Jornalista Andrade Junior

quarta-feira, 6 de abril de 2022

O impacto do uso de máscaras na comunicação das crianças

 'Durante a alfabetização a professora usa muito a pista visual', diz especialista 

Rute Moraes

Durante a pandemia de covid-19, muitos hábitos foram incorporados à vida cotidiana: o distanciamento social, a lavagem constante de mãos, a utilização de álcool gel e, talvez, o uso do acessório mais simbólico desta crise sanitária — as máscaras.

Mas será que crescer em meio a adultos com máscaras pode ter atrapalhado o desenvolvimento das crianças? Nesses dois anos, brotaram preocupações sobre o efeito do uso do equipamento de proteção no aprendizado de bebês e crianças.

O rosto é uma fonte rica de sinais sociais, emocionais e linguísticos. A junção de todas as expressões faciais é fundamental para que a comunicação não seja falha, fazendo com que cada um leia e entenda os sinais do outro. 

Segundo um estudo realizado na França, as máscaras podem interferir no aprendizado da linguagem, na emoção e na sociabilidade infantil. Porém, estudos sobre esse tema ainda são escassos. 

Em 17 de março, o governo do Estado de São Paulo decretou o fim da obrigatoriedade do uso de máscaras em ambientes fechados — o que inclui as escolas — porém cada instituição tem autonomia para decidir se deve continuar com o uso.

O que dizem os especialistas

A Academia de Pediatria Americana não recomendou o uso de máscaras em crianças com menos de 2 anos. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária seguiu o mesmo caminho, ao contraindicar o uso de máscaras para crianças na mesma faixa de idade.

Segundo a fonoaudióloga Elisabete Giusti, especialista em desenvolvimento da linguagem, a recomendação fez todo sentido. “Nessa idade, a visualização dos movimentos faciais e a tentativa de imitá-los são essenciais para as crianças de até dois anos.”

A especialista alerta que o impacto gerado pelo uso de máscaras na vida das crianças maiores de 2 anos depende de muitos fatores. 

Bruna Boskovic é mãe de Joaquim Boskovic de 5 anos. Ela conta que o filho se desenvolvia muito bem antes da pandemia. “Tenho três filhos, e o Joaquim, o mais novo, estava se desenvolvendo muito em relação à idade”, disse a mãe. 

“Quando a pandemia começou, ele foi para o maternal 1, para o maternal 2, e agora com 5 anos vemos a dificuldade dele na fala.” Bruna ressalta que, em breve, a criança irá passar por um fonoaudiólogo para acompanhamento na fala.

De acordo com Elisabete, é preciso analisar se a criança tem o desenvolvimento atípico ou se já tinha certa dificuldade na fala, sem levar em conta a pandemia. Para ela, o contato com os pais também é primordial.

“Existem crianças que, em casa, os pais compensam. Eles leem um livro, cantam, brincam; essas crianças não tiveram tanto impacto pois, mesmo perdendo o contato externo, em casa isso é compensado”.

A especialista chama a atenção para um grupo de crianças que de fato podem ter sido impactadas. “Se essa outra criança já tem predisposição para ter dificuldades na fala, e em casa o ambiente familiar tem pouco estímulo, sem dúvidas ela foi impactada”, alerta.

Luciana é mãe de João, 6 anos, que está no 2° ano do ensino fundamental. Ela conta que o filho foi alfabetizado durante a pandemia e que percebeu certa dificuldade nesse processo. 

“Ele tem dificuldade na leitura de alguns sons como ‘v’ e  ‘f'”, disse Luciana. “Confunde as duas letras em algumas palavras, pois não enxergava a boca da professora”.

Elisabete explica que a alfabetização é um contínuo de linguagem e fala. A criança relaciona o símbolo gráfico com o som que ouve e com o movimento que representa o som. “Durante a alfabetização, a professora usa muito a pista visual”, disse a  profissional. “Ela usa o modelo do movimento com a boca para ensinar”.

Para a fonoaudióloga, quanto melhor a habilidade de fala e de linguagem, melhor é o sucesso na alfabetização, leitura e escrita. “É como se estivéssemos em uma rua que começa com sons, primeiras sílabas, palavrinhas e seguimos para a linguagem escrita.”

Como solucionar

Para recuperar esse atraso gerado pelo confinamento e uso de máscaras, Elisabete diz que será necessário um esforço conjunto. “Por parte da escola, é importante retomar a revisão do conteúdo que foi passado on-line, e, se necessário, incluir a criança no reforço.”

O papel dos pais também é primordial: “Os pais precisam acompanhar o que está sendo passado na escola e estimular a criança nas atividades”, concluiu a especialista. 









publicadaemhttps://revistaoeste.com/brasil/o-impacto-do-uso-de-mascaras-na-comunicacao-das-criancas/


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