O lançamento simbólico da pré-candidatura do presidente Jair Bolsonaro (PL), neste domingo (27), dá início a um movimento de reforço da Esplanada dos Ministérios. A saída de ministros vai desencadear uma abertura de cargos no primeiro e segundo escalão para indicações políticas feitas por legendas da base e por novos aliados em potencial.
Ao todo, 10 ministros deixarão seus postos e sairão candidatos a cargos eletivos. À exceção do Ministério da Defesa, chefiado por Walter Braga Netto, que deve ser confirmado vice de Bolsonaro e ser substituído pelo comandante do Exército, o general Paulo Sérgio Nogueira, é previsto que os demais ministérios terão um perfil mais político.
A nova "face" dos ministérios não perderá o perfil técnico, mas os mais diversos escalões serão substituídos por quadros que reforcem ainda mais a força política do presidente Bolsonaro. A configuração atual da Esplanada tem nomes de PP, PL e Republicanos nos principais postos. Após a reforma ministerial, partidos como PSC, PTB e Pros também devem ganhar espaços na nova composição do governo.
Para Bolsonaro vencer as eleições já no primeiro turno, o governo deverá ceder espaços a quadros políticos do PSD, MDB e União Brasil — o partido que se originou da fusão entre DEM e o PSL, antigo partido de Bolsonaro. O Palácio do Planalto trabalha com a hipótese de uma estrutura partidária de até nove partidos.
O que muda com o lançamento da pré-candidatura de Bolsonaro
A partir desta semana, uma dezena de ministros de Bolsonaro vai deixar o governo. Em muitos casos, serão substituídos por seus secretários-executivos ou por outros técnicos da pasta.
Ainda que o primeiro escalão seja composto por nomes técnicos, ocorre, no entanto, que o rearranjo da chefia dos ministérios terá o aval dos partidos políticos. E as secretarias e outros postos de segundo e terceiro escalões — e outros inferiores — devem ser ocupados por legendas aliadas.
"Dez ministros vão sair e o secretariado vai mudar. Os novos ministros vão encaminhar as mudanças", diz interlocutor do Planalto.
Os aliados da base "raiz" mais conservadora de Bolsonaro se dizem tranquilos e ponderam que, embora mais políticas, as indicações ainda terão que atender os critérios estabelecidos por Bolsonaro durante a campanha. "Terão que ser nomes técnicos. E para secretários e outros cargos é exigido pelo menos pós-graduação e doutorado", diz um assessor.
Quem articula e como estão as conversas para atrair mais partidos
A articulação política para o "novo" governo é capitaneada pelo núcleo eleitoral de Bolsonaro. Seus principais coordenadores são o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), o presidente nacional licenciado do PP e ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, e o presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto.
Os três conduzem as conversas com os partidos aliados e tentam construir uma aliança partidária robusta. Em 2018, a chapa do então presidenciável tinha nove partidos coligados: PSDB, PP, PTB, PSD, PRB (atual Republicanos), PR (atual PL), DEM (atual União Brasil), Solidariedade e PPS (atual Cidadania).
Da coligação montada em 2018, Bolsonaro conta com o apoio de PP, Republicanos e PL, e também do PTB. Os quatro partidos foram citados pelo próprio Bolsonaro neste domingo e ele ainda deixou um "entre outros" nas entrelinhas. O PSD e o União Brasil são outros partidos que apoiaram Alckmin com quem o governo dialoga.
O PSD, inclusive, pode assumir o Ministério da Agricultura com a indicação do atual secretário-executivo da pasta, Marcos Montes, ex-deputado federal filiado à sigla. A atual ministra, Tereza Cristina, vai se desincompatibilizar do cargo para a disputa do Senado em Mato Grosso do Sul pelo PP.
O núcleo eleitoral de Bolsonaro dialoga com o presidente do PSD, Gilberto Kassab, sobre o embarque formal do partido na coligação do governo. Porém, ele ainda defende o lançamento de uma candidatura de "terceira via" e tem o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), como nome favorito para ser lançado.
Kassab insiste em lançar candidatura própria porque seu partido é dividido entre quadros políticos que querem apoiar Bolsonaro e outros que apoiamo ex-presidiário Lula. Para não ter que escolher um lado já, o PSD só aceita conversar sobre um eventual apoio no segundo turno.
O União Brasil é outro partido com quem o governo pretende contar, embora também se posicione à terceira via e tenha diálogos com o MDB, o PSDB e o Cidadania para uma candidatura única de centro. No entanto, Flávio Bolsonaro mantém conversas com o vice-presidente do União Brasil, Antônio Rueda, para demover a ideia. Ambos são próximos e mantêm uma boa relação.
Para persuadir a legenda, o governo acena até mesmo com um ministério. O senador Márcio Bittar (União Brasil-AC) é um nome cotado para assumir o Ministério do Trabalho e Previdência, atualmente chefiado por Onyx Lorenzoni (PL), que vai se desincompatibilizar para disputar o governo do Rio Grande do Sul.
O governo também conversa com o ex-prefeito de Salvador, ACM Neto (União Brasil), pré-candidato ao governo da Bahia. O pré-candidato do governo no estado é o ministro da Cidadania, João Roma (PL), mas existem conversas para sair candidato ao Senado ou à Câmara a fim de ACM Neto ceder palanque para Bolsonaro.
