Luan Sperandio
O comportamento financeiro da maioria dos brasileiros se assemelha ao de uma pessoa tentando perder peso. É comum que muitas pessoas com sobrepeso comecem a praticar exercícios físicos regularmente e reduzam a ingestão de calorias ao iniciar uma dieta. No entanto, depois de perder alguns quilos, elas acabam retornando ao peso inicial por perderem o controle novamente e voltarem aos mesmos hábitos antigos, sem efetuar mudanças sustentáveis ao longo do tempo. Isso é conhecido como o efeito sanfona.
Infelizmente, a vida financeira de uma grande parcela da população brasileira segue um padrão semelhante. Se o limite do cartão de crédito foi ultrapassado este mês, as pessoas economizam nos meses seguintes para pagar as dívidas parceladas, fazem horas extras no trabalho e/ou procuram empregos adicionais para aumentar temporariamente a receita e equilibrar as contas. No entanto, logo após esse período, novas dívidas são contraídas, e o ciclo recomeça.
No efeito sanfona financeiro, os recursos eventualmente acumulados são gastos a curto e médio prazo, sem planejamento ou consistência com relação ao futuro. Na prática, de acordo com um levantamento da fintech Acordo Certo, sete em cada dez brasileiros não conseguem economizar dinheiro algum.
Mesmo quando conseguem economizar alguma reserva por um ou mais meses, em algum momento a falta de controle e os antigos hábitos fazem com que essa reserva seja consumida, e se retorna ao ponto de partida. Isso é semelhante ao efeito sanfona de uma pessoa que está sempre em dieta, mas nunca consegue emagrecer.
Enquanto no efeito sanfona a saúde física e mental não é plenamente alcançada, quando ocorre na vida financeira, a saúde financeira jamais é alcançada. E, pior ainda, as principais vantagens de acumular patrimônio, como segurança, realização de grandes sonhos e fazer o dinheiro trabalhar para você, nunca são alcançadas nesse cenário.
Assim como as pessoas inventam desculpas para não se exercitarem, alegando falta de tempo devido ao trabalho e à família, falta de recursos para frequentar academia, se alimentar de forma saudável com acompanhamento profissional ou investir em suplementos, as desculpas também estão presentes na vida financeira.
“Não sei investir”, “não tenho renda suficiente para isso”, “investir é coisa de rico”, “não tenho recursos para adquirir cursos, livros ou seguir recomendações de carteiras de investimento”… essas desculpas são muito comuns e transferem a responsabilidade que deveria ser individual.
Apesar das desigualdades de oportunidades e renda entre a população, o controle das próprias finanças é algo que deveria ser praticado em qualquer classe social. Além disso, não é verdade que apenas as pessoas mais abastadas sabem lidar com suas finanças. No final de 2022, 80,3% das famílias com renda de até dez salários mínimos estavam endividadas, de acordo com a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), o maior patamar registrado até então.
Ter noções básicas de finanças pessoais é essencial para que um indivíduo e sua família prosperem. Atualmente, existem muitos conteúdos de qualidade, gratuitos e acessíveis com apenas alguns toques no celular, além de bons profissionais que podem ajudar. Assim como uma pessoa que sofre do efeito sanfona não consegue ser saudável de forma completa, alguém que apresenta sinais do efeito sanfona financeiro não consegue alcançar todo o potencial de seu patrimônio. Fazer desculpas não mudará esse cenário. Dar desculpas não lhe fará mudar esse jogo.
*Luan Sperandio – Associado III do Instituto Líderes do Amanhã.
publicadaemhttps://www.institutoliberal.org.br/blog/teoria-economica/efeito-sanfona-financeiro-dos-brasileiros/
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