Jorge Hernandez Fonseca
O perigo para a ditadura cubana das manifestações programadas pela oposição política cubana ao castrismo para 15 de novembro está fortemente relacionado com o contexto do que está acontecendo hoje na realidade da ilha. É verdade - como já foi escrito - que manifestações isoladas não derrubam governos e muito menos ditaduras marxistas. No entanto, essas manifestações podem criar uma dinâmica descontrolada e levar a situações próximas à derrubada de um regime ditatorial, já comprovadamente impopular.
É preciso lembrar que no contexto do castrismo há uma forte divisão na luta aberta pelo poder, criada em parte pela decisão impopular de Raúl Castro de nomear Díaz Canel como chefe do governo e do partido. A defenestração do Ministro das Forças Armadas de Castro, Leopoldo Cintras Frías, por sua oposição à nomeação de Díaz Canel, é uma grave fissura na ditadura. Assim, Díaz Canel não é “o fantoche dos militares cubanos” como se pode imaginar, ele é o fantoche da família Castro, parte da qual não se conforma em “perder” o poder com a morte de Raúl, para permanecer nas mãos de Canel.
Assim, pode-se deduzir da análise anterior que existem pelo menos dois (ou três) grupos com interesses distintos quanto ao poder, sendo que dentro da família Castro existem diferenças também relacionadas à nomeação de Canel como “líder máximo”, questionado por López Callejas e Alejandro Castro, ambos com aspirações ditatoriais. Esse aspecto ficou claro quando Carlos Lage apareceu de repente no cenário político castrista. Tudo isso, não tem relação direta com o 15 N, entretanto, configura o contexto da ditadura.
A eterna disputa entre “o povo de Fidel e o povo de Raúl” é igualmente conhecida. Também é importante para a análise a luta tradicional entre o exército cubano e a polícia política, onde esta última reina sozinha, reprimindo, aprisionando e até mesmo julgando e decidindo sentenças judiciais. Todo este contexto de divisão é o terreno fértil contextual para 15N.
Nesse cenário, a ditadura castrista não poderia permitir o desenvolvimento de manifestações populares, pois qualquer incidente repressivo poderia sair do controle e gerar a intervenção do exército a favor dos manifestantes, como já aconteceu em inúmeros casos em países submetidos ao comunismo. Manifestações populares fora do controle ditatorial, como as que aconteceriam em 15N, poderiam ser o estopim para materializar a luta dentro do partido e do governo, entre os diferentes grupos formados pela oposição à nomeação de Canel, o desacordo entre Fidel e Raúl e o desacordo entre MINIFAR (Forças Armadas) e MININT (Ministério do Interior).
Há muita rejeição dentro do exército cubano pelas ações descaradas e descontroladas da polícia política contra jovens manifestantes pacíficos. Há rejeição dentro dos setores partidários e intelectuais pró-governo pela crueldade e desânimo dos repressores, que nem obedecem às leis da ditadura. Existe um terreno fértil negativo entre os que ainda apóiam a ditadura, o que pode cristalizar a ruptura do bloco até então monolítico de apoio a uma "revolução", que já não existe há muitos anos.
*Os artigos deste autor podem ser consultados em http://www.cubalibredigital.com
publicadaemhttps://www.puggina.org/fique-sabendo-artigo/o-15-de-novembro,-no-contexto-cubano__6913
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