Dagoberto Lima Godoy
O Brasil vive um paradoxo gritante: cassinos seguem proibidos e o “bicho” é contravenção, mas as apostas digitais ocupam telas, camisas e estádios.
A medicina já consolidou o diagnóstico: transtorno do jogo é adição comportamental, associada a ansiedade, depressão e risco de suicídio.
Diante desse quadro, falar em “entretenimento” sem considerar o dano é mascarar o problema. Licenciar, tributar, impor salvaguardas mínimas e manter o setor operando — é incoerência e chega a hipocrisia. Quando o produto depende do prejuízo repetido de muitos — com design viciante, publicidade agressiva e acesso 24/7 — a regulação pró-mercado vira cosmética: melhora a vitrine, mas preserva o motor do dano.
Se a prioridade é saúde pública, reduza-se a oferta e a acessibilidade; se a prioridade é receita, que fique claro tratar-se de imposto sobre sofrimento — não de política social.
O caminho honesto passa pela adoção de medidas corretivas como: 1) moratória de novas licenças e forte restrição ou até suspensão da publicidade; 2) reduzir a exposição — coibir designs viciantes; cortar gatilhos de engajamento contínuo; 3) desvincular o esporte — retirar patrocínios do setor; 4) cuidar de quem sofre — linha de cuidado no SUS e apoio às famílias, com responsabilização financeira das operadoras do jogo; 5) romper a ganância fiscal — deixar de usar arrecadação do jogo como política pública.
Preservar a liberdade de um adulto fazer uma aposta não exige licenciosidade. Política séria não transforma vício em estratégia de desenvolvimento. O resto é lobby e hipocrisia da lei e da gestão governamental.
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