Conrado Abreu Instituto Liberal
De acordo com a Agência Internacional de Energia (IEA), organização ligada à OCDE, a energia limpa (nuclear mais renováveis) foi responsável por 10% do crescimento econômico global em 2023. Em valores brutos, isso significa uma adição de 320 bilhões de dólares à economia global. Para se ter uma noção do tamanho desse número, ele equivale à economia da República Checa e é maior que toda a indústria aeroespacial.
Para chegar em tal número, a IEA analisou três categorias ligadas à energia limpa:
- Fabricação e venda de dispositivos ligados ao setor, como painéis fotovoltaicos, turbinas para energia eólica, baterias de armazenamento etc. (Categoria 1)
- Instalações de usinas ligadas à energia limpa, como novas fazendas solares e reatores nucleares, que tÊm como objetivo aumentar a capacidade de geração. (Categoria 2)
- Vendas de equipamentos que não consomem combustíveis fósseis, como carros elétricos (Categoria 3).
Nos EUA, que são a maior economia do mundo, o crescimento do PIB ano passado foi de 2,5%, dos quais 6% vieram da energia limpa. Um dos principais fatores foi o político: o Inflation Reduction Act e a Bipartisan Infrastructure Law (Lei de Redução da Inflação e a Lei Bipartidária de Infraestruturas em tradução livre) impulsionaram um aumento no investimento na produção de energia renovável. Além disso, as vendas de veículos elétricos também cresceram substancialmente. Para critério de comparação, a energia limpa contribuiu tanto quanto a inteligência artificial para o crescimento do PIB americano.
Na China, o setor foi responsável por um quinto do crescimento de 5,2% do PIB chinês em 2023. Houve forte crescimento nas três categorias, sendo o aumento de instalações ligadas à energia limpa a principal, seguido pela venda de veículos elétricos. Apesar de a primeira categoria (fabricação e venda de dispositivos) ter ficado em último, vale lembrar que cerca de 80% dos painéis solares do mundo são produzidos no gigante asiático.
A Índia teve o maior crescimento econômico do mundo no ano passado – 7,7% do PIB, com a energia limpa sendo responsável por quase 5% deste total. A maior parte da expansão veio de investimentos que visavam a aumentar a capacidade de produção de energia solar. Cerca de 13% da energia gerada do país vem do modal solar – praticamente o mesmo que no Brasil. Há também no país diversas políticas públicas em marcha para aumentar a fabricação de dispositivos de produção energética e reduzir as importações (Production Linked Incentive).
Porém, o local onde a energia limpa mais se destacou foi a União Europeia. Apesar do baixo crescimento do bloco – apenas 0,5% – a energia limpa foi responsável por um terço da expansão econômica dos países europeus. As ambiciosas metas da UE em direção da descarbonização fizeram com que a geração de energia limpa mais que dobrasse entre 2022 e 2023.
Uma das descobertas da IEA é que, enquanto a China ainda lidera na confecção de dispositivos de geração limpa, outras regiões estão aumentando sua capacidade de produção energética “carbon-free“. Se, por um lado, pode ser problemático que a fabricação de painéis solares esteja toda concentrada em um só país, por outro, isso gera ganhos de escala que barateiam o custo dos equipamentos, facilitando a implementação de novas usinas solares.
O setor de energia limpa também impulsionou uma parte considerável da expansão de investimentos nessas quatro regiões. Na China, ele foi responsável por 50% do aumento do valor investido, enquanto, nos EUA, esse número foi de 20%. No mundo inteiro, a IEA estima que cerca de 200 bilhões de dólares foram destinados à fabricação de dispositivos de produção de energia limpa (categoria 1) – um aumento de 75% em relação a 2022. Isso é comparável com o total investido na produção de semicondutores, que cresceu de 170 bilhões para 250 bilhões entre os anos de 22 e 23.
Além de reduzir a dependência de petróleo estrangeiro e poluição no meio ambiente, a transição energética em direção à descarbonização também gera empregos. Segundo a IEA, 36 milhões de trabalhadores estão empregados nas cadeias de produção da energia limpa e, de acordo com um estudo da USP, cerca de 1 milhão desses empregos estão no Brasil.
É inegável o quão impactante é a geração de riqueza em torno da energia limpa. À medida que as transições energéticas avançam, a importância da energia limpa para as economias de todo o mundo deverá aumentar ainda mais. Infelizmente o Brasil tem mostrado certa timidez neste setor. Apesar das nossas vantagens naturais, como, por exemplo, nossa forte incidência solar, cerca de 40% da nossa energia ainda vem de combustíveis fósseis. É preciso acelerar nossa transição energética, não apenas pelo meio ambiente, mas para que não fiquemos a mercê de “choques de petróleo” ao redor do Globo.
*Conrado Abreu é formado pela UFMG e ex-aluno de mestrado da Fundação Dom Cabral. É um dos fundadores da MaxMilhas e atualmente trabalha no ramo de energia. Administra a página no X (ex-Twitter) @azpowerenergia onde publica notícias, informações e opiniões sobre o setor energético.
publicadaemhttps://www.institutoliberal.org.br/blog/economia/energia-limpa-turbina-o-crescimento-economico-de-2023/
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