Jornalista Andrade Junior

sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

"A vergonha que nos enobrece",

 escreve Carlos Sampaio

“O Brasil sempre foi a casa da mãe Joana de elites sub-reptícias que fazem o que querem”. (Paulo Francis).

Em 2014, Claudia Wallin, jornalista brasileira, radicada na Suécia, mestre em Estudos sobre a Rússia pela Universidade de Birmingham, depois de uma carreira bem sucedida em vários órgãos de comunicação da Europa e do Brasil, lançou o livro “Um País sem Excelências e Mordomias”, onde retrata a Suécia e seus políticos.

Em 2018, Marajá do Sena é catalogado como o Município mais pobre do Brasil.

Em 2020, ano de pandemia e horror, o Parlamento Brasileiro, formado por 513 Deputados e 81 Senadores, que são chamados de Excelências e estavam em regime de quarentena, funcionando de portas fechadas, gastou a fábula de 5,6 bilhões de reais, segundo a revista Veja.

Cláudia Wallin, espantada e encantada com o comportamento dos políticos suecos, escreveu em seu livro que:

“Eleito o melhor ministro de finanças da Europa pelo jornal inglês Financial Times, Anders Borg vive em um apartamento de 25 m2. Deputados espremem-se em exíguos 18 m2. Não têm direito a nenhum luxo mesmo vivendo numa das nações mais ricas do planeta. E não aumentam os próprios salários. Não possuem carro oficial, motorista ou um cortejo de assessores. Andam de metrô, ônibus, bicicleta ou a pé. E correm o sério risco de caírem em desgraça – e até irem parar nas manchetes – se usarem táxi sem necessidade ou simplesmente por comprarem uma barra de chocolate com o cartão corporativo. Vereadores não têm salários. Políticos vivem em casas simples”.

Chocante e inacreditável para os padrões de um político brasileiro.

Em 2018, o “Projeto Colabora” retratava assim o Município de Marajá do Sena:

“Em Marajá do Sena, município maranhense com a pior renda no Brasil, R$ 200 é o que a dona de casa Eva Gonçalves da Silva, de 37 anos, ganha por mês lavando roupa para fora. Mãe de três filhos, de 6, 9 e 15 anos, ela vive de bicos, assim como o marido, que cava poços artesianos e “trabalha na juquira”.

Juquira é o mato que cresce no campo e que é capinado para o gado pastar. Nenhum dos dois jamais teve emprego. A única renda mensal são os R$ 165 que ganham de Bolsa-Família pelos três filhos matriculados na escola. Em alguns meses, conseguem R$ 200 extras.

“Só dá mesmo para comprar a comida”, conta Eva.

Nesses meses, a renda mensal per capita na família representa R$ 72 mensais, abaixo dos R$ 96,25 registrados em média no município, ou R$ 2,4 por dia.

O valor é menor que o recorte da linha de pobreza extrema internacional calculada pelo Banco Mundial a partir dos indicadores dos 15 países mais pobres do mundo: US$ 1,90 ou R$ 5,7 por dia”.

Claudia Wallin, com o livro “Um país sem Excelências e Mordomias”, nos mostra um outro tipo de político: um ser que ama seu país e não quer se locupletar com verbas públicas. Na Suécia, ministros, parlamentares e juízes andam de ônibus, de trem, a pé ou de bicicleta. Vereadores não recebem salários. Os 349 deputados não têm assessores pessoais pagos pelo poder público, nem dispõem de secretárias particulares, motoristas e carros oficiais ou verbas e cotas extras. Os que vêm de fora podem usar uma pequena quitinete, de 20 a 40 metros quadrados, ou alugar um apartamento e receber o reembolso até o máximo equivalente a US$ 1,2 mil. Caso leve a esposa para morar junto, só terá o reembolso da metade, pois lá é absolutamente natural que cada um pague a sua conta.

Os Senadores e Deputados brasileiros, que gastaram inacreditáveis 5,6 bilhões de reais do povo brasileiro, com o Congresso fechado em 2020 aprovaram pouco mais de 130 projetos de lei e em lives intermináveis junto com o Presidente da Câmara e do Senado, divulgaram a nação que o seu trabalho é um sacrifício que os nobres congressistas fazem pelo povo do Brasil durante a pandemia.

O Parlamento brasileiro, que nunca ouviu falar de Marajá do Sena e de sua população miserável, junto com ministros do supremo, juízes, vereadores e outros ocupantes de cargos públicos, não querem nem saber se na Suécia as autoridades NÃO RECEBEM auxílio-moradia, cotão, verba de gabinete, salários extras, auxílio saúde, se tem ou não tem carros oficiais, aposentadoria, viagens por conta do estado, congressos, motoristas particulares nada disso importa, esse comportamento não provoca descredito, nem os poderes perdem o respeito da população, pois para os magistrados os privilégios com o dinheiro público são “direito previstos em leis”. Leis criadas e mantidas por eles.

Marajá do Sena, por ironia do destino, dois anos depois, com a desgraça entrando na porta de todos os brasileiros, transformou a pandemia em uma benção, pois a injeção súbita de dinheiro em razão do auxílio emergencial de R$ 600,00, elevou a renda de 91% dos habitantes que são vulneráveis. É um dos poucos casos onde o mal traz um bem.

O Parlamento brasileiro, que gastou 5,6 bilhões com as portas fechadas, envergonha a nação e o mundo civilizado.

Cláudia Wallin nos enche de orgulho, pois mesmo longe do Brasil, preocupa-se com a nação, preocupa-se com os brasileiros.

Leia o seu livro, compare o que você lê com as “Excelências brasileiras” e sinta vergonha, ou cólera, ou amargura de viver e conviver com essas pessoas que, no fundo, são apenas o pior que a humanidade já produziu.

Feliz Ano Novo!!!






















publicadaemhttp://rota2014.blogspot.com/2021/01/a-vergonha-que-nos-enobrece-escreve.html


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