Pouco antes do apagar das luzes do ano de 2013, o presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves, fez uma aparição pouco iluminada em rede nacional de televisão. Usou de recursos públicos e de um recurso constitucional pouco simpático para impor sua imagem dentro da casa dos brasileiros no horário nobre. Ficou poucos minutos no ar, mas pareceu uma eternidade para aqueles que não trocaram para um canal pago ou não abandonaram o sofá. Falou sobre reforma política, um tema do tempo das tevês de válvula. Não pela inoportunidade, mas sim pela infinita discussão de seu conteúdo e pela falta de interesse real dos políticos em realizá-la. Alves prometeu que em 2014 a coisa vai. Vamos prometer que acreditamos. Talvez até fiquemos otimistas com algumas das propostas que serão colocadas em pauta e que poderiam lançar nossa jovem democracia em um novo patamar. Nenhuma delas é tão revolucionária quanto o fim do voto obrigatório.
No Brasil, cansamos de ouvir candidatos dizendo que votar é direito dos cidadãos. Apenas a lei e a burocracia – que exige comprovantes eleitorais para, por exemplo, tirar passaporte – nos lembram que se trata de um dever. Com isso, milhões de brasileiros são arrastados às urnas a cada pleito. Escolhem alguém por escolher, sem convicção do que e do por que estão fazendo. Engrossam uma massa manipulável pelas campanhas vazias. E, quase sempre, decidem eleições. O que ocorreria se votar fosse apenas um direito, como acontece em todas as outras principais democracias do mundo? Provavelmente teríamos menos eleitores dispostos a endossar um nome qualquer. No Chile, que recentemente realizou sua primeira eleição presidencial facultativa, menos de 50% dos cidadãos aptos foram às urnas. Assim, aumenta o peso de cada voto dado e, proporcionalmente, o compromisso dos eleitos com quem lhe outorgou um mandato. Quem exerceu seu direito cobrará mais, porque terá a consciência de seu ato. Os desinteressados ficarão à mercê da vontade alheia. Pelo menos até entenderem que defender suas posições não se restringe ao grito nas ruas, mas também depende de uma decisão bem pensada no processo eleitoral. São formas diferentes de se expressar em busca de seus direitos.
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