Jornalista Andrade Junior

sábado, 20 de setembro de 2025

'Deu no Niu Iórque Táimes'

 "Falei que o nosso povo é soberano. Que nenhum gringo se atreva a dizer o que nós temos que fazer"

Guilherme Fiuza -


— Escrevi um artigo pro New York Times. 


— Tá escrevendo em inglês agora? 


— Que inglês, ignorante! Tá maluco? 


— Mas o jornal não é americano? \


— É. Mas eles traduzem.


 — Pro inglês? 


— Não. Primeiro traduzem pro português. Depois pro inglês. 


— Muita gente envolvida, né? 


— Tudo que eu faço tem muita gente envolvida. Gosto de gente. 


— Faz muito bem. Mas o passeio em Nova York dessa vez parece que vai ser pra poucos, né? 


— Isso foi uma decisão minha. Não quero expor a minha gente aos fascistas do Norte. 


— Tá perigoso mesmo. Muita violência. Dizem até que vão combater o crime organizado aqui no Sul. 


— Bravata. Do nosso quintal cuidamos nós. 


— Escreveu isso no New York Times? 


— Claro. Falei que o nosso povo é soberano. Que nenhum gringo se atreva a dizer o que nós temos que fazer.


— Nem se for chinês?


— Chinês pode. Mas não qualquer chinês. 


— Tem que ser de confiança. 


— Você é sagaz. Exatamente isso. Confiança é tudo. 


— Por isso o companheiro Xi governa com tranquilidade. 


— Só tem gente de confiança à sua volta. 


— É questão de saber escolher.


— E de saber eliminar. 


— Como assim? 


— Esquece.

— Essa parte entrou no artigo do New York Times? 


— Não. 


— Por quê?



— Não deu tempo. 


— Eles te pressionaram pra entregar logo? 


— Até que não. Mas imagina ter que traduzir isso pro companheiro Xi? Até o pessoal dele corrigir o texto, o Trump já estaria em Roraima. 


— Depois do seu artigo matador ele não vai mais se meter com o Brasil. 


— Não mesmo. Ele entendeu direitinho o recado. A gente acaba com o dólar em dois tempos. 


— Basta infiltrar o Haddad no Federal Reserve. 


— Nada disso. Deixa o Haddad aqui que ele tá indo bem. Vai que ele toca violão na TV de lá e eles descobrem o nosso segredo? 


— A nossa arrecadação despencaria imediatamente. 


— Entendeu? E a deles subiria. Iam taxar até a Estátua da Liberdade. 


— Liberdade tem que ser taxada mesmo. 


— Ainda mais liberdade de estátua, que não serve pra nada. 


— Supérfluo. 


— Exatamente. Só que a tecnologia de taxar até pensamento é nossa. Não podemos deixar isso vazar. Segredo de Estado. 


— Seria uma ameaça à nossa soberania. 


— O Haddad é nosso! 


— Escreveu isso no New York Times?


— Nem precisou. Com o que eu botei lá o Trump já ficou p*#@to. Tá processando o jornal.


— Acho que o processo do Trump contra o NYT é por outro motivo. 


— Dane-se. Eu espalho que é por minha causa e todo mundo acredita. 


— Todo mundo acredita no que você fala. 


— Não é maravilhoso, isso? Eu sou um cara escolhido. 


— Pode dizer as maiores barbaridades que a imprensa continua puxando o seu saco. 


— Barbaridades? 


— Barbaridades no bom sentido. 


— Ah, tá. 


— E a COP30? Será que o Trump vem? 


— Convidei. 


— Ligou pra ele? 


— Não. A fila no orelhão tava grande. Mandei uma carta. 


— E se ele vier? 


— Será muito bem recebido. Já tem até faixa pra saudá-lo no aeroporto. 


— O que vai estar escrito nessa faixa? 


— Fuck you. 


— Ahahaha. Gênio!


— Não me considero um gênio. Sou só um cara esperto. 


— Oswaldo Aranha ficaria orgulhoso.


— Não me fala em picanha pelo amor de Deus.




Guilherme Fiuza - Revista Oeste




















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