Samir Keedi
Quando pensamos na economia brasileira, nos vem à mente que o Brasil é um país que já soube crescer. O que a maioria da população desconhece, pois, isso não ocorre há mais de 40 anos. E perdeu isso ao longo do tempo. Assim como perdeu muitas outras coisas. Em que podemos dizer, conforme a tradição brasileira de ter reis para tudo, que já fomos reis e perdemos a coroa.
Considerando nosso crescimento econômico de 1901 a 2022, temos números que nos orgulham. E outros que nos decepcionam, e fazem pensar o que aconteceu. Boa parte da nossa decepcionante economia atual deve-se ao petróleo. Ou a falta do petróleo, como se costumava dizer no passado.
Fato que nunca entendemos na nossa juventude, em que também passamos por lá. A Venezuela tem a maior reserva de petróleo do mundo. A Argentina produz petróleo. E o Brasil, na moratória do governo Sarney, em 1987, importava, segundo dados que conhecemos, entre 80-85% do nosso consumo.
Sempre pensamos sobre como o petróleo poderia ser tão "temperamental" (sic). Como ele poderia ser abundante na Venezuela e, ao chegar à fronteira brasileira dizer a si próprio "para o Brasil não vou". Idem o da Argentina. Difícil entender. Em especial que hoje somos auto-suficientes. Embora nem todo o nosso petróleo seja exatamente de primeira qualidade. Exportamos o nosso para importarmos um melhor, que supra nossas necessidades.
Considerando grandes períodos, temos que o Brasil já teve crescimentos grandiosos, que nos orgulham. Em que sabemos que "já fomos chineses" antes do chineses.
Entre 1901 e 1980 tivemos um crescimento considerável. De 4,9% de média ao ano, o que não é desprezível, pelo contrário. Entre 1950 e 1980 crescemos à média de 7,4% ao ano. O que consideramos um grande feito. Entre 1959 e 1980 apresentamos a extraordinária média de 8,1% ao ano.
E, a gloriosa média anual de 10,7% entre 1968 e 1974, com pico de 14% em 1973. E, mais espetacular ainda a média de 11,1% entre 1968 e 1973. O que justifica termos dito acima que já fomos chineses antes dos chineses. Que somente começaram a crescer e mudar a partir de 1978, justamente quando nós estancamos em 1980. Parece que houve uma troca. Vocês vão à procura da riqueza, e nós ficamos com a pobreza.
A partir de 1981 nossa situação econômica degringolou rapidamente. E, dissemos mais acima, que se tratava da falta de petróleo, que não cruzava a fronteira e nem sabia nadar, como sabe hoje. Em 1973 tivemos o conhecido choque do petróleo, em que o barril, de 159 litros, pulou de cerca de US$ 1.20-1.40 para cerca de US$ 12.00-14.00. Em 1979 tivemos o arrasador segundo choque, com o petróleo pulando para cerca de US$ 40.00 o barril.
Entre os dois choques do petróleo, criamos o Proálcool. Para quem não sabe, o álcool é nosso. Mas, infelizmente, não deslanchamos como deveríamos, em especial que é um combustível verde.
Não é preciso entrar em muitos detalhes para que se veja o que aconteceu conosco. Diante desses dois brutais aumentos, e nossa insignificante produção de 15-20% do que consumíamos, nossa economia disse adeus às excelentes oito décadas citadas, de 1901 a 1980.
Devido a isso, nossas divisas escassearam e, em 1987, o Presidente José Sarney declarou moratória na nossa dívida externa. Nós que éramos do comércio exterior, sofremos como nunca antes neste país. Importávamos e não tínhamos como pagar, não havia dólares. Como o câmbio era centralizado – inclusive o Banco Central fazia mini-desvalorizações diárias ao fim do dia – era necessário contratar câmbio. Nós o fazíamos e entregávamos a moeda nacional ao banco. E, quando houvesse sobras de divisas, se pagava o exportador estrangeiro. Ou seja, a priori, nossos importadores pagavam, mas o exportador não recebia.
O resultado foi o conhecido. A década de 1981 a 1990 ficou conhecida como a década perdida – e que já não é mais a campeã da nossa fragilidade econômica de 1981 a 2022. Perdeu para esta última década de 2011 a 2020. Na década de 1980 tivemos um crescimento médio de 1,66% ao ano. Na década de 1990 (1991 a 2000), nosso crescimento médio anual situou-se em 2,58%.
A década de 2000 (2001 a 2010) apresentou algo melhor. Na média anual de 4,65%. Mas, antes que se fale que os bons tempos haviam relativamente voltado, lembramos que o mundo crescia mais do que isso. Portanto, nada a comemorar, continuávamos retrocedendo economicamente perante o mundo. Devido à péssima governança que tínhamos, e a crise de 2008, iniciada nos Estados Unidos da América, a tal marolinha que, segundo o presidente da época, não atravessaria o Atlântico (sic) virou uma marolona. Conforme artigo que escrevemos à época "Marolinha ou marolona?".
A década de 2010 (2011 a 2020) nos apresentou ao submundo da economia. Tivemos dois anos seguidos de recessão, com -3,3% em cada ano de 2015 e 2016, inédito na nossa história. E, como se não bastasse, a falta de sorte da pandemia, com nova recessão, agora de -4,1% em 2020. Passando então a ser a nossa pior década, com crescimento total de 3,0%. Ou seja, média anual de 0,3%. Inimaginável e inconcebível àquele que consideramos o melhor país do mundo, fisicamente.
Temos um país maravilhoso, bonito. Situado longe das zonas tradicionais de conflitos no mundo. Cerca de 8.000 quilômetros de costa, para usar e abusar. Praias belas. Maior território agricultável do planeta. Ou da Via Láctea como costumamos brincar. Um subsolo fantástico. E, também temos sob nossos pés, cerca de 12% de toda a água doce do planeta. Uma floresta única, e na maioria esmagadora, preservada (ok Macron, Leonardo, Waters, suequinha e outros? Sol praticamente todos os dias. E muito mais. E não temos as desgraças que outros têm como terremotos, vulcões, furacões, desertos, gelos.
Então por que não somos o melhor país do mundo, economicamente e bem-estar da população brasileira? Quando honraremos o que temos e nos transformaremos no melhor do mundo efetivamente? Já perdemos uma grande oportunidade nos anos 1970-1980, quando surgiram os NICs – New Industrialized Countries. Que incluíam Hong Kong, Singapura, Taiwan e Brasil? Vejam o que aconteceu com os demais e onde ficamos estacionados. Aliás, engatando a marcha ré da Limousine ou do 747.
Nos anos 2000 vieram os Brics. E, vejam que estacionamos novamente. Parece que em todos os grupos que somos incluídos, nós sobramos. Por quê? Agora é esperar um novo grupo?
Continua... (parte 2/2)
O autor é professor universitário de pós-graduação e técnico, palestrante, bacharel em economia, mestre em administração, autor de vários livros em comércio exterior, entre eles o "ABC do comércio exterior", tradutor oficial dos Incoterms 2000 para o Brasil, representante brasileiro do grupo da ICC-Paris para revisão para os Incoterms ® 2010, e cadeira 4 da APH-Academia Paulista de História
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