Jornalista Andrade Junior

terça-feira, 25 de julho de 2023

'O populismo penal de Lula',

 editorial do Estadão Em nome da democracia, Lula propõe punitivismo autoritário e debocha do princípio da presunção de inocência. É o oportunismo irresponsável de sempre, que só alimenta o retrocesso


Deveria ser ponto pacífico, fora de discussão. Os ataques e as ameaças contra o regime democrático brasileiro, cometidos nos últimos anos e que culminaram no 8 de Janeiro, demandam especial senso de responsabilidade de todas as autoridades. São tempos de acirramento político-ideológico, de esgarçamento do tecido social e de profunda incompreensão sobre o exercício das liberdades individuais. Há quem confunda, por exemplo, liberdade de opinião com direito de agredir os outros. 

Tais circunstâncias exigem maturidade, firmeza e equilíbrio de todos os Poderes. Não é hora de atiçar os ânimos, mas de aplicar isenta e imparcialmente a lei.

No entanto, o governo Lula tem-se mostrado alheio a esse primário dever de responsabilidade. Em vez de fortalecer a democracia, aproveita-se das circunstâncias atuais para difundir um perigoso e disfuncional populismo, que distorce o sistema de Justiça e ignora as garantias constitucionais mais básicas. 

Eis a ironia: o governo Lula, que se diz progressista, promove um incontestável retrocesso civilizatório. O governo federal debocha da inteligência alheia. Apresentado na sexta-feira passada, o “Pacote da Democracia”, com propostas de alteração da lei penal, poderia ter saído da pasta da Justiça chefiada pelo ex-juiz Sérgio Moro. A mentalidade constante no documento elaborado pelo governo Lula é a mesma que se viu durante todo o governo Bolsonaro. Enxerga a criminalidade no País como consequência de uma suposta legislação branda, que precisaria ser urgentemente enrijecida.

É desolador. No momento em que a democracia mais precisa de proteção operativa e eficaz, o governo federal recorre a velhas fórmulas que manifestamente têm fracassado na proteção dos bens jurídicos. Aumento desproporcional de pena, inclusão de novos crimes hediondos e fortalecimento dos poderes de ofício ao juiz – nada disso proporciona a  proteção prometida.

O tal “Pacote da Democracia” assusta, mas sua resposta autoritária não é fenômeno isolado. O destempero e o desequilíbrio têm sido constantes, por exemplo, no falatório de Lula sobre o caso envolvendo o ministro Alexandre de Moraes em Roma. No domingo, Lula voltou ao tema. Além de chamar de “canalha” o suposto autor de uma agressão ainda não provada, o presidente da República que foi eleito pregando a união nacional disse que é preciso derrotar os bolsonaristas e generalizou: “Os malucos estão na rua, ofendendo pessoas, xingando pessoas como aconteceu esses dias com Alexandre de Moraes”.

Não se defende a democracia com agressões ao princípio da presunção de inocência, tampouco com a criminalização indiscriminada dos apoiadores de determinada corrente política. Essas práticas não condizem com o Estado Democrático de Direito, sempre plural e cuja defesa requer temperança e responsabilidade.

O Congresso tem o dever de rejeitar o populismo penal de Lula que, sob pretexto de reduzir a criminalidade, desequilibra ainda mais o sistema de Justiça. Afinal, Lula derrotou Jair Bolsonaro nas urnas com a promessa de fazer diferente. Não foi para criar novas penas de 40 anos ou para agredir opositores com discursos irresponsáveis.



Estadão
























PUBLICADAEMhttp://rota2014.blogspot.com/2023/07/o-populismo-penal-de-lula-editorial-do.html

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