O MDB é outro partido que o governo tenta trazer para sua coligação. Os emedebistas, inclusive, já perfilaram os primeiros escalões do Ministério da Cidadania, quando o deputado Osmar Terra (RS) era o ministro da pasta. Também existe o flerte com nomes da cúpula, a exemplo do prefeito de Duque de Caxias (RJ), Washington Reis, para que a sigla volte a ocupar espaços, embora tenham como candidata à Presidência a senadora Simone Tebet (MS).
O presidente em exercício do PSC, o ex-deputado federal Marcondes Gadelha, é outro cacique com quem o núcleo eleitoral do governo dialoga para a nova "era" do presidencialismo de coalizão da gestão Bolsonaro. Outras lideranças nacionais sondadas são o senador Fernando Collor de Mello (Pros-AL) e o presidente nacional do Pros, o perito aposentado da Polícia Civil Marcus Holanda.
Collor, por sinal, esteve no palco do evento deste domingo ao lado de Bolsonaro. O Pros também filiou a deputada federal Aline Sleutjes (PR) para lançá-la candidata ao Senado e decidiu apoiar a candidatura à reeleição do governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), que, por sua vez, servirá de palanque para Bolsonaro no estado fluminense.
O que dizem aliados sobre a nova configuração do governo
Embora boa parte desses partidos já tenham indicados políticos na Esplanada dos Ministérios, o que está previsto é a ampliação de apadrinhados e uma relação mais intrínseca entre legendas e a gestão Bolsonaro. "Veremos um governo mais robusto em termos de governança", aponta um interlocutor do Planalto.
O Republicanos, por exemplo, tinha João Roma como seu representante no primeiro escalão do governo. Contudo, a cúpula do partido não o indicou para o Ministério da Cidadania. Na nova fase da gestão Bolsonaro, a legenda fechou um acordo para indicar o sucessor da ministra Damares Alves no Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos.
O deputado federal Aluísio Mendes (PSC-MA), vice-líder do governo na Câmara, confirma que são esperadas mudanças nessa nova etapa do governo. "É óbvio que muda, vai haver uma reengenharia da composição dos cargos a serem ocupados. A gente ganha eleição administrando com aliados, e vamos para a eleição com aliados", afirma à Gazeta do Povo. "A partir do momento da definição da pré-candidatura do presidente, vai haver reacomodação da Esplanada e de outros cargos com os partidos que irão caminhar juntos", acrescenta.
Partidos que fazem parte da base e que estão com candidatos que, hoje, não são os apoiados pelo presidente, podem vir a ser apoiados por Bolsonaro em meio aos debates sobre os arranjos eleitorais nos estados, analisa Mendes. "Agora, essa definição sobre a reengenharia da Esplanada vai acontecer posterior a 2 de abril, quando se fecha e, principalmente, com os anúncios das pré-candidaturas que se colocam", pondera.
O MDB e o PSD, por exemplo, são partidos com aspirações eleitorais à Presidência da República com quem a coordenação eleitoral conversa. Portanto, a acomodação de espaços para eles poderia depender da definição de suas pré-candidaturas, analisa Mendes. "Essa engenharia e reacomodação vai surgir quando os partidos apresentarem qual caminho vão seguir", diz.
O vice-líder do PSC confirma que seu partido conversa com o governo sobre uma aliança eleitoral após a bancada votar e autorizar Marcondes Gadelha a conversar com os coordenadores eleitorais de Bolsonaro. "Existe entendimento de quase totalidade de fazer coligação nacional e as conversas são tratadas em nível da presidência do partido e não há nada fechado. Mas a possibilidade do partido caminhar com o presidente e coligação é quase 100%", diz Mendes. "Já somos um dos partidos da base, o que mais vota as matérias do governo com uma fidelidade de quase 100%", complementa.
Já o deputado federal Lucio Mosquini (MDB-RO), vice-líder do governo na Câmara, não acredita que o partido vai aderir à aliança eleitoral de Bolsonaro. "Eu não conheço nada neste sentido, lógico que temos relação de amizade e proximidade, mas por parte do governo eu nunca ouvi nada disso", afirma.
O parlamentar confirma que há um grupo do MDB mais à centro-direita com um alinhamento mais próximo do governo, que inclui deputados como ele, Osmar Terra, Alceu Moreira (RS) e Rogério Peninha Mendonça (SC). "A gente tem essa linha de pensamento, mas até que a Simone Tebet seja candidata, não vejo nenhum movimento do partido nesse sentido [de apoiar Bolsonaro]", explica.
Para Mosquini, a candidatura de Tebet é irrevogável. "Ela vai até o fim, até por uma questão de demarcação de candidatura, algo que é legítimo e desejável pelo próprio partido, o que não inviabiliza no meu caso, por exemplo, em um segundo turno, caminhar 100% com o presidente [Bolsonaro]", diz o vice-líder do governo, que é pré-candidato ao Senado e foi sondado para compor chapa com o senador Marcos Rogério (PL-RO), aliado de Bolsonaro pré-candidato ao governo de Rondônia.
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Com informações de Rodolfo Costa, Gazeta do Povo
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