Jornalista Andrade Junior

segunda-feira, 2 de novembro de 2020

A MORTE

 MIRANDA SÁ

“Quem não sabe o que é a vida, como poderá saber o que é a morte?” (Confúcio)

Para quem já escreveu três artigos sobre a Vida e um apenas sobre a Morte, não se perturba em voltar com a morte nesta peleja dicotômica, aproveitando o terror do pesadelo de 160 mil óbitos por causa da “gripezinha”, referência dos negacionistas para a covid-19, subestimando-a por interesses políticos.

Por não crer na imortalidade e disposto a enfrentar a própria morte (que não seja sofrida, pelo amor de Deus!), sempre fui atraído por epitáfios. Já contei que ao fim do serviço militar, em 1952, ganhei uma viagem a Paris do meu pai e lá desembarcando fui direto ao cemitério Père Lachaise para ver o túmulo de Voltaire.

O filósofo dos tempos modernos que me encanta, tem na lápide sobre seu túmulo uma frase que ele mesmo redigiu: “O Homem é o único animal que sabe que vai morrer um dia. Triste destino! ”.

No sepulcro de Arquimedes – o pai da Geometria –, em Siracusa, a epígrafe não tem letras. É apenas um desenho geométrico, um quadrado inscrito num círculo.

Arquimedes foi astrônomo, engenheiro, físico, inventor e matemático; e na esteira deste gênio da humanidade, o matemático alemão Ludolf van Ceulen, radicado e falecido nos Países Baixos, pediu que no seu túmulo fosse posto apenas o “PI” grego, 3,14,16, que muitas vezes havia calculado…

Falecido a pouco, eu sugeriria que para Sean Conery, ator escocês que atuou em mais de 90 papeis no teatro e no cinema e recebeu da Rainha Elizabeth II o título de cavaleiro da Ordem Britânica, um elogio fúnebre: “Intocável”. Inspirei-me no filme de Brian de Palma “Os intocáveis”, que lhe concedeu o Oscar de 1988.

Para os curiosos, adianto-lhes que escrevo este texto no dia 2 de novembro de 2020, Dia de Finados, em que venero os meus mortos, familiares, amigos, e aos que admirei em vida, mesmo de longe.

Foi neste dia, fazem 70 anos, que faleceu outra personalidade da minha admiração, o jornalista irlandês George Bernard Shaw, também contista, dramaturgo, ensaísta e romancista.

Shaw, sempre desafiando os costumes sociais vigorantes na época, não se preocupou com louvores post-mortem. Pediu a cremação do seu cadáver e que as cinzas fossem misturadas às de sua esposa que o antecedeu na partida… O amor se impôs às celebrações póstumas.

E além da morte, a ciência também se sobrepõe às crendices e ao misticismo que vigoram desde que o homo sapiens conquistou a Terra aniquilando os neandertais… E vem demolindo a ignorância humana revelando todos os segredos universais.

Embora a idiotia ainda subsista e indivíduos incultos, mesmo com as fotografias do planeta tiradas do Cosmos, divulguem sem acanhamento, que a Terra é plana, assumindo com suas asneiras um lugar no negacionismo à Ciência.

Há também pessoas que por puro esnobismo se engajam na tolice de negar a eficácia das vacinas; e, nesse contexto, seguem desdenhando as milhões de mortes provocadas pela covid-19.

Este comportamento leva a um duplo raciocínio: ou adotam as milenares práticas chinesas de sepultar as pessoas com festa, e os carnavalescos festivais mexicanos das caveiras e esqueletos, ou levam de volta a sua ignorância para o século 19….

Lembro que mais de duzentos anos atrás o papa Pio VII, discutindo com o polivalente cientista Alexander von Humboldt, disse que os meteoritos eram pedras que caiam de uma fenda da abóboda celeste.

Esta concepção falsa e contestável era, na época, dominante no Ocidente; uma coisa que deve ser considerada insana, como é totalmente alienado negar a eficácia de uma vacina contra os vírus…













PUBLICADAEMhttps://www.mirandasa.com.br/

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