O panorama eleitoral começa a ser delineado com mais precisão, uma vez que as possibilidades de Lula ser candidato parecem ter diminuído
A análise a seguir está sujeita à observação do sábio político que dizia que “política é como nuvem: agora está de um jeito; olha-se depois e já mudou”. Ela reflete o panorama em janeiro. Resta avaliar se “as nuvens irão mudar” depois. O panorama eleitoral começa a ser delineado com mais precisão, uma vez que as possibilidades de Lula ser candidato parecem ter diminuído, ao mesmo tempo em que é quase certo que o governador Eduardo Campos se apresentará como candidato e Aécio Neves consolida seu espaço no PSDB.
Nesse xadrez, a variável chave é o caminho que vier a ser trilhado por Eduardo Campos. Ele segue os ensinamentos de Tancredo, que dizia que “um político nunca deve embarcar numa aventura, mas tem o dever de correr riscos”. A candidatura presidencial, para ele, na medida em que a insatisfação de parte da coalizão oficial com o governo se avoluma, ao mesmo tempo em que a economia demora a melhorar, deixou de se situar no terreno da “aventura” e passou a ser um “risco”, onde as chances de sucesso são incertas, mas não desprezíveis. Sua candidatura está longe da figura de o “cavalo passar selado”, mas apresenta um potencial de crescimento importante, tanto pela possibilidade de herdar os votos de Marina, como pelo discurso tendente a quebrar a polarização PSDB-PT. Não é certo que terá sucesso, mas o fato de ter uma excelente imagem como gestor — é um governador muito bem avaliado — combinado com a possibilidade de se apresentar ao eleitorado como alguém que pode ser considerado sócio do êxito das políticas implementadas no governo Lula, lhe permite ter um campo de expansão considerável. A chance de esse espaço ser ocupado dependerá da eficácia do ex-presidente Lula — na qualidade de articulador da candidatura da presidente à reeleição — na tarefa de “desidratar” a campanha de Campos, ao impedir que esta venha a ser “turbinada” pelo tempo de TV oferecido por legendas insatisfeitas do condomínio governista.
Um dado importante será o papel desempenhado pelo candidato do PSOL. Isso porque, numa eleição bastante disputada, a realização do segundo turno estará em parte condicionada pelo tamanho que alcançar a candidatura de R. Rodrigues. Além disso, cabe considerar que a perspectiva de debater com Aécio, Campos e Rodrigues será um desafio para Dilma Rousseff maior que o que ela teve que enfrentar em 2010 nos debates contra Serra, Marina e Plínio.
Nesse quadro, como se apresentam as possibilidades para Eduardo Campos e Aécio? Campos tem dois cenários pela frente, em caso de segundo turno. No caso A, ele fica em segundo lugar e, com elevadas chances de receber os votos de quem tiver votado no Aécio no primeiro, será um forte candidato no segundo turno. No cenário B, se ele ficar em terceiro, atrás de Aécio, terá o apoio disputadíssimo e o governo acenará com o convite para ocupar uma das principais pastas ministeriais em 2015. Além disso, mesmo que apoie Aécio, não é certo que seus eleitores façam o mesmo.
Há, portanto, uma assimetria entre as situações dele e de Aécio. Se Aécio ficar em segundo (cenário B), ele tenderá a se esforçar ao máximo para obter o apoio de Campos, mas enfrentará dificuldades para herdar a quase totalidade dos votos conferidos a ele, pelo fato de que muitos eleitores deste avaliam o governo positivamente e podem votar na reeleição da presidente. Já se Aécio ficar em terceiro e Campos for para o segundo turno, a transferência de votos do PSDB em favor da candidatura do PSB numa eleição polarizada deve ser, arrisco a dizer, próxima de 100%.
Teremos então uma disputa na qual os candidatos colocados em segundo e terceiro lugar nas pesquisas precisarão do apoio do outro, se houver segundo “round”, mas irão competir para saber qual dos dois terá direito de ir para uma nova eleição poucas semanas depois. Assim, Dilma lutará para vencer no primeiro turno e os partidos de oposição para chegarem em segundo e haver outra eleição. Com uma diferença: se o PSDB for para o segundo turno, ele poderá vencer, mas teremos o quarto “mano a mano” seguido (2002, 2006, 2010 e 2014) e o governo fará todo o possível para fazer o PSDB cair nas mesmas armadilhas de sempre, enquanto que, se Campos for para o segundo turno, há boas chances de ele ser o próximo presidente da República.
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