Vandré Kramer, Gazeta do Povo
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está trazendo uma sensação decididamente "retrô" ao governo, afirma reportagem publicada pelo jornal britânico “Financial Times" nesta quarta, reproduzida no Brasil pelo “Valor”. Exemplos disso, segundo o FT, são desde uma estratégia setorial baseada em subsídios e em impulsionar a indústria até uma política externa que reafirma a posição do Brasil de nenhum alinhamento a bloco internacional.
“Muitas das políticas que distinguiram o governo trouxeram ecos de uma era passada, segundo críticos que defendem uma abordagem mais moderna”, destacou o FT.
Uma das críticas é às tentativas do governo de impulsionar a indústria, um setor que vem perdendo força desde 1985. Em vez de atacar as raízes do declínio industrial como os baixos níveis de educação, a logística cara e a burocracia pesada, Brasília concentra esforços na distribuição de benefícios, segundo o texto.
Um dos exemplos citados são os R$ 650 milhões em subsídios para estimular a venda de 125 mil carros populares. O anuncio coincidiu com um momento de paralisação de atividades por parte das montadoras.
Outro exemplo destacado foi a proposta de o governo direcionar US$ 20 bilhões nos próximos quatro anos para fortalecer a atividade industrial, com foco no apoio à "inclusão socioeconômica e na promoção de bons empregos e salários".
Sérgio Werlang, professor da Fundação Getulio Vargas e ex-diretor do Banco Central, enfatiza na reportagem que essa mentalidade é típica dos anos 1970, quando a indústria tinha um papel relevante na economia. “Agora não, o mundo tem se orientado para os serviços”, disse.
O FT lembra também que muitos dos que estavam ao lado de Lula, enquanto ativista sindical nos anos 1970 e 1980, ainda têm um papel influente. É o caso de Aloizio Mercadante, um dos fundadores do PT e nomeado presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A instituição é uma das líderes da iniciativa de “neoindustriazação” do governo Lula.
Outro foco da “mentalidade retrô” do governo está na política externa, disse Bruno Carazza, professor da Fundação Dom Cabral (FDC), ao FT. Isto é mais evidente, segundo ele, com a perspectiva de Guerra Fria de Lula a respeito da invasão da Ucrânia pela Rússia.
“Enquanto enfatiza o status não alinhado do Brasil, Lula diz que a Ucrânia tem tanta responsabilidade quanto a Rússia pelo conflito e crítica o líder ucraniano Volodymyr Zelenski por querer a guerra”, destaca Carazza.
"Financial Times" vê Haddad como exceção à "cartilha retrô" de Lula
O texto do Financial Times afirma que uma "notável exceção" à agenda retrô de Lula é o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que tem encontrado um equilíbrio delicado para conciliar interesses do PT com as demandas do mercado por reformas e disciplina fiscal.
Um dos pontos fortes dele, segundo a reportagem, é a ajuda na condução da reforma tributária. “A reforma, que, segundo projeções, impulsionaria o crescimento de longo prazo até 2,4%, chega em meio a um panorama cada vez mais otimista para a economia, com as previsões de expansão do PIB tendo sido incrementadas para 2,2%”, cita a reportagem.
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