Jornalista Andrade Junior

quarta-feira, 13 de novembro de 2024

Pendurados no pincel  

  Percival Puggina


Três pilares sustentam uma construção. Quatro fazem-no ainda mais facilmente. Com apenas dois pilares só dá para fazer uma ponte ou algo com jeito de ponte. Num único pilar, pode-se colar um cartaz, apoiar as costas ou fazer alongamento de pernas.


São quatro os melhores pilares para suporte de uma boa ordem social: família, religião, escola e instituições políticas. No Brasil, há longo tempo, todas vêm sendo atacadas por grupos que agem com motivação política, ideológica, partidária e/ou econômica.


A instituição familiar tornou-se objeto de sistemática desvalorização. As uniões são instáveis e os casamentos, quando chegam a acontecer, duram, em média, 13,8 anos (em queda). Mulheres sem cônjuge são chefes de 12% das famílias brasileiras. Há um divórcio para cada dois casamentos. Vinte por cento dos casais não têm filhos. Estou falando apenas em estatísticas, sem aprofundar na análise da nebulosa qualidade dos laços e do exercício das funções parentais. É sabido, porém, que tais funções padecem na desordem dos costumes que tanto afeta a vida social nas últimas décadas. E vai-se o primeiro pilar.


A religião enfrenta notória redução de sua influência. Correntes políticas que perceberam ser impossível destruir a civilização ocidental sem revogar a influência do cristianismo atacam as religiões cristãs declarando o direito de opinião e o exercício da cidadania territórios interditos a quem tenha convicções decorrentes de fé religiosa. E o fazem em nome da laicidade do Estado. Com esse truque, reservam apenas para si o direito de opinar e intervir em relevantíssimas questões sociais e morais e encontram idiotas que julgam isso muito adequado... As mesmíssimas correntes agem de modo perversor na Igreja Católica através da Teologia da Libertação e nas evangélicas, ao que me contam, através da Teologia da Missão Integral. E vai-se o segundo pilar.


A escola e o controle das funções educacionais foram tomados por militantes mais ocupados em conquistar adeptos às causas revolucionárias do que em trabalhar talentos e habilidades para que os jovens tenham participação produtiva e ativa na vida social. Com isso, oportunidades são dissipadas pela mais rasa ignorância, nutrindo frustrações e revoltas. Professores que respondem por essa realidade reverenciam Paulo Freire e sua pedagogia do oprimido que outra coisa não é senão a definitiva opressão pela pedagogia. Outro dia, um conhecido me contava de certo jovem seu parente que, aos 18 anos, sem ser imbecil, egresso do sistema de ensino, não sabia os meses do ano. Isso é opressão. E vai-se o terceiro pilar.


As instituições políticas afundam no bioma pantanoso da corrupção e do descrédito. Não apenas pesam dolorosamente nos ombros magros de uma sociedade empobrecida. Fazem questão, por palavras e obras, de deixar claro o quanto os píncaros dos três poderes existem para reciprocamente se protegerem. Vai-se, então, o quarto pilar. E ficamos, todos os demais brasileiros, pendurados no pincel.






















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