
Brasil, estão pensando até em sair do Brasil. Há um medo que vai além da
economia, é medo político também. Há uma sensação de medo que as pessoas não
têm coragem de manifestar abertamente. Medo de uma atitude contra a liberdade
de imprensa, contra a democracia.”
Há razão
de ser nesse medo.
Não há
nada mais antidemocrático e desrespeitoso à democracia quanto uma lista negra
de jornalistas, a serem perseguidos pelo Estado e seus defensores.
Veja,
então, texto recente publicado no site do partido do Governo:
“Personificados
em Reinaldo Azevedo, Arnaldo Jabor, Demétrio Magnoli, Guilherme Fiúza, Augusto
Nunes, Diogo Mainardi, Lobão, Gentili, Marcelo Madureira entre outros menos
votados, suas pregações nas páginas dos veículos conservadores estimulam
setores reacionários e exclusivistas da sociedade brasileira a maldizer
os pobres e sua presença cada vez maior nos aeroportos, nos shoppings e nos
restaurantes.”
Tratam
críticos como inimigos de guerra e convocam companheiros a lutar.
Há
exemplos semelhantes na História daqueles que não respeitam a liberdade de
imprensa e querem calar as vozes dissonantes.
Em 10 de
fevereiro de 1933, Joseph Goebbels, responsável pelo marketing do Partido dos
Trabalhadores Nacional-Socialista, alertou assim: “Um dia nossa paciência vai
acabar, e calaremos esses judeus insolentes, bocas mentirosas!”
O resto
da História todo mundo conhece.
(...)
A
pergunta é: o que acontece a partir de agora?
A
metáfora com a gravidez é clássica. Não existe inflação um pouco alta. Inflação
necessariamente cresce. E deve crescer muito.
Marcio
Garcia, professor de Economia da PUC-RJ, trouxe tese semelhante em resposta ao
jornal Valor Econômico de 27 de junho: “A inflação não vai ficar parada nos 6,5%,
há uma inflação represada de 1,5 ponto percentual; os [preços] monitorados vão
ter que subir; o câmbio não pode ficar muito tempo nesse nível de R$ 2,20
porque o déficit em conta corrente continua crescendo e é elevado. Tudo isso
vai colocar pressão na inflação. Se você não tiver um BC que leve a inflação de
volta à meta, passamos por um outro regime. Um regime turco, argentino ou até
venezuelano.”
A
situação é mesmo grave.
Depois de
represar preços por dois anos, o Governo precisará soltar as amarras em
2015. Somente esse movimento, supondo uma liberação única, deve colocar a
inflação brasileira em 10% ao ano.
Mas temos
riscos ainda maiores.
O Banco
Central norte-americano deve começar a subir sua taxa básica de juro justamente
em 2015. Isso vai causar um grande retorno de recursos para os EUA, com maior
demanda por dólar.
Ou seja,
a taxa de câmbio pode caminhar rapidamente para cima. O dólar não salta
gradualmente quando se trata de valorizações. (...)
O dólar
deve bater, com margem para algo ainda mais alto, R$ 2,50.
Essa é
uma projeção conservadora e está bastante alinhada àquela prevista para 2015
pela mediana das estimativas dos economistas brasileiros, conforme o relatório
Focus, levantamento feito pelo próprio Banco Central.
Temos
dois problemas importantes derivados dessa subida de taxa de juro nos EUA.
O
primeiro é a grande dificuldade para fechar nossas contas com o exterior.
Lembre-se que estamos dependendo da conta de capitais para fechar o balanço – e
observaremos justamente fuga de capitais. Pela terceira vez, faço o alerta: vai
faltar dólar.
E o
segundo relacionado ao reforço importante ao problema da inflação, através do
famoso repasse cambial. A disparada do dólar significa aumento do preço dos
produtos transacionados no mercado internacional, os chamados tradeables. Aos
poucos, também os não tradeables, por uma questão de preços relativos, também
vão reagindo. Em certo tempo, temos uma escalada generalizada dos índices de
preços apenas por conta do efeito câmbio.
Peço a
gentileza de prestar atenção nas seguintes variações: entre maio e junho do ano
passado, o Ibovespa, nosso principal índice de 2013, caiu nada menos do que
15,12%. Em paralelo, o dólar disparou 10,69%. Em apenas dois meses.
Por que
tamanha mudança? Simplesmente porque o Banco Central dos EUA, em maio de 2013,
sinalizou que poderia, em breve, começar a reduzir seus estímulos à economia e
subir suas taxas de juro.
Uma
simples sinalização verbal foi suficiente para causar destruição de valor para
as ações brasileiras e essa valorização do dólar. Imagine quando houver, de
fato, aumento das taxas de juro nos EUA. (...)
Combinando
o repasse integral das tarifas públicas represadas e a desvalorização esperada
do câmbio, entendo que a inflação brasileira pode chegar a 12% ao ano, para
uma meta de 4,5%.
Não há
saída para uma inflação bem acima da meta. O Banco Central terá de subir a taxa
Selic. E como a diferença entre a inflação projetada e a meta é grande, o
movimento dos juros terá de ser expressivo.
Não
haveria surpresa em vermos taxa Selic de 15% ao ano.
A
implicação imediata de um juro básico desse tamanho é óbvia: recessão.
Imagino
que você entenda esse conceito.
Se o
Brasil cresce 1% ao ano com juro básico de 11% ao ano, quanto vai crescer com a
Selic a 15%?
Falamos
de estagnação da economia, queda dos salários, aumento dramático do desemprego,
esgotamento do crédito, queda vertiginosa do preços dos imóveis (muito
sensíveis às taxas de juro) e aumento do endividamento das famílias.
Tudo isso
num ambiente de inflação alta.
Já temos:
o menor crescimento econômico desde o Governo Collor, a menor criação de postos
de trabalho para um mês de maio desde 1992, o pior resultado das contas
públicas para um mês de maio de toda a série histórica e o maior déficit em
conta corrente para um mês de maio em toda a série histórica do Banco Central.
E
teremos: a maior taxa Selic desde 2006 e descumprimento da meta de inflação,
com a maior variação de preços desde 2002.
Rasgamos
o que foi construído em 1994 e aperfeiçoado em 1999, sob o pretexto de
implementação de uma nova matriz econômica, heterodoxa.
Temos um
único resultado prático: voltamos a 1993.
Se,
metaforicamente, nasce um novo País em 1994, com a estabilização da economia,
podemos dizer que a nova matriz econômica e suas consequências representam o
falecimento desse Brasil.
Morremos
aos 20 anos de idade, de forma prematura.
(...)
Um forte
abraço,
Felipe
Miranda
Sócio-fundador
da Empiricus Research
Julho de
2014
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