Carlos Junior
Findado o primeiro turno das eleições municipais, alguns fatos são patentes e merecem maiores considerações. São eles:
I. Como esperado, o estamento burocrático saiu como vencedor primordial mais uma vez. PSD e MDB lideram o ranking de prefeitos eleitos. Não é para menos: além da tradicional hegemonia advinda das elites locais obtida pelo poder financeiro – que faz total diferença nas querelas municipais –, o ambiente marcado pelo cerco aos outsiders – como foi com Pablo Marçal na eleição em São Paulo – favoreceu lideranças e legendas já tarimbadas. O PSD de Kassab lembra muito o antigo partido de Juscelino Kubistchek, fiel representante das oligarquias regionais. Já o MDB experimenta uma crescente após o turbilhão da Lava Jato e a diminuição da sua bancada na Câmara dos Deputados. Ambos triunfaram indiscutivelmente.
II. O Partido Liberal obteve um bom desempenho. Além de aumentar o número de prefeitos, irá ao segundo turno com candidaturas competitivas em várias capitais. Misturando figuras experientes e lideranças identificadas com a direita, tal agremiação conta com um fato óbvio e muitas vezes ignorado por marqueteiros incompetentes: a maioria da população brasileira é conservadora. Como dizia Olavo de Carvalho, a primeira candidatura presidencial que fosse verdadeiramente direitista lograria êxito – Jair Bolsonaro provou isso em 2018, apesar das suas decisões controversas a colocarem em xeque seu direitismo. Tanto é assim que, onde o PL colocou-se como opção conservadora, conquistou bons resultados.
III. O PT aumentou o seu quadro de prefeitos, mas sofreu derrotas impactantes. O exemplo maior é o da minha cidade: Teresina. A minha amada capital nunca elegeu um mandatário petista, mas a probabilidade era real. Um arco de alianças em torno de Fábio Novo – o candidato escolhido pela agremiação vermelha – foi montado e a sua candidatura era altamente competitiva. Pois bem, a resposta veio nas urnas: derrota em primeiro turno para Sílvio Mendes (UNIÃO). Além de Teresina, o partido levou verdadeiras sovas em outras capitais e cidades grandes. O PT é muito dependente do presidente Lula, sem novas lideranças e com um quadro desafiador para os próximos pleitos. O sinal já foi dado.
IV. Para quem apostava num declínio definitivo do Partido Novo, as eleições municipais revelaram o exato oposto: de 1 prefeito, 1 vice-prefeito e 29 vereadores eleitos em 2020, a agremiação saltou para 18 prefeitos, 33 vice-prefeitos e 263 vereadores – isso apenas no primeiro turno. O NOVO não é dono do liberalismo, mas é inegavelmente o seu maior bastião. Num país marcado pelo fisiologismo, troca de favores e relações espúrias, contar com um partido que não se rende ao corriqueiro jogo do establishment é uma luz no fim do túnel. O NOVO deu mostras de maturidade política. A nova façanha do ex-presidente da legenda João Amoêdo, felizmente afastado, foi declarar apoio a Tabata Amaral na eleição paulistana. Eis o liberal puro-sangue de alguns.
Tais constatações apontam para um cenário mais esperançoso para as forças direitistas em 2026. O Brasil que saiu das urnas é um país mais conservador, e, embora com inegável timidez, mais adepto ao programa liberal. É um alento frente ao desgoverno petista e sua tragédia megalomaníaca nas contas públicas – Galípolo assume o Banco Central no próximo ano, apertem os cintos. Quando o desânimo bate e eu penso em desistir de tudo, lembro que, contra todas as possibilidades, a Argentina elegeu um libertário – o país que fez tudo errado desde Perón e tinha um candidato esquerdista que recebeu ajuda nada secreta da China e do governo Lula. Se até os nossos hermanos aprenderam, por que não os nossos compatriotas?
Não posso deixar de tecer comentários acerca do ativismo judicial imperioso e asfixiante. É o maior e mais urgente dos nossos problemas. De nada adianta eleger um parlamento com maioria direitista e suas leis caírem pela canetada de um dos onze togados. Pois bem, lideranças conservadoras a nível municipal servem de base para futuros deputados e senadores. O Senado é a Casa Alta, responsável pela análise dos pedidos de impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal. O bom desempenho da direita também traz boas perspectivas para as eleições de 2026 no Legislativo, com destaque para o Senado. Destituir um juiz da Suprema Corte é um remédio amargo, mas parece ser necessário. O STF passou de todos os limites do desrespeito à lei e ao devido processo legal, principalmente na figura do sr. Alexandre de Moraes. Alegar a defesa da democracia ao destruir seus pilares mais fundamentais – principalmente a liberdade de expressão e o direito a um julgamento justo e imparcial – é o métier dos supremos togados.
Por fim, a esquerda foi derrotada, mas não totalmente vencida. Ela ainda é uma força política poderosa e absolutamente hegemônica na grande mídia, no sistema educacional, no show business e na cultura. Para além da mera disputa eleitoral, a querela no campo das ideias é mais profunda e ampla. Antonio Gramsci ensinou que o poder conquistado após o estabelecimento da hegemonia é total e absoluto, pois o controle é exercido pela força e pelo consentimento. Tomar o poder através da mera ocupação de cargos eletivos não é garantia de muita coisa e o fiasco do ex-presidente Bolsonaro ao buscar a reeleição – entre tantos motivos – exemplifica isso de forma inconteste.
Como diria Magalhães Pinto, política é como nuvem: você olha e ela está de um jeito, olha de novo e ela já mudou. Utilizei tal enunciado no começo do texto que fiz sobre as eleições municipais de 2020, uma querela totalmente atípica. O que se vê agora é um quadro diferente – e o lendário político mineiro tem razão.
publicadaemhttps://www.institutoliberal.org.br/blog/politica/fatos-e-analises-das-eleicoes-municipais/
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