Márcio de Carvalho Damin
“Uma vida não examinada não é digna de ser vivida”. (Sócrates)
Analisando as situações que vivo, aqueles que me cercam e o mundo no entorno, percebo nitidamente a confusão das pessoas perante a realidade. Não só da realidade política caótica em que o Brasil chafurda, mas a realidade das almas mesmas que estão inseridas neste contexto.
Pequeno exemplo. Ao assistir um vídeo em que cachaça era oferecida a cinco reais para os viciados da ‘’cracolândia’’ na cidade de São Paulo, me peguei a pensar sobre o mundo em que vivemos. Monta-se uma pequena tenda onde se vende pinga a seres que há muito tempo se tornaram escravos das drogas para lhes adicionar outro tipo de entorpecente. Os “comerciantes” que servem a bebida não avaliam a moralidade de sua ação. Não há explicação lógica para isso, exceto o embate entre o bem e o mal.
O problema maior que vejo é a interação dos pecados com a personalidade das pessoas de uma maneira harmônica. O cidadão imagina, por exemplo, que o lugar onde nasceu o faz superior a outros seres humanos, ou decide que sua conta bancária é a prova cabal de sua superioridade moral perante aqueles com menor poder econômico. No momento mesmo em que essas ideias surgem na cabeça do indivíduo elas ainda não fazem parte da personalidade, elas ainda não se mesclaram ao ser de forma peremptória. Todavia, ao não rechaçar de prontidão esses pensamentos que surgem para desviar o foco do individuo do supremo bem, que é o amor e por consequência o próprio Deus, o que surge na consciência como espúrio a natureza do ser vai gradualmente se mesclando a ele e, de modo triste e nefasto, convencendo-o de sua veracidade.
A santa missa nos diz claramente, no ato penitencial, para nos arrependermos dos ‘’pensamentos e palavras, atos e omissões’’, mas o que ocorre com a alma que se funde ao seu pecado de maneira a não mais percebê-lo? O que ocorre quando uma personalidade se deforma a tal ponto de não discernir mais o que é ela mesma e o que é o erro em sua vida?
Com alguma ironia eu poderia responder “bem, você se torna um político”. Mas é o que percebo, infelizmente, num grande número de pessoas com quem convivo. Já não há mais exame de consciência, tudo é relativo e por consequência permitido. E, se permitido é, a personalidade pode se amoldar a tudo de ruim que um dia pululou na mente não vigilante de uma inerme vítima de uma sociedade doente.
Os dramas de consciência que atormentaram os seres humanos ao longo dos séculos já não mais existem, e, como escreveu Sócrates “uma vida não examinada não é digna de ser vivida”.
Quando o amor e a verdade, e o amor à verdade se perdem numa busca de uma falsa sensação de paz e felicidade, tanto no indivíduo quanto na sociedade em geral o que se vê é uma lenta derrocada, uma desumanização, uma animalização do ser e do ambiente que o cerca.
Oro muito pela conversão das pessoas que me cercam, mas reconheço que tenho orado pouco pelas pessoas que não conheço, pelo nosso país e pelo mundo. Eis algo de que minha consciência me acusa neste exato momento.
* Márcio de Carvalho Damin é Músico
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