Percival Puggina
Recebi do movimento “Cuba Decide”, que faz oposição ao regime cubano, um comunicando sobre sua presença e manifestação perante o Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, em Genebra. A líder do movimento e sua fundadora é a jovem Rosa María Payá, filha do herói e mártir cubano Oswaldo Payá, que tive a honra e o privilégio de conhecer pessoalmente e com ele jantar na sigilosa quietude de um pequeno restaurante de Havana em 2003.
Naquela ocasião, cumprindo as instruções de meu convidado, enquanto o seguia à distância rumo ao ponto de encontro sob a fina garoa de uma noite escura, senti-me como se estivesse num filme de suspense sobre a Alemanha Oriental em tempos de guerra fria. Nove anos mais tarde, Payá morreu num suspeitíssimo acidente quando o carro em que viajava foi abalroado na estrada por um veículo oficial do governo e jogado contra uma árvore.
Em seu pronunciamento, Rosa María solicitou a expulsão do regime cubano daquele Conselho. O chefe da delegação reagiu ofendendo a conterrânea e a ONU Watch, organização que integra o órgão e lhe concedeu a palavra para se manifestar.
Além de denunciar as execuções extrajudiciais, como o assassinato de seu pai, ela apontou a existência de mais de mil cubanos vivendo na condição de presos políticos. Parte deles, em decorrência das manifestações pacíficas do dia 11 de julho de 2021.
Ao encerrar sua manifestação, a líder do movimento Cuba Decide apelou aos presentes:
“Instamos o Conselho a exigir que os líderes cubanos se submetam à vontade soberana dos cidadãos. Para tal, instamos a comunidade internacional a exigir que Cuba liberte os presos políticos, respeite todas as garantias eleitorais e os direitos humanos fundamentais e promova um plebiscito vinculativo para mudar o sistema e iniciar a transição para a democracia. É hora de ficar ao lado do povo cubano e expulsar deste Conselho a sua ditadura”.
Enquanto lia a conclamação da filha do estimado Oswaldo Payá, pensava no Brasil e me lembrava do sentimento que sempre me sobrevinha quando, compadecido daquele povo, embarcava para retornar ao Brasil. “Felizmente, volto ao meu país. Lá as coisas não são assim!” ...
Pois agora, também por aqui, as coisas são assim. Se somarmos todos os brasileiros efetivamente presos ou contidos por tornozeleiras, temos um número bem maior de presos políticos do que o encarniçado regime cubano... Convenhamos, é uma proeza e tanto.
publicadaemhttps://puggina.org/artigo/a-oposicao-cubana-e-a-brasileira__17983
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